capítulo 10

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(AGORA)

— Mais dois batons — avisa wendy. Ela desliza o batom muito vermelho sobre meu lábio superior, mas sai tanto da linha que o sinto tocar o nariz.

— Você é muito boa nisso — elogio, rindo.

Estamos na casa dos pais de Patrick para um jantar em família. Patrick está no chão, brincando com lizzie, a filha de 5 anos de sua irmã Sther. Wendy, com 3 anos, está no sofá, me maquiando. Os pais dele estão na cozinha, preparando a comida.

É assim que passamos a maioria dos domingos. Sempre gostei desses domingos, mas, ultimamente, eles se tornaram meus dias favoritos no mês. Não sei por que as coisas são mais fáceis aqui, comigo cercada pela família de Patrick, mas são. É mais fácil sorrir. É mais fácil parecer feliz. É mais fácil até mesmo deixar Patrick me amar.

Percebi que há uma diferença no modo como o trato em público e como o trato em nossa casa. Em casa, quando estamos somente os dois, sou mais reservada. Evito seu toque e seu beijo porque, no passado, essas coisas sempre acabavam em sexo. E agora tenho tanto medo de sexo, que também temo as coisas que levam a ele.
Mas, quando estamos assim, quando sua afeição não leva a nada, anseio por isso. Gosto quando me toca. Quando me beija. Amo me aconchegar a ele no sofá. Não sei se nota a diferença em meu comportamento. Se sim, não deixa transparecer.

— Terminei — anuncia wendy. Ela se atrapalha tampando o batom que acabou de passar em meus lábios. Eu o pego de sua mão e a ajudo a fechá-lo.
Patrick me encara do chão.

— Cacete, Ellen! Quer dizer...
caramba—
Sorrio para Wendy

— Você me deixou bonita?—
Ela começa a dar risadinhas.
Vou até o banheiro e dou risada quando me vejo no espelho.
Estou convencida de que inventaram a sombra azul apenas para esse propósito.

Para que crianças de 3 anos as usem em adultos.
Estou lavando o rosto quando Patrick  entra no banheiro. Ele me observa no espelho e faz uma careta.

— O quê? Não gostou?—
Ele beija meu ombro.

— Você está linda, Ellen. Sempre—
Termino de limpar o rosto, mas os lábios de Patrick não abandonam meu ombro. Ele deixa um rastro de pequenos beijos em meu pescoço. Saber que aquele beijo não vai levar a
sexoesperançaangústia
me faz aproveitá-lo mais que se estivesse acontecendo no banheiro de nossa casa.

Isso é tão perturbador. Não entendo como as ações de Patrick  podem me despertar diferentes reações, dependendo do contexto. Mas, no momento, não vou questionar nada, porque ele parece não questionar nada. Parece estar aproveitando.
Ele continua atrás de mim, me pressionando contra a pia enquanto sua mão passeia por meu quadril e alcança a frente de minha coxa.
Seguro a pia e o observo pelo espelho. Patrick ergue os olhos e encara meu reflexo enquanto segura a barra do vestido e vai subindo os dedos por minhas coxas.

Faz um mês e meio desde a última vez que tomou a iniciativa. Nosso maior hiato. Sei, pelo modo como as coisas terminaram em nossa última transa, que estava aguardando que eu começasse as coisas. Mas não o fiz.
Já passou tanto tempo desde que me tocou que minha reação parece intensificada.
Fecho os olhos quando sua mão invade minha calcinha. Estou arrepiada dos pés à cabeça, e saber que aquilo não pode ir muito longe me faz querer Patrick, sua boca e suas mãos por todo o meu corpo.

