(AGORA)
Apesar de Patrick sempre voltar para casa cheirando a cerveja nas noites de quinta, nunca o vi, de fato, bêbado. Acho que prefere não tomar mais que uma ou duas cervejas por vez, porque ainda se sente culpado pela perda do amigo, Tanner, há muitos anos. A sensação de embriaguez provavelmente o lembra da própria angústia.
Do mesmo modo que o sexo me lembra de minha angústia.
Eu me pergunto por que ele está angustiado esta noite.
É a primeira vez que precisa ser trazido em casa por um colega de trabalho em uma quinta-feira à noite.Observo da janela enquanto Patrick tropeça na direção da porta da frente, um dos braços jogado ao acaso em volta do sujeito que está tentando fazê-lo chegar ao lar.
Caminho até a entrada e destranco e abro a porta. Patrick ergue os olhos e me lança um sorriso largo.— Ellen!
Ele acena para mim voltando a cabeça na direção do amigo ao seu lado.
— Ellen, esse é meu bom amigo, Morris. Ele é meu bom amigo.Morris assente, constrangido.— Obrigada por trazê-lo para casa — agradeço, então estendo a mão e ajudo Patrick a se separar do amigo, colocando seu braço em meus ombros. — Onde está o carro dele?—
Morris aponta por cima do ombro com o polegar no momento que o carro de Patrick é estacionado na entrada da garagem.Outro colega de trabalho de Patrick salta do carro. Eu o reconheço do escritório. Acho que se chama Bradley.
Bradley caminha até a porta da frente enquanto Patrick coloca os dois braços ao meu redor, transferindo ainda mais peso para mim. Bradley me passa as chaves e ri.— É a primeira vez que conseguimos fazê-lo beber mais de duas cervejas — explica ele, indicando Patrick com a cabeça. — Ele é bom em muitas coisas, mas não tem resistência ao álcool—
Morris dá uma risada.Os dois se despedem com um aceno e seguem para o carro de Morris. Entro em casa com Patrick e fecho a porta.
— Eu ia pegar um táxi — balbucia Patrick.
Ele me solta e caminha até a sala de estar, desabando no sofá. Eu riria e acharia a situação engraçada se não estivesse tão preocupada com a possibilidade de que o motivo que o levou a beber tanto essa noite tenha algo a ver com quanto estava chateado depois de segurar o sobrinho recém-nascido no colo. Ou talvez fossem as mágoas de nosso casamento que quisesse afogar.
Vou até a cozinha para pegar um copo de água para ele. Quando volto à sala, Patrick está sentado ereto no sofá. Eu lhe estendo o copo, assimilando como seus olhos parecem diferentes. Ele está sorrindo para mim enquanto toma um gole. Não parecia tão feliz há muito tempo. Vê-lo bêbado faz com que eu me dê conta de como parece triste quando está sóbrio. Não percebi que sua tristeza o consumia ainda mais que de costume. É provável que eu não tenha notado porque a tristeza é como uma teia de aranha. Você não a vê até ser capturado por ela e então precisa lutar para se libertar.
Eu me pergunto há quanto tempo Patrick vem tentando se libertar. Parei de lutar havia anos. Apenas deixo a teia me consumir.
— Ellen — diz ele, deixando a cabeça cair no sofá. — Você é bonita pra caralho. — Seus olhos devoram meu corpo, então param na minha mão. Ele envolve meu punho em seus dedos e me puxa para si. Estou tensa. Não me rendo. Queria que ele estivesse bêbado o bastante para desmaiar no sofá. Em vez disso, está bêbado apenas o suficiente para esquecer que não tomou a iniciativa desde aquela noite em que dormiu no quarto de hóspedes. Está bêbado apenas o bastante para fingir que não temos discutido tanto quanto temos feito.
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(im)perfeições
FanfictionO casamento é tudo o que sonhavam, a parceria perfeita. Mesmo nos momentos difíceis, sabem que podem contar com o outro. Nenhum deles desiste do amor que sentem. Até que a primeira nota dissonante abala a sinfonia do casal. Até que Ellen parece esta...