capítulo 23

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(ANTES)

É nossa última noite na casa de praia. Voltamos para Connecticut pela manhã. Patrick tem uma reunião amanhã à tarde.

Tenho que lavar roupa antes de voltar ao trabalho, na terça-feira. Nenhum dos dois está pronto para ir embora ainda. Tem sido tranquilo e perfeito, e já estou ansiosa para voltar aqui com ele. Nem me importo se tiver que puxar o saco de minha mãe por um mês inteiro para planejar nossa próxima escapada.

É um preço que estou disposta a pagar por outro fim de semana de perfeição.
Está um pouco mais frio esta noite que nas últimas duas que passamos aqui, mas gosto disso. Liguei o aquecedor da casa no máximo. Congelamos nossa bunda por horas perto da braseira, então nos aconchegamos na cama para descongelar.

É uma rotina da qual jamais me cansaria.

Acabei de preparar duas canecas de chocolate quente para nós. Eu as levo para fora e entrego uma para Patrick, depois me sento ao seu lado.

— Ok — diz ele— Próxima pergunta.

Hoje de manhã, Patrick descobriu que, embora eu ame observar as ondas, na verdade jamais coloquei o pé no oceano. Ele passou a maior parte do dia
tentando descobrir outras coisas que não sabia sobre mim. Agora, virou um jogo e estamos alternando perguntas, querendo descobrir tudo o que há para se descobrir sobre o outro.

Na primeira noite que passamos juntos, ele mencionou que não discutia religião ou política. Mas já faz seis meses e estou curiosa para saber suas opiniões.

— Ainda nem conversamos sobre religião — argumento. — Ou política Ainda são tópicos proibidos?.

Patrick encosta a borda da xícara nos lábios e suga um marshmallow.

— O que quer saber?.

— Você é Republicano ou Democrata?.
Ele nem mesmo hesita.

— Nenhum dos dois. Não suporto os radicais em ambos os lados, então acho que sou de centro.

— Então você é uma dessas pessoas.
Ele inclina a cabeça.

— Que pessoas?.

— O tipo que finge concordar com qualquer opinião para ficar em paz—
Patrick arqueia uma sobrancelha.

— Ah, eu tenho opiniões, Ellen.
Bem fortes.

Encolho as pernas e as ajeito sob o corpo, encarando-o.

— Quero ouvir suas opiniões.

— O que quer saber?.

— Tudo. — Eu o desafio. — Sua posição em relação ao controle de armas, Imigração, Aborto. Tudo isso.

Amo a empolgação em seu rosto, como se ele estivesse se preparando para uma palestra. É adorável como uma palestra tem o poder de animá-lo.
Ele pousa a caneca de chocolate quente na mesa ao seu lado.

— Ok... Vamos ver. Não acho que devemos privar o cidadão do direito de ter uma arma. Mas penso que deveria ser uma dificuldade enorme colocar as mãos em uma. Acredito que as mulheres deveriam decidir o que fazer com seu corpo, desde que seja no primeiro trimestre ou quando se trata de uma urgência médica. Acho os programas de governo absolutamente necessários, mas também acho que um processo mais sistemático precisa ser posto em prática, algo que encoraje as pessoas a deixar o assistencialismo, em vez de continuar a viver da assistência social. Acho que devemos abrir as fronteiras para imigrantes, desde que se legalizem e paguem impostos. Cuidados de saúde básicos deveriam ser um direito humano fundamental, não um luxo que somente os ricos podem pagar. Penso que empréstimos estudantis deveriam ser automaticamente aprovados e, então, quitados à prestação, em um período de vinte anos. Acho que atletas recebem salários altos demais, professores são mal remunerados, a NASA é subfinanciada, a maconha deveria ser legalizada, as pessoas deveriam ser livres para amar quem quisessem e o Wi-Fi deveria ser acessível e gratuito para todos. — Quando termina, calmamente estende a mão para sua caneca de chocolate quente e a leva de novo à boca. — Você ainda me ama?.

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