5/10
No fim eu até gosto de morar sozinha.
O esquema de dividir a casa com Gizelly não deu certo. O dono do lugar onde ela mora surtou com a ideia de ter o imóvel desocupado e ofereceu um preço ótimo pra ela renovar o contrato e ficar por lá. O que significa que ainda estou à procura de alguém pra dividir a casa, mas sem muita pressa.
Rafaella teve a decência de se oferecer pra pagar dois meses de sua parte no aluguel como uma espécie de aviso prévio. Além disso, a promoção que recebi no trabalho deu uma boa aumentada no salário. Pela primeira vez na minha vida, dinheiro não é um problema. Parece uma coisa bem… adulta. A renda extra não alivia a dor de ter estourado o cartão de crédito na outra noite no Portland City Grill. Não que o jantar com Marcela tenha sido desagradável. Foi legal.
Mas foi quando me dei conta de que ela merecia mais que “legal”.Marcela é ótima, merece mais do que uma garota que só concordou em sair com ela para irritar uma amiga. E é aí que está o problema. Só topei tentar alguma coisa com ela para provar que Rafaella estava errada, mas no fim me dei conta de que não fazia a menor diferença, porque minha suposta melhor amiga não ligava se eu namorava, ou com quem.
Rafaella seguiu em frente. Saiu de casa.
“Está a fim de fazer alguma coisa?”
Apesar de não morar comigo, Gizelly passa um bocado de tempo aqui, porque minha TV é maior. Dou uma olhada no relógio. São oito da noite de um sábado, mas não quero nada além de ficar exatamente onde estou, vegetando no sofá, pensando se quero pizza de pepperoni ou calabresa.
E é nesse momento que me dou conta de que preciso sair. Tenho que deixar para trás essa fase bizarra. E tenho que transar .
Não encostei em uma garota desde aquela noite em Cannon Beach com Rafaella— a que considerei tão importante, mas só me ferrei por isso.Tiro as pernas de cima da mesinha de centro.
“Tá”, digo a Gizelly. “Vamos sair.”
Uma hora mais tarde, estou de volta ao meu habitat. E, com o perdão do clichê, conquistar garotas é como andar de bicicleta. A gente nunca esquece.
Se eu estiver captando bem os sinais — o que em geral acontece —, no fim da noite vou poder escolher entre duas loiras bonitinhas, uma latina maravilhosa e uma morena linda. Mas logo a descarto, porque parece demais com Rafaella.
Rafaella, com quem não falo desde aquela noite no restaurante.
A gente se cruzou uma ou duas vezes. Estávamos na mesma fila do Starbucks outro dia, e sou obrigada a admitir que fingi que não a vi. Mas não chega a ser uma vergonha tão grande, porque acho que ela fez a mesma coisa.
“E aí, Andrade?” Viro e abro um sorriso antes de ver quem chamou meu nome.
“Oi, Marcela!” Faz mais ou menos uma semana que sugeri delicadamente que as coisas não estavam dando muito certo. Apesar de Marcela estar linda, nunca é muito divertido dar de cara com uma ex, mesmo sem saber se podemos ser consideradas isso.
“O que está fazendo aqui?”, ela pergunta.
Está falando um pouco mais alto do que o ambiente exige, o que me leva a acreditar que já tenha bebido umas e outras.
“Hã…”
“Estou brincando”, ela acrescenta, antes que eu possa responder. “Sei exatamente o que está fazendo aqui. O mesmo que eu!”
Ela joga os quadris para o lado de um jeito engraçado. Dou risada, porque Marcela não parece nem um pouco irritada por causa do que fiz.
“O movimento está fraco hoje”, ela comenta, olhando ao redor e então para mim. “Ou estava .”
VOCÊ ESTÁ LENDO
Apenas amigas?
FanfictionSerá que vale a pena arriscar uma grande amizade em troca de um amor inesquecível? Aos vinte e dois anos, a jovem Rafaella Kalimann leva a vida que sempre sonhou. Tem uma namorada inteligente e responsável, um emprego promissor e a companhia de sua...