9/10
Eu costumava ser boa nisso, pegar garotas normais em bares. Mas devo estar sem prática, porque a garota que está dançando na minha mesinha de centro — apesar de não ter música tocando — é totalmente pirada .
“Demi”, eu digo, tentando manter o tom de voz o mais tranquilo possível. “Que tal eu chamar um táxi pra você?”
A única resposta que eu recebo é uma blusa atirada no rosto. A dela .
“Merda”, murmuro. Não estou nem um pouco no clima.
“Quero dançar!”, ela grita. “Vem, Bia!”
Coço o queixo. Juro por Deus que ela não parecia tão maluca no bar. Meio animadinha demais, mas não maluca. Vai ver eu só estava desesperada pra pegar alguém. Pra me livrar da dor que não deixa meu peito.“Só danço se você descer da mesa”, minto.
Ela dá uma requebrada nos quadris, e seus dedos se dirigem à braguilha da calça jeans. Levantando a sobrancelha, enquanto Demi abre o primeiro botão, percebo que estou prestes a testemunhar um striptease não consentido.
Uma batida na porta me salva de ter que olhar quando ela vira lentamente, inclina o corpo e faz escorregar pela bunda a calça apertada.
“Por favor, que seja Gizelly”, murmuro.
Vou ser obrigada a recorrer à força para tirar essa garota da minha mesinha de centro, e um par de mãos a mais viria bem a calhar. Mas não é Gizelly.
“Rafs! Oi!”, digo, registrando a sequência de sensações que experimento a seguir, como pânico, alegria e perplexidade. Porque conheço quase todas as expressões faciais de Rafaella Kalimann, mas juro que nunca vi seu rosto como agora. “Hã, está tudo bem?”, pergunto.
Dou um pulo para a frente quando Demi, cheirando a perfume doce, vem me abraçar por trás. Ela ainda está de sutiã, graças a Deus. Mas não de calça.
“Quem é essa aí?”, ela pergunta.
O sorriso de Rafaella é largo e simpático quando fixa o olhar em Demi. Opa. Essa cara eu conheço. Coitada da Demi.
“Oi, eu sou a Rafaella.” O tom de voz dela é amigável. Demi franze o nariz.
“O seu nome é bonito.”
“Humm”, Rafaella diz em um tom pensativo quando entra e põe a mala ao lado da porta. Uma mala bem grande. Fico me perguntando pra onde vai. “É mesmo? E o seu, qual é?”
“Demi!”
“Então, Demi.” Rafaella junta as mãos e dá uma boa olhada nela. “Desculpa estragar sua noite desse jeito, mas minha irmã… ela não está muito bem.”
Pela primeira vez, o sorriso fixo de Demi se desmancha. “Sua irmã?”
Rafaella aponta com o queixo para mim, e sou forçada a segurar o riso. “Ela é viciada em sexo, e deveria estar em reabilitação. Mas pelo jeito teve uma recaída.”
Demi me lança um olhar apreensivo. “Gosto de sexo.”
“Claro que sim, Demi”, Rafaella responde. “Mas é que os gostos de Bianca são meio… peculiares.”
Demi passa a língua nos lábios, parecendo apreensiva. “Tipo… algemas?”
A risada de Rafaella soa um pouquinho condescendente.
“Ah, não. Tipo bonecas .” Consigo segurar a risada, mas por pouco. E Rafaella só está começando. “Ela curte ter as bonecas por perto quando, bom, quando está em ação. Gosta de pentear os cabelos delas. Coloca todas enfileiradas enquanto…”
VOCÊ ESTÁ LENDO
Apenas amigas?
FanfictionSerá que vale a pena arriscar uma grande amizade em troca de um amor inesquecível? Aos vinte e dois anos, a jovem Rafaella Kalimann leva a vida que sempre sonhou. Tem uma namorada inteligente e responsável, um emprego promissor e a companhia de sua...