Faíscas na Pele

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A cadeira do consultório era muito confortável. Lynae sentia-se como se estivesse sentada em cima de uma nuvem. Mas o medo da queda a impedia de relaxar.

O lugar ao seu redor era normal, natural até. Não era acolhedor, mas também não era assustador. As paredes eram pintadas de uma cor cinza azulada, o acabamento era branco, as janelas eram quadradas e tinham cortinas finas brancas, que estavam abertas, deixando a luz do sol entrar.

Plantas enfeitavam o local por toda parte. Em um canto da sala havia uma maranta pavão quase da altura de Lynae. Pendurada na parede havia uma samambaia, com seus ramos verdes vivos escorrendo para fora do vaso, como cabelo. Em cima da mesa, que ficava no fundo da sala em frente a uma estante cheios de livro de psicologia, psicanalise, psiquiatria, havia vários pequenos vasos com cactos de diferentes formas, redondos, compridos, de cores claras, escuras.

Em uma parede, havia todas as graduações e prêmios da mulher que estava sentada bem à frente de Lynae. Ela tinha meia idade, rugas ao redor dos olhos e boca, com um sorriso simpático no rosto. O cabelo preto dela era cortado reto na altura do queixo. Seus olhos tinham um tom cinza claro, diferente dos cinzas turvos de Anneli, e ficavam atrás de óculos de armação grossa.

– Você gosta de plantas. – disse Lynae, quebrando o silêncio que ela mesma erguera sobre a sala.

O sorriso da mulher se esticou mais. O nome dela era Lilian e era formada em medicina, com especialização em psiquiatria e também tinha graduação em psicologia. Ao menos fora isso que Lynae conseguira ver observando a parede com os certificados.

– Vamos falar da senhora, Alteza? O que te trouxe aqui?

Lynae mordeu o lábio e abaixou os olhos para as mãos em seu colo. Sentia-se muito analisada e julgada por aquela mulher e, a sensação não era boa. A todo segundo ela queria simplesmente se levantar e sair dali. Mas tinha que ficar. Uma hora, era apenas uma hora.

O que a trouxe aqui? Havia várias perguntas para essa resposta. Estou doente, sofri muitos traumas, seria uma delas. Ryland me obrigou, seria outra, mas não inteiramente verdade. Estou pronta para ser a princesa da Grã-Francia, e essa provavelmente fora a que fizera Lynae andar até ali.

Finalmente Lynae podia entender o que Mitchell quis dizer, ao que parecia séculos atrás, quando os dois estavam com os pés mergulhados na água do mar, olhando para o vasto horizonte a sua frente. Lynae ainda não tinha casado com Ryland, sua posição era instável e ela queria saber como poderia fazer para ser acolhida pelo povo grão-francês. Tente conhecê-los também, ajuda-los, fazer a diferença, entende? Fora isso que Mitch dissera na época.

Ajuda-los. Lynae entendera esse conceito, ontem, quando ajudara Lorena com o problema com seu marido. Vira a gratidão nos olhos dela e, uma grã-francesa, tomou suas mãos e as beijos, como se ela fosse seu salvador. "Obrigada, Alteza, nem sei como te agradecer". Os olhos de Lorena estavam marejados, mas não mais de tristeza ou medo, mas sim, de facilidade.

Lynae queria fazer a diferença, queria ser uma boa princesa. Mas, pra isso, precisaria enfrentar seus demônios primeiro. Aqueles que ela estava empurrando para debaixo de sua cama, deixando que a engolissem aos poucos.

– Hum... – Lynae coçou a sobrancelha pensando no motivo que diria a psiquiatra. Não era só um, ela sabia, porém, preferiu dar apenas uma resposta. – Eu tive um ataque de pânico, alguns dias atrás. Um pouco depois de... Tentarem me matar.

Depois de ter ajudado aquela mulher ontem, falado com os advogados do castelo para ajudá-la a encontrar seu marido e fazê-lo pagar o que deveria, Lynae percebeu que já estava há tempo demais sem fazer nada. Queria fazer isso mais vezes, ajudar as pessoas, tomar decisões, ser uma princesa ao invés de uma boneca de exposição. Era por isso que estava ali.

A Ascensão do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora