Rafaella

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Continuo à espera de que as coisas fiquem esquisitas entre mim e Bianca. Me preparei para isso hoje de manhã, quando nos estranhamos por desconfiar que ela tinha usado minha toalha de novo. (E usou. Sei muito bem.)

Fiquei à espera enquanto ela cantava junto, toda animada, as músicas do álbum da Taylor Swift que coloquei para tocar no caminho para o trabalho.

Fiquei à espera no caminho para casa, enquanto ouvia suas reclamações furiosas sobre seu mais recente projeto ter sido colocado em espera porque a verba foi usada em outro, que ela considerava “uma besteira total e completa”.

Mas, quando Bianca começa a se servir do frango à parmegiana que fiz para o jantar, ignorando deliberadamente a salada, meu medo desapareceu por completo. Talvez a gente consiga fazer isso. Porque, por enquanto, a nudez iminente não abalou em nada nossa rotina.

Claro que a gente ainda não viu as partes íntimas uma da outra. Esse vai ser o verdadeiro teste.

Dou uma espiada no relógio. Sete e quinze. Quarenta e cinco minutos.

Fico à espera de que o nervosismo ou o arrependimento dê as caras. Fico à espera…
E à espera… Mas que nada. Estou empolgadíssima com a ideia.

“Ei, quer ir num karaokê na sexta?”, ela pergunta.

“Ah, é”, respondo, puxando um longo fio de muçarela e enfiando na boca enquanto arrumo a mesa da cozinha. “Marcela falou que Gizelly descobriu um lugar novo.”

“Não sei se vai ser do nível do Cody’s”, Bianca avisa, se referindo ao nosso karaokê favorito da época da faculdade. “Mas se estiver a fim eu encaro.”

Dou de ombros. “Claro.”

Adoro karaokê. Adoro cantar de modo geral.

Bianca está sentada à mesa na minha frente, enfiando um pedaço enorme de frango na boca, que um gole de cerveja ajuda a descer, então se recosta na cadeira. “Ei, Marcela falou alguma coisa de mim?”

Olho para ela, surpresa. “Como assim? Quer saber se ela quer encontrar você debaixo da arquibancada do ginásio depois da aula?”

“Você entendeu o que eu quis dizer. Fiquei com a impressão de que… ela estava me dando mole na hora do almoço.”

Mastigo lentamente a salada antes de engolir. “Bom… ela pegaria você fácil, se é isso que quer saber.”

Ela levanta a camisa, revelando o abdome perfeito. “Quem não pegaria?”, ela diz. “Mas não foi isso que eu quis dizer… Ah, esquece.”

“Que foi?”, pergunto, inclinando a cabeça.

“Só fiquei curiosa para saber se você não contou a ela sobre nosso… acordo.”

“Não”, respondo enfaticamente. “Eu meio que estava pensando em manter em segredo. Pras pessoas não começarem a tirar um monte de conclusões erradas.”

“Concordo”, ela se apressa em dizer. “É que… fiquei com a sensação de que ela quer que eu a chame pra sair ou coisa do tipo. Vai ver sou só eu sendo convencida. Não deve ser nada.”

Olho para o prato. Tem alguma coisa aí. Os instintos dela não falham. Sinto uma pontada de culpa. Pelo fato de ter feito tudo para impedir que Marcela ficasse com Bianca, para depois transar com ela eu mesma.

Mas não foi por ciúme nem nada do tipo.
Só não quero que Marcela sofra por não ser correspondida. Porque sei que correria um sério risco de se apaixonar por ela.

Eu não. Estou de olhos bem abertos. E meus olhos definitivamente gostaram de ver a barriga tanquinho dela alguns segundos atrás.

Quando começo a me deixar levar pela minha imaginação — vejo minha língua percorrendo as linhas do abdome definido de Bianca —, um pensamento me vem à mente. É uma distração muito maior que uma barriga tanquinho.

Apenas amigas?Onde histórias criam vida. Descubra agora