capítulo 18

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(AGORA)


Não sei se Patrick dormiu no quarto de hóspedes ou no sofá na noite passada, mas, independentemente de onde tenha sido, duvido que tenha conseguido dormir.

Tentei imaginá-lo com seus olhos tristes, as mãos no cabelo. De vez em quando, me sentia mal por ele, mas então tentava imaginar como seria a tal Julie. Como ela pareceria através do olhar triste de meu marido enquanto ele a beijava.

Eu me pergunto se Julie sabe que Patrick é casado. Eu me pergunto se ela sabe que ele tem uma mulher em casa que é incapaz de engravidar. Uma mulher que passou a noite e o dia inteiro trancada no quarto. Uma mulher que enfim saiu da cama por tempo o bastante para arrumar a mala. Uma mulher que está... acabada.

Quero já ter ido embora quando Patrick voltar para casa.
Ainda não liguei para minha mãe para contar que vou passar um tempo com ela. Definitivamente, nem vou ligar. Vou apenas aparecer. Temo esse confronto com tanta intensidade que protelo ao máximo a conversa com mamãe.

“Eu avisei”, ela vai dizer.
“Você devia ter se casado com Andrew”, vai dizer. “Todos traem em algum momento, Ellen. Pelo menos, Andrew teria sido um traidor rico.”

Destranco a porta do quarto e sigo até a sala de estar. O carro de Patrick não está na garagem. Perambulo pela casa para ver se tem alguma coisa que queira levar comigo. Isso me lembra de quando tirei todos os vestígios de Andrew de meu apartamento. Não queria nada que tivesse a ver com ele. Nem mesmo as recordações.

Vasculho minha casa enquanto meus olhos assimilam todas as coisas que Patrick e eu acumulamos por anos. Nem mesmo saberia por onde começar se eu quisesse levar alguma coisa. Então não começo por lugar algum. Só preciso de roupas.

Quando volto ao quarto, fecho o zíper da mala. Eu a arrasto da cama, e meus olhos encontram a caixa de madeira na prateleira do fundo da estante. Imediatamente, caminho até o móvel e pego a caixa, depois a levo até a cama. Forço a fechadura, mas ela não cede.

Eu me lembro de que Patrick prendeu a chave à madeira, para que nunca a perdêssemos. Viro a caixa e enfio a unha debaixo da fita adesiva. Acho que enfim vou descobrir o que tem ali dentro, afinal de contas.

— Ellen. 

Levo um susto quando ouço sua voz. Mas não o encaro. Não consigo olhar para ele agora. Mantenho o olhar baixo e termino de desprender a fita até soltar a chave.

— Ellen. — A voz de Patrick transborda de pânico. Congelo, esperando que diga seja lá o que precisa dizer. Ele entra no quarto e se senta ao meu lado na cama. Suas mãos se fecham sobre a minha, que segura a chave. — Eu fiz a pior coisa que poderia ter feito com você. Mas, por favor, me dê uma chance para me redimir antes de abrir isso
Posso sentir a chave na palma de minha mão.

Que ele fique com ela.
Pego sua mão e a viro. Coloco a chave em sua palma e, em seguida, fecho seus dedos em punho. Eu o encaro.

— Não vou abrir a caixa. Mas é só porque não dou mais a mínima para que merda tem aí dentro.

Nem ao menos me lembro da dor que sinto enquanto deixo minha casa e dirijo, mas agora estou parada na entrada da garagem de minha mãe.
Eu admiro a enorme casa, em estilo vitoriano, que significa mais para minha mãe que qualquer coisa fora dessas paredes. Incluindo a mim.

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