Bianca

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Em teoria, passar uma segunda-feira qualquer em um bar bacana com duas gatas é o sonho de qualquer sapatão.. Mas, quando uma delas é minha melhor amiga, totalmente fora de questão, e a outra é a amiga dela, quase o mesmo, a coisa muda de figura.

Mesmo assim, não vou deixar Rafaella sair sozinha com essa ideia fixa de pegar mulher, sem chance. Os sorrisos e as risadas dela não me enganam. A garota acabou de sair de um relacionamento de anos. Está fragilizada. Ela precisa de uma noite como essa. Eu entendo. Quer se livrar da sensação de ter sido rejeitada. Mas está sem prática, e não sei se vai conseguir identificar as idiotas.

É aí que eu entro.

E se eu conseguir levar alguém para casa no processo… é um bônus.

“Mais uma bebida?”, pergunto para as duas.

“Que tal aquela ali?”, Rafaella pergunta, ignorando o que falei e dando mais um gole na vodca-tônica. “A de camisa azul.”

Sigo seu olhar. “É uma camisa jeans. Então não.”

“Concordo com a Bianca”, Marcela diz. “Camisa jeans só fica bem em caubóis texanos. Em Portland, não está com nada.”

“Não posso nem falar com a garota só porque vocês não gostaram da camisa dela?”, Rafaella protesta.

“Que tal aquela?”, Marcela aponta. “De camisa preta, bem na minha frente. Bunda linda.” Rafaella e eu viramos a cabeça para olhar.

“Ela já está acompanhada”, Rafaella responde.

Marcela e eu trocamos olhares, sem entender.

“A ruiva com quem ela está falando é o quê?”, Rafaella insiste, olhando para nós como se fôssemos duas idiotas.

“Ah, elas não estão juntas”, Marcela explica.

Rafaella franze a testa, confusa. “Como você sabe?”

“Ela chegou com os amigos logo depois da gente”, Marcela esclarece, com toda a paciência.

“E a ruiva já estava aqui”, complemento.

Rafaella lança um olhar perplexo para nós.

“Vocês notaram tudo isso?”

Marcela se inclina para a frente e dá um tapinha na mão de Rafaella. “Foi por isso que você trouxe a gente.”

“Pra aprender a perseguir as pessoas? Quero ajuda pra conhecer garotas, não pra ser agente da CIA .”

“Não são coisas muito diferentes”, aviso.

Rafaella me lança um olhar atravessado.

“Qual é? Já vi você assistindo aos filmes do Jason Bourne não sei quantas mil vezes. Deixa essa sua fixação por espiões fora disso.”

“Não, ela está certa”, diz Marcela. “É meio parecido com espionagem mesmo.”

Abro um sorriso como quem diz “obrigada, Marcela”, e ela retribui, me olhando nos olhos. Viro o rosto, para Rafaella não perceber. Marcela é muito gostosa, e em qualquer outra situação já teria tentado a sorte com ela meses atrás. Mas, estranhamente, consigo entender por que Rafaella faz tanta questão de que eu não me envolva com suas amigas. Em um mundo perfeito, Marcela e eu poderíamos nos aproximar, ir para a cama e seguir cada um seu caminho. Mas, apesar do jeito de quem não está nem aí, ouço falar das pessoas com quem Marcela sai através de Rafaella.
São encontros de verdade, não transas aleatórias motivadas pela bebida. E não é isso que eu quero. De jeito nenhum.

“Então espera aí”, Rafaella diz, dando outro gole na bebida. “Está me dizendo que eu deveria estar… monitorando o lugar?”

“Com certeza”, respondo, mantendo a expressão mais séria possível. “Sempre com uma arma na cintura.”

Apenas amigas?Onde histórias criam vida. Descubra agora