O Duque de Lacio

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Três dias transcorreram como se fossem um suspiro, escapando-lhes involuntariamente.

Lynae tinha sondado Gabrielle naqueles dias, para descobrir se poderia confiar seu maior segredo a ela. Chegara a perguntar o que a medica achava da guerra, qual a opinião dela sobre a atitude de Snöland, de recorrer a mutação genética para contra-atacar seus inimigos.

– Foram voluntários não foram, os soldados modificados? Foi realmente horrível o que houve com eles, os canceres agressivos e a questão da esterilidade, mas acredito que coisas horríveis fazem parte da guerra. Na Segunda Grande Guerra duas cidades inocentes foram bombardeadas. Na Primeira usaram o horrível gás mostarda. Não dá pra medir uma crueldade durante esses períodos históricos, acredito eu. Acha que, se a Grã-Francia tivesse essa tecnologia disponível não faria o mesmo? – foi a resposta de Gabrielle.

Isso deixou Lynae esperançosa, uma prova de que talvez a médica pudesse manter a discrição. Mas a princesa ainda tinha um medo terrível, provavelmente primitivo, aquela sensação de autopreservação. Não conseguia deixar esse sentimento de lado, por mais que quisesse ajudar.

Fez diversas pesquisas a respeito de doenças e anticorpos para descobrir como sua mutação poderia ajudar. Acabou chegando à conclusão de que poderia ser usado como um soro para o tratamento da doença, já que Lynae tinha os anticorpos pré-formados em seu corpo, mas não tinha um meio de estimular isso no organismo de outras pessoas, como uma vacina. A única pessoa que conhecia esse segredo era Markus e os cientistas que modificaram a princesa quando ela ainda era apenas um zigoto.

Lynae tinha feito tanta pesquisa que quase poderia ser considera uma bióloga ou uma biomédica. Tinha até pedido para Anneli ajuda-la, depois de lhe contar o que pretendia, já que ela possuía um interesse especial em assuntos médicos. Embora a estivesse ajudando, Anne era contra Lynae ceder seu sangue para ajudar, tinha medo por ela e isso comovia a princesa, mas simplesmente não podia ficar de braços cruzados.

As pálpebras de Lynae começavam a pesar, enquanto ela entrava em mais um site de uma universidade de medicina sobre soros. Já passava das duas da manhã, há essa altura Anneli já fora dormir e o sono começava a abraçar a princesa, puxando-a para as profundezas da inconsciência.

Estava quase dormindo, quando ouviu o som da porta se abrindo bruscamente. Por puro instinto ela se levantou com um pulo, o coração acelerado e a visão tentando se ajustar novamente a luz.

Mitchell ergueu as mãos como quem se rende, parecendo preocupado.

– Desculpe, não quis te assustar.

– Tudo bem – Lynae levou a mão ao peito, como se pudesse acalmar seu coração com isso. Ela se sentou na beira da cama sobre a perna, olhando para Mitch, que fechara a porta, logo em seguida. – Já é tarde, aconteceu alguma coisa?

– Bem, sim e não. – Mitchell se sentou ao seu lado de frente para a princesa, trazia uma papelada em seu colo, parecia uma espécie de contrato. – Eu falei com um advogado e elaborei esse termo de confidencialidade e sigilo.

Lynae ficou um momento encarando os papeis apoiados nas coxas dele sem entender.

– Por quê?

Mitch exibiu um sorriso de canto de boca, antes de falar:

– Isso basicamente pode proteger sua identidade e impedir que a doutora possa falar qualquer coisa sobre sua condição. Você pode fazer uma doação de sangue e a doutora Gabrielle assinaria esse termo. Se ela falasse qualquer coisa sobre isso seria presa e perderia a licença médica.

Estava claro para Lynae que Mitchell estava empolgado, pelo brilho em seus olhos esmeraldinos, mas também dava para notar que ele não a pressionaria a fazer nada. A decisão ainda seria dela. E isso era igualmente apavorante.

A Ascensão do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora