No segundo ano do ensino médio, fiquei amiga de uma menina chamada Manoela Gavassi. Ela até que era legal.
Exagerava um pouco no delineador roxo, não parava de falar e dizia “tipo” toda hora, mas fazíamos as mesmas aulas do primeiro semestre, então a amizade meio que veio por inércia.
Enfim, Manu sempre dizia que seu melhor amigo no mundo todo era Jullio Reis, um garoto que conhecera quatro semanas antes de promovê-lo a esse status.
Era, tipo, aimeudeus, a melhor coisa do mundo ter uma pessoa com quem conversar sem as complicações que vêm com o envolvimento romântico.
Sei .
É verdade que melhores amigos de verdade não conseguem passar mais de duas horas sem mencionar o nome um do outro, mas Manu arrumava um jeito de mencionar Jullio a cada duas frases.
Não era “só amizade” nada.
Acho que a relação deles foi mesmo platônica por um tempo. Jullio tinha uma namorada chamada Libby Tittles ou qualquer coisa do tipo, e Manu vivia indo e voltando com o namorado do tempo do fundamental.
Mas qualquer um que já tenha visto um filme ou um programa de TV, ou que possua um conhecimento básico das formas de interação humana, sabia exatamente para onde Manu e Jullio estavam se encaminhando: para a terra da pegação.
Apesar de Manu jurar que não gostava dele “daquele jeito”, os dois já estavam solteiríssimos no feriado de Ação de Graças daquele ano.
No recesso de fim de ano, Manu não estava mais tão ocupada falando “tipo” o tempo todo. Por quê? Porque a língua de Jullio estava dentro da boca dela antes da aula, depois da aula e nos fins de semana.
Mas todo mundo sabe como isso acaba, certo? Alguns meses depois, Manu e Jullio não só não eram mais um casal como nem chegavam perto de ser “melhores amigos”.
O rápido romance e o rompimento que se seguiu quase não provocaram fofocas na escola, mas gosto de pensar que todos aprendemos uma boa lição:
Pessoas que podem se relacionar amorosamente não conseguem ser só amigas. Ou pelo menos não melhores amigas. As coisas acabam se complicando.
Agora vamos avançar alguns anos na história…
Aos vinte e quatro anos, tenho um anúncio de utilidade pública a fazer: eu estava errada. Essas pessoas podem, sim , ser melhores amigas.
Dá para ter um relacionamento platônico com um homem, ou no meu caso, mulher sem qualquer desejo romântico, fantasia sexual e tentativas fúteis de esconder a dor do amor não correspondido com declarações ingênuas como “eu não gosto dela desse jeito”.
Como é que eu sei disso? Como sei que pessoas com tendência a se relacionar podem ser melhores amigas sem qualquer envolvimento romântico? Porque sou um dos lados dessa equação há seis anos. Seis anos.
História verídica:
Bianca Andrade e eu nos conhecemos nas férias de verão anteriores ao nosso primeiro ano na Universidade do Oregon, durante a recepção aos calouros. Fomos colocadas no mesmo grupo em uma dessas atividades tenebrosas para quebrar o gelo, em que se gruda um papelzinho na testa e tenta adivinhar qual animal somos ou coisa do tipo. Então a coisa… Rolou?
Não sei por que desde o começo foi algo meio “você é legal, mas não vai rolar nada entre nós”, mas foi.
Talvez porque eu já estivesse de olho em outra pessoa do grupo. Ou talvez porque meus ovários me avisaram que a beleza absurda de Bianca em algum momento partiria meu coração. De qualquer maneira, fizemos o impossível. Viramos melhores amigas.
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Apenas amigas?
FanfictionSerá que vale a pena arriscar uma grande amizade em troca de um amor inesquecível? Aos vinte e dois anos, a jovem Rafaella Kalimann leva a vida que sempre sonhou. Tem uma namorada inteligente e responsável, um emprego promissor e a companhia de sua...