Pensamentos Turbulentos

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Jonathan estava em frente ao comprido espelho que tinha em seu quarto, ajeitando a sua gravata.

Tinha dormido até tarde, perdeu o café da manhã de propósito. Depois da cena que forjara noite passada, supunha que nenhum dos Beaucourt fosse querer vê-lo. Essencialmente Ryland, que só não voara pra cima dele, porque Lynae o impedira duas vezes.

Por que você sempre tem que agir assim, Jonathan? Por que sempre tem que estragar as coisas? Por que, Jonathan, por quê? Ele podia ouvir perfeitamente a voz de sua avó ecoando em sua cabeça, com aquele desprezo arranhando seu ouvido.

Houve uma batida na porta, que acabou assustando o príncipe, tirando-o de seu torpor. Por um segundo, ele pensou se poderia ser Lars, pedindo desculpas.

– Entre.

A porta se abriu e uma guarda entrou, fechando-a, em seguida. Ela vestia o uniforme vermelho sangue grão-francês e, por um ínfimo instante, o coração de Jonathan descompassou e ele sentiu um frio atingir sua espinha como agulhas. Pensou que talvez fosse uma guarda para leva-lo para a prisão, por conspirar contra a Coroa da Grã-Francia.

Mas então, percebeu quem era aquela mulher dentro dos trazes que não a pertenciam. Seus cabelos vermelhos cor de sangue, os olhos escuros feito sombras e as feições afiadas a denunciaram.

– Zolkin? – Jonathan arregalou os olhos, minimamente – O que você faz aqui? Perdeu totalmente a razão?

Ela balançou a mão, como se pudesse espanar as preocupações dele.

– Ninguém conhece o meu rosto, Jonathan. Apenas na União Russa. Me chame de Blanc enquanto eu estiver aqui. – Ela alcançou as mechas vermelhas do cabelo preso em um rabo-de-cavalo, torcendo seu cabelo entre seus dedos. – Não deveria estar assim tão surpreso com a minha presença, afinal, foi você mesmo que disse que queria falar comigo.

– Exato. Mas eu esperava te encontrar na embaixada e não... – Ele engoliu em seco, apenas para não demonstrar o quanto estava apavorado. Se descobrissem a ligação dele com a União Russa, se descobrissem que ele vinha dando informações a um país inimigo, ele teria sérios problemas. – Não pensei que você fosse vir até aqui.

Zolkin olhou para ele como se Jonathan fosse um cãozinho burro, que tinha feito xixi onde não deveria. Ela o contornou dando largas passadas com suas pernas longas e, sentou-se na cama, apoiando seu corpo em seus braços esticados.

– O que quer me dizer? – a general perguntou.

– Ontem, eu fiz um pequeno showzinho no jantar. Ao que tudo indica, os Beaucourt não tem nem ideia de quem possa ter mandado matar Lynae ou sequestrado os aviões. O que você fez com eles, afinal? – Jonathan estava com medo de perguntar, porque nunca se sabe o que pode sair de Zolkin, mas estava curioso demais para se importar.

A general deu de ombros e cruzou os braços.

– Logo mais você saberá. Mas – ela semicerrou os olhos para o príncipe – me chamou aqui para dizer aquilo que já sei? Jonathan, por favor, o que quer me dizer de verdade.

Jonathan sentou na cadeira que havia em seu quarto de frente para Zolkin. Ele baixou a cabeça, encarando os próprios dedos finos. Sua boca comprimida formava uma pequena linha branca em seu rosto.

Tinha chamado Zolkin para contar uma informação importantíssima para o reino de Snöland e o país da União Russa. Um segredo sobre o príncipe Lars. Ele admitira para si mesmo que fizera isso por pura infantilidade. Queria ver Lars sofrer, como uma criança que arranca as patas dos insetos para vê-lo se contorcendo, e por quê? Porque tinha sido rejeitado. Jonathan jamais tinha sido rejeitado daquela forma. Obviamente já tinha sido rejeitado, por seu pai e sua avó, mas quando o assunto era... atração e desejo, nunca.

A Ascensão do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora