capítulo 22

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(AGORA)

Ele beijou outra mulher.

Olho para a mensagem que estou prestes a enviar para Chy, mas, então, lembro que ela está algumas horas à frente. Eu me sentiria mal, sabendo que leria isso logo ao acordar. Eu o deleto.

Faz meia hora desde que Patrick desistiu e voltou para dentro de casa, mas continuo sentada em meu carro. Acho que estou machucada demais para me mover. Não faço a menor ideia se a culpa é minha ou se a culpa é dele ou se não é culpa de ninguém.

A única coisa que sei é que ele me magoou. E me magoou porque eu o tenho magoado. De forma alguma justifica o que ele fez, mas uma pessoa pode entender o comportamento de outra sem desculpá-la.

No momento, estamos tão cheios de dor que nem sei o que fazer. Não importa o quanto você ame alguém... a força desse amor nada significa se supera sua capacidade de perdoar.

Parte de mim se pergunta se qualquer um desses problemas existiria se tivéssemos conseguido ter um filho. Não sei ao certo se nosso casamento teria saído dos trilhos nesse caso, porque eu não estaria me sentindo tão arrasada como venho me sentindo nos últimos anos. E Patrick não precisaria pisar em ovos perto de mim.

Mas, então, outra parte de mim se pergunta se não era inevitável. Talvez um filho não tivesse salvado nosso casamento e, em vez de sermos apenas um casal infeliz, seríamos uma família infeliz. E no que aquilo nos transformaria? Somente outro casal unido pelo bem dos filhos.

Imagino quantos casamentos teriam sobrevivido se não fosse pelas crianças geradas. Quantos casais continuariam a viver felizes para sempre sem as crianças como a cola que mantém a família unida?
Talvez devêssemos comprar um cachorro. Ver se isso resolveria as coisas.

Talvez fosse exatamente nisso que Patrick estava pensando quando sentou em meu carro mais cedo e disse:

Por que nunca compramos um cachorro?”

Claro que era nisso que estava pensando. Ele tem tanta consciência de nossos problemas quanto eu. Faria sentido que nossa mente apontasse a mesma solução.

Quando o carro esfria, volto para casa e sento na beirada do sofá. Não quero ir até meu quarto, onde Patrick está dormindo. Um minuto atrás, ele estava berrando que me ama com todas as forças. Foi um escândalo, tenho certeza de que todos os vizinhos acordaram com a gritaria e as batidas de seu punho no metal.

Mas, no momento, a casa está em silêncio. E esse silêncio entre nós é ensurdecedor, não creio que eu seja capaz de dormir.

No passado, tentamos fazer terapia, pensando que poderia ajudar com as questões que a infertilidade nos fazia enfrentar. Fiquei entediada. Ele ficou entediado. E então nos unimos para falar de quão entediante eram as sessões. Terapeutas não fazem outra coisa que não nos obrigar a encarar nossas imperfeições. Não era um problema para Patrick, e não era um problema para mim. Conhecemos nossos defeitos. Nós os reconhecemos.

Meu defeito é não conseguir engravidar, e isso me deixa triste. O defeito de Patrick é não conseguir resolver meu problema, e isso o deixa triste. Não há cura mágica pela terapia. Não importa quanto tempo passemos tentando lidar com nossas questões emocionais, nenhum terapeuta no mundo pode me fazer engravidar.

(im)perfeições Onde histórias criam vida. Descubra agora