capítulo 25

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(ANTES)

Não me lembro de ter achado os planos de meu casamento com Andrew tão estressantes.
Talvez tenha sido porque deixei minha mãe assumir as rédeas naquela época e tinha muito pouco a ver com o planejamento em si.

Mas dessa vez é diferente. Quero decidir com Patrick o sabor do bolo. Quero decidir com Patrick quem vamos convidar, onde vai ser e a que hora do dia desejamos nos unir pelo resto de nossas vidas. Mas minha mãe não para de tomar decisões que não quero que ela tome, não importa quantas vezes já tenha lhe pedido que pare.

“Só quero que tudo saia perfeito, Ellemn”, argumenta ela.

“Patrick não pode pagar por isso, então só estou tentando ajudar”, diz ela.

“Não se esqueça de assinar um acordo pré-nupcial”, lembra ela.

“Nunca se sabe se seu padrasto vai deixar alguma coisa para você”, comenta ela.

“Melhor proteger seus bens.”

Ela diz coisas que me fazem pensar se, para minha mãe, o casamento nada mais é que um empréstimo, não um compromisso de amor. Ela insiste tanto na ideia de um acordo pré-nupcial, mas se esquece de que, na atual situação, não tenho bens para proteger. Além do mais, sei que Patrick não está se casando comigo pelo dinheiro ou pelas propriedades que meu padrasto pode ou não me deixar um dia. Patrick se casaria comigo mesmo que eu estivesse enterrada até o pescoço em dívidas.
Começo a me arrepender da ideia de um casamento sofisticado.

Até compartilharia minha frustração com Patrick, mas, se fizesse isso, teria que contar por que minha mãe está me enlouquecendo. A última coisa que quero é compartilhar com Patrick toda a hipocrisia que minha mãe fala sobre ele.

Olho para meu celular enquanto outra mensagem de minha mãe aparece na tela.

Você devia repensar a ideia de buffet, Ellen. Evelyn Bradbury contratou um chef exclusivo para o casamento dela e foi tão mais elegante.

Reviro os olhos e coloco o celular com o display para baixo evitando ser incomodada por suas mensagens.
Ouço a porta da frente do apartamento se fechar, então pego a escova. Finjo que estou apenas penteando o cabelo, e não emburrada, quando Patrick entra. Apenas sua aparição já me acalma. Minha frustração some e é substituída por um sorriso. Patrick me abraça por trás e beija meu pescoço.

— Oi, linda. — Ele ri para meu reflexo no espelho.

— Oi, lindo.

Ele me vira e me dá um beijo ainda mais gostoso.

— Como foi seu dia?.

— Bom. E o seu?.

— Bom.

Eu me desvencilho de Patrick porque ele está me encarando com muita intensidade e posso, acidentalmente, deixar transparecer minhas verdadeiras emoções, e então ele vai me perguntar o que há de errado, e eu vou ter que contar a ele o quanto o casamento está me estressando.

Eu me viro para o espelho, torcendo para que vá até a sala ou a cozinha ou qualquer lugar de onde não possa me encarar como está fazendo neste exato momento.

— O que está incomodando você?.
Às vezes odeio o quanto ele me conhece.

Exceto quando transamos. É bem conveniente durante o sexo.

— Por que você não pode ser indiferente ao estado emocional feminino como a maioria dos homens?.

Ele sorri e me puxa para si.

— Se eu fosse indiferente a seu estado emocional, eu seria tão-somente um homem apaixonado. Mas sou mais que isso. Sou sua alma gêmea e
posso sentir tudo o que você está sentindo. — Ele pousa os
lábios em minha testa. — Por que está triste, Ellen?—

Suspiro, exasperada.

— Minha mãe. — Ele me solta, então caminho até o quarto e sento na cama. Deito de costas e fico olhando para o teto. — Ela está tentando transformar nosso casamento no casamento que tinha planejado para mim e Andrew. Nem me pergunta o que quero, Patrick. Só toma as decisões e depois me comunica.

Patrick sobe na cama e se deita ao meu lado, apoiando a cabeça sobre o cotovelo. Ele descansa a outra mão em minha barriga.

— Ontem, ela me contou que reservou o Douglas Whimberly Plaza para a data de nosso casamento. Ela nem me pergunta o que quero, mas, como está pagando, acha que isso dá a ela o direito de tomar todas as decisões. Hoje, ela me mandou uma
mensagem, dizendo que encomendou os convites—
Patrick faz uma careta.

— Isso significa que vai ter a palavra prestigioso em nosso convite de casamento?.

Eu dou uma risada.

— Ficaria mais
chocada se não tivesse—
Minha cabeça pende para o lado, e conjuro minha expressão mais patética, quase um beicinho. — Não quero um casamento grandioso, em um hotel de luxo, com todas as amigas de minha mãe.

— O que você quer?.

— A essa altura, não sei nem se quero um casamento. — Patrick inclina a cabeça, um pouco preocupado com meu comentário. Eu o retifico rapidamente — Não é que não queira me casar com você. Apenas não quero casar com você no casamento dos sonhos de minha mãe.

Patrick abre um sorriso reconfortante.

— Só faz três meses que estamos noivos. Ainda faltam cinco meses até o dia do casamento. Tempo mais que suficiente para você deixar clara sua posição e ter certeza de conseguir o que quer. Se for mais fácil, ponha a culpa em mim. Diga a ela que não concordei com nada, e ela pode me odiar por arruinar seu casamento
dos sonhos enquanto mantenho a paz entre vocês—

Por que ele é tão perfeito?

— Não se importa mesmo que eu ponha a culpa em você? —Ele ri.

— Ellen, sua mãe já me odeia. Isso vai dar a ela um motivo a mais para esse ódio, então todo mundo
sai ganhando—Ele se levanta e tira os sapatos. — Vamos sair hoje à noite?.

— Você decide. Chy e Eric compraram uma luta no Pay-Per-View e nos convidaram.

Patrick desfaz o nó da gravata.

— Parece divertido. Preciso responder alguns e-mails, mas fico pronto em uma hora.

Eu o observo sair do quarto. Deito de novo na cama e sorrio, porque tenho a impressão de que ele acaba de encontrar, em menos de dois minutos, uma solução para algumas de minhas questões. Mas, mesmo que a solução pareça boa — apenas coloque a culpa de tudo em Patrick —, minha mãe nunca vai morder a isca.

Ela vai apenas frisar que Patrick não está pagando pelo casamento, então Patrick não tem direito de opinar.
Mas ainda assim. Ele tentou achar uma solução. É o que conta, certo? Estava disposto a levar a culpa por algo só para manter a paz entre minha mãe e eu.
Mal posso acreditar que vou me casar com esse homem daqui a cinco meses. Mal posso acreditar que vou passar o resto da vida com ele. Mesmo que essa vida com ele comece no Douglas Whimberly Plaza, cercada por pessoas que mal conheço e comida extremamente cara, sinônimo de bandejas cheias de carne crua e ceviche que, na verdade, ninguém gosta de comer, mas finge que sim, porque é chique.

Ah, bem. O casamento pode não ser o ideal, mas o que são algumas horas de sofrimento em troca de uma vida de perfeição?

Eu me arrasto para fora da cama, comprometida em, seja como for, me manter sã pelos próximos cinco meses.

Passo a meia hora seguinte me aprontando para nosso compromisso. Patrick e eu saímos com um monte de amigos nos fins de semana, mas costumamos passar a maior parte desse tempo com Chy e Eric. Eles se casaram pouco antes de eu conhecer Patrick. Chy foi esperta. Casou com Eric em Las Vegas. Minha mãe não pôde encomendar os convites ou alugar o local ou, até mesmo, escolher o bolo que mais gostou. Eu era a única que sabia que os dois haviam viajado para Las Vegas para se casar, e, secretamente, invejei a decisão.

Estou abotoando o jeans quando Patrick entra no banheiro.

— Está pronta?.

— Quase. Falta botar o sapato. — Caminho até o closet, e Patrick me segue até lá. Ele se inclina contra o batente da porta e me observa enquanto procuro um par de sapatos. Preciso me vestir bem para o trabalho todos os dias, então uma noite descontraída na casa de Chy e Eric é uma bela folga dos saltos e roupa de trabalho que uso no dia a dia. Estou vasculhando minha prateleira de sapatos, tentando encontrar meu par confortável predileto. Patrick me observa o tempo todo. Olho em sua direção algumas vezes, e não posso evitar a sensação de que está armando alguma coisa. Está com um sorriso irônico no rosto. É quase imperceptível, mas está lá.

— O que foi?.

Ele descruza os braços e enfia as mãos nos bolsos do jeans.

— E se eu contar a você que passei a última meia hora reorganizando os planos de nosso casamento?.

Eu me endireito. Decididamente, agora ele tem toda a minha atenção.

— O que quer dizer?.

Ele inspira fundo, como se tentasse se acalmar. Saber que se sente nervoso com o que está prestes a dizer me deixa nervosa com o que ele está prestes a dizer.

— Não me importo com os detalhes de nosso casamento, Ellen. Podemos ter qualquer tipo de cerimônia que quiser, se o resultado final for você como minha esposa. Mas... — Ele entra no closet e para a um passo de mim. — Se a única coisa que quer desse casamento sou eu, o que estamos esperando? Vamos casar de uma vez. Esse fim de semana. — Antes que eu possa responder, ele pega minhas mãos e as aperta. — Reservei a casa de praia até a próxima segunda-feira. Conversei com um pastor que está disposto a celebrar o casamento na propriedade; vai até levar uma testemunha para que não precisemos contar a ninguém. Seremos só você e eu. Vamos nos casar amanhã à tarde, à beira do mar, e então, amanhã à noite, podemos nos sentar perto do fogo, onde a pedi em casamento. Vamos passar a noite inteira comendo marshmallow e perguntando coisas um ao outro, e depois
vamos fazer amor e dormir, e acordar casados no domingo—

Fico sem palavras, quase como no momento que me pediu em casamento. E, como há três meses, quando estava muito empolgada e atônita para sequer dizer sim, apenas assinto.

Efusivamente. E eu rio e o abraço e o beijo.

— É perfeito, é perfeito, eu amo você, é perfeito.

Tiramos uma mala do closet e começamos a arrumar tudo. Decidimos não contar a ninguém. Nem mesmo para a mãe dele.

— Podemos contar amanhã, depois de casados — diz Patrick.

Não consigo parar de sorrir, embora saiba que minha mãe vai surtar quando eu ligar, amanhã à noite, para lhe contar que já estamos casados.

— Minha mãe vai nos matar.

— Provavelmente. Mas é melhor pedir perdão do que permissão...

Continua...

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