Capitulo 30

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QUARTA CARTA.

Querida Ellen.
Temos tentado.
Temos tentado engravidar. Tentado adotar. Tentado fingir que estamos bem. Tentado esconder as lágrimas um do outro.

É no que nosso casamento se transformou. Uma série de tentativas, quase nenhum êxito.

Acredito, de verdade, que poderíamos ter enfrentado qualquer categoria 5, mas acho que este ano tem sido categoria 6. Por mais que deseje estar enganado e por mais que não queira admitir, tenho a impressão de que abriremos a caixa em breve. Motivo pelo qual estou em um voo para a casa de sua irmã enquanto escrevo esta carta. Ainda estou lutando por algo que nem mesmo sei se é o que você quer.

Sei que a decepcionei, Ellen. Talvez tenha sido autossabotagem ou, quem sabe, eu não seja o homem que pensei que poderia ser por você. De qualquer forma, estou muito decepcionado comigo. Eu te amo muito mais do que minhas ações têm demonstrado, e poderia usar esta carta inteira para dizer o quanto me arrependo. Poderia escrever um livro inteiro com minhas desculpas e, ainda assim, não seria capaz de descrever meu arrependimento.

Não sei por que fiz o que fiz. Nem consigo explicar, mesmo quando tentei, naquela noite, em seu carro. É difícil colocar em palavras porque ainda estou tentando processar tudo isso. Não fiz aquilo por uma atração fatal à qual não consegui resistir. Não fiz porque sentia falta do sexo com você. E, embora eu tenha tentado me convencer de que fazia aquilo porque ela me lembrava você, sei como soa idiota. Nunca deveria ter lhe dito isso. Você tem razão, de certo modo, parecia que eu estava culpando você, o que nunca foi minha intenção. Você não é responsável por meus atos.

Não quero falar sobre isso, mas preciso. Você pode pular esta parte da carta se não quiser ler, mas tenho que destrinchar o assunto e, por alguma razão, escrever sobre as coisas nessas cartas sempre parece me ajudar a organizar os pensamentos. Sei que deveria ser capaz de me expressar melhor, mas sei que nem sempre você quer ouvir.

Acredito que comecei a me sentir assim em um dado momento na casa de minha irmã. Suponho que poderia chamar de epifania, mas soa como uma palavra muito positiva para descrever o que estava sentindo. Aconteceu no dia em que devíamos conhecer nosso novo sobrinho, mas você disse que ficou presa no trânsito.

Sei que era mentira, Ellen.
Sei porque, quando eu estava saindo da casa da Emy, vi o presente que compramos na sala. O que significa que você havia estado ali em algum momento de minha visita, mas, por algum motivo, não quis que eu soubesse.

Pensei no assunto enquanto dirigia para casa, depois de ter saído da de Emy. E só pude pensar em uma única coisa que a faria negar que estivera lá; você me viu na sala de Emy, com Caleb no colo. E, se viu isso, deve ter ouvido o que Emy falou para mim, e o que respondi. Sobre como me sentia arrasado por ainda não ser pai. Por mais que deseje retirar o que disse, não posso fazer isso. Mas preciso que entenda por que falei aquilo.

Não conseguia parar de admirá-lo, enquanto o segurava no colo, porque ele meio que se parece comigo. Nunca segurei as meninas quando eram tão pequenas, então Caleb foi o ser humano mais minúsculo que já aninhei nos braços. E me fez imaginar como aquilo faria você se sentir, caso estivesse ali.

Teria se sentido orgulhosa de me ver com meu sobrinho? Ou teria ficado decepcionada que nunca me veria acalentar assim um bebê só nosso?

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