capítulo 16

243 36 64
                                    

(AGORA)


A primeira vez que sonhei com uma traição de Patrick, acordei no meio da noite encharcada de suor. Estava ofegante porque, no sonho, eu chorava tanto que mal conseguia respirar.

Patrick acordou e logo me abraçou. Ele me perguntou qual era o problema, e fiquei com tanta raiva. Eu me lembro de empurrá-lo para longe porque a fúria de meu sonho ainda estava presente. Como se ele tivesse, de fato, me traído.

Quando contei a ele o que aconteceu, Patrick riu e apenas me abraçou e me beijou até que minha raiva passasse. Então, fez amor comigo.

No dia seguinte, me mandou flores. O cartão dizia: Me desculpe pelo que fiz em seu pesadelo. Por favor, me perdoe essa noite, quando sonhar.

Ainda tenho o cartão. Sorrio toda vez que me lembro dele. Alguns homens não são capazes de se desculpar nem pelos erros que cometem na vida real. Mas meu marido se desculpa pelos erros cometidos em sonhos.

Eu me pergunto se vai se desculpar esta noite.
Eu me pergunto se, de fato, tem algo pelo que se desculpar. Não sei por que estou desconfiada. Começou na noite em que chegou em casa bêbado demais para lembrar na manhã seguinte, e a suspeita continuou até a última quinta-feira, quando voltou para casa e não cheirava nem um pouco a cerveja. Jamais desconfiei dele antes deste mês, mesmo após minha experiência com Andrew. Mas alguma coisa não me pareceu certa na quinta-feira. Ele veio direto para casa e trocou de roupa sem me beijar.
E nada pareceu certo desde então.
O medo bateu forte hoje, direto em meu peito. Tão forte que solucei e cobri a boca.

É como se eu pudesse sentir sua culpa a todo segundo, independentemente de onde ele esteja. Sei que é impossível... duas pessoas tão conectadas a ponto de uma sentir a outra mesmo quando não estão fisicamente juntas. Imagino que tenha mais a ver com o milimétrico avanço de minha negação até, enfim, estar sob os holofotes no palco de minha consciência.

As coisas nunca estiveram tão ruins entre nós. Quase não nos falamos. Não somos carinhosos. Mesmo assim, perambulamos pelos cômodos da casa, fingindo ainda ser marido e mulher. Mas, desde a noite da bebedeira, parece que Patrick deixou de se sacrificar. Os beijos de despedida passaram a ser menos frequentes. Os beijos de cumprimento cessaram por completo. Ele finalmente chegou a meu nível nessa relação.
Ou se sente culpado por alguma coisa ou, enfim, desistiu de lutar pela sobrevivência de nosso casamento.

Mas não era o que eu queria? Que ele parasse de lutar com tanto afinco por algo que apenas lhe trará mais sofrimento?

Não tenho o costume de beber, mas mantenho uma garrafa de vinho para emergências. Com certeza, isso é uma emergência. Tomo a primeira taça na cozinha enquanto vigio o relógio.
Tomo a segunda no sofá enquanto vigio a entrada da garagem.

Preciso do vinho para acalmar as dúvidas que estou tendo. Meus dedos tremem conforme observo o vinho. Meu estômago parece transbordar de preocupação, como se eu estivesse dentro de um de meus pesadelos.

Estou no canto direito do sofá, sentada sobre os pés. A TV não está ligada. A casa está às escuras. Ainda estou olhando para a entrada da garagem quando o carro de Patrick finalmente estaciona, às 19h30. Tenho uma visão nítida dele conforme desliga o motor e os faróis escurecem. Posso vê-lo, mas ele não pode me ver.

As mãos apertam o volante. Ele continua sentado no carro, como se o último lugar do mundo em que quisesse estar fosse dentro de casa, comigo. Bebo outro gole de vinho e o observo enquanto pressiona a testa contra a direção.

(im)perfeições Onde histórias criam vida. Descubra agora