Capítulo 28

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(AGORA)

Patrick não faz nada depois que abro a caixa. Apenas fica parado ao meu lado em silêncio, enquanto pego o envelope com seu nome. Eu o entrego a ele e baixo o olhar para a caixa de novo.

Ergo o envelope com meu nome, supondo ser a última coisa que resta na caixa, já que tudo o que havíamos guardado ali dentro foram aquelas duas cartas. Mas então vejo outras, todas endereçadas a mim, com as respectivas datas. Ele vem adicionando cartas. Olho para Patrick, questionando-o silenciosamente.

— Eu precisava dizer algumas coisas que você nunca quis ouvir. — Ele segura seu envelope e cruza a porta dos fundos até a varanda na parte de trás da casa. Levo a caixa até o quarto de hóspedes e fecho a porta.

Eu me sento sozinha na cama, segurando a única carta que eu esperava encontrar na caixa. A de nossa noite de núpcias. Ele colocou a data no topo direito do envelope. Abro os outros envelopes e empilho as páginas na ordem em que foram escritas. Estou muito assustada para ler qualquer uma delas. Muito assustada para não ler. Quando fechamos essa caixa, há tantos anos, eu não tinha a menor dúvida de que não a abriríamos antes de nosso aniversário de vinte e cinco anos de casamento.

Mas isso foi antes do choque de realidade. Antes de descobrirmos que nosso sonho de ter filhos jamais se realizaria. Antes de descobrirmos que, quanto mais tempo se passasse, quanto mais momentos desoladores eu vivesse, quanto mais Patrick fizesse amor comigo, tudo isso começaria a cobrar um preço.

Minhas mãos tremem enquanto pressiono as páginas no cobertor, endireitando-as. Levanto a primeira

carta e começo a ler.

Não creio que esteja preparada para isso. Não acredito que ninguém que tenha se casado pelos motivos certos espere por algo assim um dia. Enrijeço, como se me preparasse para o impacto, e começo a ler.

Querida Ellen,
Pensei que eu teria mais tempo para escrever esta carta. Não era para nos casarmos agora, então esse é um presente de última hora. Não sou um bom escritor, por isso não tenho certeza se sequer conseguirei expressar em palavras o que preciso dizer.

Sou melhor com números, mas não quero entediá-la com um monte de equações matemáticas, tipo, eu mais você igual eternidade.

Se pensa que isso é cafona, tem sorte de ter me conhecido quando eu já estava mais velho, e não mais no ensino fundamental. No sétimo ano, improvisei um poema que pretendia dar a minha primeira namorada. Felizmente, se passariam anos antes que tivesse uma primeira namorada. A essa altura, já tinha me dado conta de que não era uma boa ideia procurar rimas na tabela periódica para um poema de amor.

Entretanto, fico tão à vontade perto de você que acho que é chegada a hora de, enfim, dar uma chance àquele poema de amor da tabela periódica. Porque, sim, eu ainda me lembro dele. Um pouco.

Ei, garota, você é uma gata
Parece esculpida em prata
Seu sorriso me deixa ébrio
Como se eu tivesse cheirado Hélio
E a maciez de sua tez
Me atrai como o Manganês
Beijá-la seria como achar um tesouro
Case comigo, garota, vou cobri-la de ouro.

Isso mesmo. Você é a garota especial que tem a sorte de se casar, hoje, com o autor desse poema.

Ainda bem que vão se passar vinte e cinco anos antes de você ler isso, porque, depois que nos casarmos esta tarde, nunca vou deixar você fugir. Sou como o Hotel California. Você pode amar Patrick sempre que quiser, mas jamais pode me deixar.

(im)perfeições Onde histórias criam vida. Descubra agora