Tempos de Desespero

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Ryland estava deitado no grama rindo, enquanto seu cachorro, Dante, enchia seu rosto de lambidas babadas. Ele rolou no chão, enchendo suas roupas de grama, Dante ia atrás com o rabo abanando e latindo seu parar.

De repente, algo o impediu de continuar a rolar, então, Ryland se deitou de barriga pra cima e olhou para o obstáculo que, na verdade, era seu pai, de braços cruzados.

– Sua mãe vai ter um ataque quando ver suas roupas todas sujas de terra e grama.

– Eu tenho muitas roupas – retrucou Ryland ao se levantar. Dante se aproximou e roçou o focinho contra sua mão, abanando freneticamente o rabo.

– Vem, você tem que vir para as aulas, Ry. – Edward ofereceu a mão a ele, mas o príncipe apenas cruzou os braços e fechou a cara. – Mitch me disse que você não queria ir, por quê?

Ryland suspirou e retirou um pedaço de grama preso em sua manga, depois afagou carinhosamente a cabeça de Dante, que se sentou ao seu lado.

– Estou cansado, pai. Aulas de economia, diplomacia, cultura, administração, línguas, matemática, geografia. – O príncipe bufou, insatisfeito – Só queria um tempo pra mim. Sei que eu sou o príncipe regente, sei que vou ser rei, mas... Tem que ser pra amanhã? – Ryland desviou o olhar de seu pai para Dante, que o olhava com a extrema admiração de um cachorro por seu dono. – Ou talvez... possam tornar Mitchell o herdeiro de novo.

Depois de alguns prolongados segundos de silêncio, Ryland ousou olhar para seu pai, esperando algum tipo de desaprovação, mas Edward apenas sorria ternamente para ele. O rei se aproximou e se inclinou para frente, colocando as mãos nos ombros finos e magros de seu filho de onze anos.

– Sei que você ainda está assustado com isso, Ry, mas não precisa se preocupar com uma coisa dessas agora. As aulas podem ser cansativas, mas vão te deixar mais preparado e, mais seguro quando a hora finalmente chegar. – Edward afagou os ombros do príncipe e suspirou – Tem razão, é só uma criança, precisa de mais tempo livre. Vou falar com sua mãe.

Então, após dar um beijo na cabeça de Ry, seu pai se virou para voltar para o castelo.

– Pai!

Edward parou no lugar e olhou novamente para seu filho, as sobrancelhas erguidas, esperando pelas palavras de Ryland.

– E seu eu for um péssimo rei? Sei que o Mitch seria ótimo, ele nasceu pra isso e é tão natural com o... o povo, as pessoas. E se eu não for tão bom como você? E se eu estragar tudo?

Apesar de haver um sorriso paternal nos lábios de Edward, havia um verdadeiro pesar nos olhos dele.

– Eu nunca pensei que seria rei um dia, Ry. Tive que aprender, como você e não foi fácil, tenho que admitir. Você vai conseguir, Ry, é um garoto tão inteligente e divertido, não tem como as pessoas não gostarem de você.


O sonho estampou um sorriso no rosto sonolento de Ryland. Não chegava a ser sua imaginação, porque era uma memória, de alguns anos depois de ele se tornar o príncipe regente, pouco antes de saber que teria que se casar com a princesa de Snöland.

Lembrava-se de se sentir perdido. Nessa época, descontava muito sua raiva em Mitchell por ele não ser mais o príncipe regente. Mas, aos onze anos, não fazia a menor ideia do que ainda viria pela frente.

E seu pai tinha mesmo razão, as aulas ajudaram muito, fizeram ele entender sobre a economia do país e como ela funciona, as maiores bases financeiras da Grã-Francia e suas forças econômicas. Noções de diplomacia, muito embora ele ainda não fosse um expert nessa área, sabia como deveria tratar seus governadores, mas às vezes era difícil seguir o protocolo. Fora todas as aulas de etiquetas e como se comportar, isso o ajudara a manter a imagem de príncipe regente charmoso e inteligente que ele pintava nas entrevistas, fora o fato de ter feito o noivo e marido apaixonado para o público.

A Ascensão do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora