(HOJE EM DIA)
Nosso casamento não desmoronou. Não ruiu de súbito, tem sido um processo muito mais lento.
Ele vem se desgastando, digamos assim,não sei nem quem é o culpado. Começamos bem, mais confiantes que a maioria,tenho certeza disso.
Mas ao longo dos últimos anos, vacilamos, o mais perturbador é o quanto somos talentosos em fingir que nada mudou,não tocamos no assunto.
Somos parecidos em muitas coisas, uma delas é a nossa habilidade em evitar as coisas que mais precisam de atenção.
Em nossa defesa, é difícil admitir que um casamento possa ter acabado quando ainda existe amor,as pessoas acreditam que um casamento só termina quando não há mais amor. Quando a raiva suplanta a felicidade, Quando o desdém substitui a alegria.Mas Patrick e eu não estamos zangados um com o outro, apenas não somos mais as pessoas que costumávamos ser, nem sempre as mudanças se refletem no casamento, porque, às vezes, os casais se movem juntos, na mesma direção,mas em outras, as pessoas tomam direções opostas.
Já faz tanto tempo que estou voltada na direção contrária à de Patrick que nem me lembro de seu olhar quando ele está dentro de mim,mas ele com certeza memorizou cada fio de cabelo da minha nuca após as inúmeras vezes que lhe dei as costas à noite.
Nem sempre as pessoas têm controle sobre o poder autotransformador das circunstâncias.
Olho para minha aliança de casamento e mexo nela com o polegar, girando-a em um círculo contínuo ao redor do dedo, quando Patrick a comprou, disse que o joalheiro lhe explicou que a aliança é um símbolo do amor eterno.Um laço infinito, o começo se torna o meio, e jamais deveria existir um fim.
Mas o joalheiro nunca disse, em nenhum momento, que o anel simbolizava eterna felicidade,apenas eterno amor, o problema? Amor e felicidade não são coincidentes.Um pode existir sem o outro,observo meu anel, minha mão, a caixa de madeira que estou segurando, quando do nada,Patrick pergunta:
N/A : no decorrer da fic, vocês vão saber o que essa caixa significa.
— O que você está fazendo?—
Levanto a cabeça devagar, apesar da surpresa que sua súbita aparição no corredor me causou,ele já havia tirado a gravata e aberto os três primeiros botões da camisa,agora está apoiado no batente da porta, a curiosidade fazendo-o franzir o cenho enquanto me encara. Sua presença preenche o quarto.
Eu apenas o preencho com minha ausência.Mesmo o conhecendo por tanto tempo, Patrick ainda guarda um certo ar de mistério, transbordando dos olhos claros e permeando todos os pensamentos jamais verbalizados. Sua quietude foi o que me atraiu quando nos conhecemos. Fez com que eu me sentisse em paz.
Engraçado como essa mesma quietude me deixa tensa agora.
Nem tento esconder a caixa pequena de madeira em minhas mãos. É muito tarde,ele a observa intensamente.Desvio o olhar para ela,estava guardada no sótão, intocada, quase esquecida, eu a encontrei hoje, enquanto procurava meu vestido de casamento. Só queria ver se ainda cabia em mim. Sim, cabe, mas agora minha imagem parece bem diferente de sete anos atrás.
Parece mais solitária.
Patrick avança alguns passos para dentro do quarto. Posso ver o medo contido em sua expressão conforme ele olha da caixa de madeira para mim, esperando que eu explique por que a estou segurando. Por que está no quarto, por que sequer decidi tirá-la do sótão.
Não sei o porquê. Mas tê-la em mãos é uma decisão consciente, então não posso responder com um inocente "Eu não sei".
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(im)perfeições
FanfictionO casamento é tudo o que sonhavam, a parceria perfeita. Mesmo nos momentos difíceis, sabem que podem contar com o outro. Nenhum deles desiste do amor que sentem. Até que a primeira nota dissonante abala a sinfonia do casal. Até que Ellen parece esta...