Bem Me Quer, Mal Me Quer

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Há tempos que Mitchell observava ocasionalmente sua mãe retirar da gaveta um frasco de remédios e tomar um comprimido, às vezes até dois. Percebeu também, que quando Emilie estava muito agitada, nervosa, ou ansiosa, ela tomava mais do mesmo remédio, ou talvez fosse outro, ele não saberia dizer. Quando questionou a sua mãe para que era o medicamente, ela simplesmente disse:

– Sou sua mãe, não preciso lhe dar satisfações.

Mitchell não se preocuparia tanto se, assim como seus irmãos, não tivesse percebido súbitas mudanças de comportamento em sua mãe.

Não seria estranho sua mãe tomar remédios para ansiedade, estresse ou calmantes. Monarcas, sobretudo o governante de maior autoridade, carregavam um pesado fardo nos ombros, o de ter que liderar um país inteiro, mantendo-o integro e estável o máximo possível, cuidar do bem-estar de todo um povo, enquanto tenta mantê-los todos unidos, como uma nação. Não era para qualquer um.

Mitch só pensava em Ryland e quando ele se tornasse rei.

Mas não era o peso da monarquia e da coroa que afligia Emilie, Mitch sabia. Sua mãe já era rainha há muito tempo, mas isso jamais a modificara como do jeito que ela estava agora. Ele pensava na morte do rei Edward, tinha sido como se tivessem retirado o coração de Emilie de seu corpo e ela fosse incapaz de sentir qualquer outra coisa. Ela ficou nesse estado letárgico por meses, até adquirir algum tipo de emoção novamente, mas nada como era antes.

Porém, não era nada como agora. Uma Emilie que gritava, explodia, era agressiva, arremessava e socava coisas, não condizia com a altivez e postura de sua mãe. Mas não era só isso. Ela falava sozinha, não de um jeito comum, mas como se alguém realmente estivesse ali. Às vezes, quando se referia a Ryland, Emilie o chamava de Edward e, frequentemente, ela chamava Mitchell de Vince.

Ouvir sua mãe chama-lo daquele nome sempre fazia Mitchell se sentir hediondo. Emilie não o mencionava nem quando Mitch perguntava, na verdade, parecia querer evitar o assunto sempre que possível.

Mitchell se lembrava quando descobrira, quando finalmente entendera qual era toda a verdade. Sentiu-se traído e arrasado, foi como se o chão tivesse sumido debaixo de seus pés e ele se visse caindo, sem conseguir se amparar em nada. Foi como se não pertencesse mais a lugar algum. Como se não tivesse mais proposito.

E quando explodiu, Edward segurou seu rosto com as duas mãos, com toda a ternura que um pai podia carregar em um gesto, mas com o rosto enrijecido em uma expressão severa.

– Você é meu filho. Meu! E isso nunca vai mudar.

Mitch estava em frente ao escritório de sua mãe. Talvez não fosse útil perguntar as coisas diretamente, mas poderia desenvolver uma conversa que pudesse leva-la a revelar alguma coisa, tal como os políticos faziam. Acontece que Mitchell era bom nisso.

Ele odiava que isso preocupasse seus irmãos, então iria fazer algo a respeito.

Antes que pudesse bater na porta, ela se abriu e uma garota saiu. Ela era baixa, tinha cabelos castanhos claros pouco abaixo dos ombros e olhos castanhos. Usava um uniforme de criada de quarto.

– Alessa! – a compreensão veio tão rápido quanto Mitch a viu. Ryland tinha dito o nome dela para ele, Mitchell procurou saber quem era, uma parte por curiosidade, outra por preocupação e zelo. Assim como Ry, não queria que ninguém soubesse quem ela era e sobre os dois, mas pra isso teria que saber de fato quem Alessa era.

Ela arregalou os olhos ao ouvir seu nome sair da boca do príncipe.

Mitch pensou em perguntar o que ela fazia ali, mas mudou de ideia. Ela apenas fez uma reverencia a ele antes de se afastar. Logo em seguida, ele entrou.

A Ascensão do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora