Uma Terra de Gelo

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Jonathan estava sentado em um dos bancos que ficava ao redor dos jardins de begônias vermelhas. O céu estava clareando com a chegada do sol e parte dele estava roxa e outra estava alaranjada. Estava bonito, provavelmente seria um dia belíssimo, sem nuvens, um sol quente e uma brisa marítima fresca.

Matteo, o Primeiro Ministro da Península Itálica, mandou uma carta para Jonathan ontem de manhã, com um codinome e uma mensagem criptografada. Assim que Jonathan decifrou a informação, descobriu que ele tinha agrupado os separatistas e que estavam se comunicando com o movimento antimonárquico do norte. Aparentemente, eles estavam planejando uma rebelião conjunta, porém, antes disso, precisavam neutralizar o exército snölês e, para isso, precisavam da ajuda de Jonathan.

A morte de Lynae serviria bem pra isso, sobretudo se fosse pelas mãos de um grão-francês, assim os soldados jamais seguiriam Ryland e sua mãe, voltariam na mesma hora para seu país.

Por isso, Jonathan decidiu questionar Zolkin, para saber se ela estava por trás do atentado que quase matara Ryland. A general negou veementemente, mas Jonathan não tinha assim tanta certeza. Isso seria com certeza algo que ela seria capaz de fazer. Já tinha feito antes.

Mas talvez ela estivesse sendo sincera, já que o atirador, que foi morto, era um homem de meia idade, que trabalhava como piloto de avião e era um participante notório de manifestações contra a permanência do exército nórdico no país francês. Ele também era irmão de um dos homens desaparecidos no roubo do avião, o que lhe deu fortes motivos para ter raiva da princesa e tentar matá-la. Clássico caso de crime de ódio.

Aquele homem também era pai de duas meninas e tinha uma esposa. Por algum motivo Jonathan só conseguia pensar nisso.

Os tripulantes dos aviões estavam mortos, eles tinham família, e também tinha aquele homem que tentara matar a princesa, o snölês traidor. Tinha Ryland e Lynae que quase morreram...

Tudo pelo meu país, era o que Jonathan repetia a si mesmo toda vez que tinha que fazer algo que repudiava, pelo bem da Nova Bretanha. Pensava isso quando ia para cama com homens nojentos, ou mulheres desinteressantes, ou quando manipulava as pessoas para conseguir o que queria, quando conspirava com governantes, com Zolkin...

Mas isso era diferente. Pessoas estavam morrendo. Muitas mais morreriam quando as rebeliões começassem. Emilie poderia morrer, Ryland, Lynae, Mitchell... até mesmo Louise. Ou Lars.

Jonathan se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos e enterrando o rosto em suas mãos.

– Isso é guerra. – falara Zolkin quando ele esclarecera, ingenuamente, seus temores – Pessoas morrem. A vida é assim, Jonathan. Se quiser um país totalmente livre, terá que fazer alguns sacrifícios.

Não sabia mais se estava disposto a fazer esses tais sacrifícios.

Mas não podia simplesmente largar mão de tudo, sobretudo romper com Zolkin. Ela o mataria apenas por ele saber demais, poderia delata-la para Snöland, que se prepararia e ambos os países entrariam em guerra.

Guerra. Definitivamente era uma coisa que queria evitar a qualquer custo. Já houve guerra demais.

E Lars... Não queria prejudica-lo, porque fora burro demais para começar a se importar.


Lynae tinha vestido uma calça preta, sobretudo cinza chumbo, o cabelo estava preso em uma simples trança e ela usava óculos escuros. Não queria que as pessoas de fora soubessem quem ela era. Tinha solicitado um carro informal, para que não chamasse a atenção.

Iria à Embaixada de Snöland naquela manhã, falaria com seu tio.

Estava sentada em sua cama, as mãos presas entre as coxas, e tremia dos pés à cabeça. Um suor frio desceu por sua coluna. Ela sabia que estava se arriscando muito, seu tio poderia achar que ela estava blefando e Lynae teria que provar que falava sério. Não sabia se estava disposta a se expor, a expor seu país, vê-lo ruir pelo repudio que receberia das Nações Unidas e dos demais países.

A Ascensão do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora