Rafaella

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Cometi um erro. Um erro tático terrível:
Subestimei Bianca. Mas deveria saber. Eu a conheço melhor que ninguém. Melhor do que a mim mesma. Sei o quanto é competitiva, e deveria saber que seus impulsos estariam voltados para suas habilidades sexuais. E, meu Deus , isso ela tem de sobra.

O primeiro beijo foi no máximo morno. Ela estava se esforçando demais para se provar, é verdade, mas eu não estava muito no clima, porque fazia questão de não sentir nada. Não podia me deixar abalar com o fato de que seus lábios eram gostosos e seu cheiro era delicioso. Havia muita atividade cerebral envolvida, de ambas as partes.
Mas agora — no segundo beijo — nem sei mais onde meu cérebro fica. Só existem mãos, lábios e a sensação do corpo excitado de Bianca contra o meu. Eu deveria estar fugindo para me salvar; quando acabar, provavelmente é o que vou fazer. Mas enquanto isso… Eu retribuo.

Nunca fui beijada desse jeito antes. Nunca fui prensada contra a parede, com as mãos presas por dedos fortes e braços ainda mais. Nunca tive minha boca devorada como se fosse a melhor das sobremesas por um corpo firme que faz com que me sinta exatamente a mulher que sou.

Tento lembrar que a mulher em questão é Bianca. E consigo.

Então a língua dela encontra meu lábio superior, acariciando-o até me fazer suspirar, depois deslizando para dentro da minha boca, se enroscando na minha. Eu esqueço que sou Rafaella e que ela é Bianca, e me lembro apenas de que somos um duas mulheres, e de que nascemos para isso.

Contorço os dedos e os pulsos até ela finalmente me soltar. Minhas mãos se dirigem imediatamente para sua cabeça e meus dedos agarram seu pescoço para manter sua boca bem perto. As mãos dela vão para minha cintura, me prensando com ainda mais firmeza contra a parede, e meus quadris se projetam para a frente, lembrando exatamente o que acontece em seguida. E, meu Deus, como eu quero o que acontece em seguida.

Era sério que eu tinha voltado atrás na minha ideia maluca. A explicação dela fazia todo o sentido. Mas não estou nem aí para o bom senso no momento. Não quando a boca dela vai para meu pescoço, não quando seus beijos quentes e molhados passam logo abaixo da minha orelha, não quando suas mãos percorrem minhas costas com carícias possessivas.

Só quero… Bianca.

Não, isso não está certo. Não é Bianca que eu quero. Quero sexo. Ela é só um instrumento.

Certo?

Certo?

Meu cérebro não confirma a informação, o que me deixa em pânico.

Minhas mãos encontram seus ombros e eu a empurro, a princípio de leve, depois com mais força.

Bianca recua devagar, relutante, e eu me preparo para um sorrisinho presunçoso, mas, para minha surpresa, Bianca não parece triunfante. Só… confusa. É como eu me sinto também.

Me obrigo a abrir um sorriso, sentindo um desejo repentino de voltar à nossa relação de sempre. Tranquila. Casual. De amizade.

“Pelo jeito você vai ter que ver Bachelor no computador por um tempo, hein?”, ela diz.
Seu sorriso demora um pouco mais que o habitual para aparecer, mas me faz soltar um suspiro de alívio. “E então?”, ela quer saber. “Vai falar ‘eca’?”

“Foi o.k.”

Suas mãos estão apoiadas na parede, uma de cada lado do meu corpo. Devagar, ela recua, abrindo um espaço entre nós, o que me deixa ao mesmo tempo aliviada e decepcionada.

“O.k.?”, ela pergunta.

“O.k., você estava certa”, concordo. “Mas eu também.”

“Por que acha isso?”

Apenas amigas?Onde histórias criam vida. Descubra agora