A porta está aberta, e alguém pode cruzar o corredor a qualquer momento, mas isso apenas colabora a ideia de que a sessão de amasso vai acabar em um segundo. Motivo pelo qual minha mente me permite aproveitar o momento ao máximo.
Ele me invade com um dedo e desliza o polegar em minha intimidade, e é o prazer mais intenso que seu toque me proporcionou
em mais de um ano. Minha cabeça pende para trás, encostando em
seu ombro, e ele guia minha boca em direção à sua. Gemo no instante em que seus lábios cobrem os meus. Patrick me beija com fome e impaciência, como se estivesse desesperado para extrair o máximo possível do momento antes que eu
O afaste.
E continua me beijando com urgência por todo o tempo que me toca. Me beija até que eu goze, e, enquanto soluço e tremo em seus braços, ainda não para de me beijar e de me tocar antes que o momento passe completamente.
Sem pressa, tira a mão da calcinha, mergulhando a língua em minha boca uma vez mais. Então se afasta, e agarro a pia a minha frente, respirando com dificuldade. Ele beija meu ombro, sorrindo ao sair do banheiro, rindo como se tivesse acabado de conquistar o mundo.

Levo vários minutos para me recompor. Eu me certifico de que meu rosto não está mais ruborizado antes de voltar à sala de estar. Patrick está deitado no sofá, assistindo à televisão. Abre espaço para mim, me puxando para perto. De vez em quando, me beija ou eu o beijo, e tudo parece igual a antes. E finjo que está tudo bem.
Finjo que qualquer outro dia da semana é como os domingos na casa dos pais de Patrick. É como se todo o restante desaparecesse quando estamos aqui, e somos somente eu e Patrick sem sombra de fracasso.

Depois do jantar, Patrick e eu nos oferecemos para lavar a louça. Ele liga o rádio, e nos encostamos à pia juntos. Eu lavo, ele seca. Ele fala do trabalho, eu escuto.
Quando começa a tocar uma música do Ed Sheeran, minhas mãos estão cobertas de espuma, mas Patrick me puxa para perto mesmo assim e começa a dançar comigo. Nós nos agarramos um ao outro e mal nos movemos enquanto dançamos, seus braços ao redor de minha cintura, os meus em volta de seu pescoço. Sua testa está colada à minha, e, embora saiba que ele está me observando, mantenho os olhos fechados e finjo que somos perfeitos. Dançamos sozinhos até que a música chegue ao fim, mas Sther entra na cozinha e nos flagra.

Seu terceiro filho deve nascer em poucas semanas. Ela segura um prato de papelão com uma das mãos, e a outra repousa na lombar. Revira os olhos com a cena.

— Nem posso imaginar como vocês são quando estão sozinhos se parecem um polvo em público. — Ela joga o prato na lata de lixo e se dirige para a sala. — Devem ser o típico casal irritante, que transa duas vezes ao dia—

Quando a porta da cozinha se fecha, ficamos sozinhos, a música acaba, e Patrick me encara. Sei que o comentário de sua irmã o fez refletir sobre meus sentimentos. Sinto que ele quer me perguntar por que amo tanto seu toque em público, mas o rechaço em privado.

Mas ele não toca no assunto e me dá uma toalha para secar as mãos.

— Está pronta para irmos embora?—
Assinto com a cabeça, mas também percebo que está prestes a começar... A tensão crescente na boca do estômago. A preocupação de que ser carinhosa com ele na casa de sua mãe o faça acreditar que quero sua atenção em casa.

Eu me sinto a pior esposa do mundo. Não faço isso por falta de amor. Mas talvez, se houvesse alguma forma de demonstrar melhor meu amor, eu não o faria.

Mesmo sabendo como sou injusta, isso não me impede de mentir para ele no caminho de casa.

— Acho que estou começando a ter uma enxaqueca — digo, encostando a testa no vidro da janela do lado do passageiro de nosso carro.

Quando entramos em casa, Patrick me diz para deitar e descansar um pouco. Cinco minutos depois, ele me traz um copo de água e uma aspirina. Apaga a luz e sai do quarto, e choro porque odeio no que transformei esse casamento.

O coração de meu marido é minha salvação, mas seu toque se tornou um inimigo 

Continua...

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