Bianca

814 83 18
                                    

Não consigo dormir.

A casa de praia que os Kalimann costumam alugar tem quatro quartos, e Rafaella e eu não estamos juntas, claro, já que os pais dela não sabem que estamos transando.

Mas faz uma hora que Rafaella e eu chegamos da caminhada na praia, e uns bons quarenta e cinco minutos que olho para o teto.

Sou obrigada a admitir o verdadeiro motivo de não conseguir pegar no sono: Rafaella não está aqui.

De alguma forma, nas últimas semanas, me acostumei a seu corpo quentinho e gostoso encostado em mim.

Me acostumei com o cheiro de xampu e o som de sua respiração. É só sexo, penso comigo.

Fora os dias em que Rafaella estava impossível por causa da TPM , a gente transou todos os dias. Então só pode ser isso que está me deixando inquieta. A falta de sexo.

Tenho quase certeza.

Hesito por uns trinta segundos antes de jogar as cobertas de lado e caminhar silenciosamente até a porta do quarto e abri-la. A dobradiça range. Droga.

Solto uma risadinha baixa ao perceber que pareço uma adolescente tentando entrar às escondidas no quarto de uma garota enquanto os pais dela dormem no outro quarto.

Na verdade, a comparação é perfeita.

A porta de Rafaella está destrancada. Ela devia estar acordada, porque senta na cama assim que abro a porta.

Quando a fecho, perco a coragem, e não me mexo. O que não acontece com ela.

Sem dizer uma palavra, Rafaella desliza do meio do colchão para o lado direito, abrindo espaço para mim.

Sorrio enquanto vou com passos apressados até o calor de sua cama. Até o calor dela . Acomodamos a cabeça no travesseiro ao mesmo tempo, virados um para o outro.

“Oi”, ela diz.

“Oi.”

E, do nada, começo a me sentir hesitante de novo. Quase tímida. Qual é o problema comigo, porra? Com a gente?

Vim aqui com toda a intenção de fazer sexo quente e intenso, e o fato de precisar ser em silêncio absoluto só deveria tornar tudo mais excitante.

Mas, agora que estou aqui, mal conseguindo distinguir as feições tão conhecidas de Rafaella no escuro, descubro que quero uma coisa bem diferente. Uma coisa que nem sei definir.

Minha mão desliza pelo meu travesseiro, depois pelo dela, até minha palma se acomodar em seu rosto. Meu polegar acaricia sua pele macia, e fico com a impressão de que a ouvi suspirar. Seria bom se tivesse um pouco mais de luz para poder ver Rafaella, mas compenso isso com o toque, explorando mais seu rosto, seus olhos fechados. Seus lábios.

Ela beija a ponta dos meus dedos bem de leve, e sinto um aperto no peito.

Chego mais perto até nossos troncos se tocarem. Sinto sua respiração contra meus lábios. Rola um beijo.

Devagar, leve. Diferente. Denota uma intimidade perigosa, mas nenhuma de nós duas demonstra a pressa habitual de estabelecer o ritmo frenético. Minha língua mergulha em sua boca sem parar, adorando a maneira como seus dedos puxam minha camiseta, inquietos.

Minha boca desce para seu pescoço. As mãos dela passeiam pelos meus cabelos enquanto fico parada ali um bom tempo antes de começar a descer por seu corpo, beijando seus peitos, sua barriga.

Paro na cintura, puxando a blusa dela só um pouquinho, para que minha boca encontre a pele exposta pouco abaixo do umbigo. E é aí que eu paro, me dando conta de que o sexo com ela é uma coisa de outro nível não por causa de seu corpo incrível, ou pela contradição entre seus dedos frenéticos e seus gemidos baixinhos.

É pelo fato de ser Rafaella. E sexo com alguém que a gente gosta é… diferente. Melhor.

Minhas mãos deslizam por baixo de sua blusa, e volto a me concentrar na parte superior de seu corpo, arrancando a peça ao fazer isso. Ela levanta os braços para facilitar. Minha camiseta vai embora a seguir, depois a calcinha dela, minha calça e minha calcinha.

Tem tanta coisa que eu gostaria de fazer com ela. Que eu gostaria que fizesse comigo. Mas, quando seus braços me envolvem, me puxando para perto, só consigo pensar em enfiar meus dedos nela. Quero me sentir em casa.

Apoio as mãos no travesseiro, uma de cada lado de sua cabeça, e meus olhos se cravam nos dela. Com um gesto carinhoso, afasto os cabelos de seu rosto para ver melhor. Preciso disso.

Eu a observo enquanto levo uma das mãos a sua intimidade e enfio dois dedos nela de uma forma tão suave que nos deixa ofegantes em meio ao silêncio da noite. E então, de alguma forma, minha mão livre encontra a dela no travesseiro. Nossos dedos se entrelaçam, e o contato das palmas me parece tão importante quanto a sensação de estar dentro dela.

Continuo com as estocadas sem parar, e seus quadris se movem na direção dos meus dedos.

“Bianca.” Meu nome sai em um sussurro de seus lábios, como um apelo. Respondo me esfregando nela no momento em que seu corpo se arqueia e me aperta por dentro.

Solto um grunhido. Por algum motivo o sexo tão tradicional de hoje me faz gozar mais forte do que nunca.

Apoio a testa levemente na dela, recuperando o fôlego antes de me afastar com um beijo em seu rosto.

Não quero mais nada além de ficar deitada ao seu lado, aninhar seu corpo junto ao meu, mas a realidade pouco a pouco vai se infiltrando no mundo dos sonhos dos minutos anteriores, e eu me lembro de onde estamos. De quem somos.

“Acho melhor voltar pro meu quarto”, murmuro. Ela assente.

Nenhuma das duas quer desentrelaçar os dedos.

Sinto que existem coisas a ser ditas, mas não sei quais, então me contento com um último beijo.

Só quando volto ao quarto percebo que talvez não haja coisas a dizer, mas uma única coisa, no singular.

Porque, pela primeira vez desde que começamos a transar, fico me perguntando se um de nós não deveria dizer a palavra de segurança.

Antes que seja tarde demais.

🌺

Eu me lembro que quando li esse livro eu chorei e xinguei horrores, então eu não vou enganar e muito menos poupar vocês disso, pq parece que trazer isso pro mundinho Rabia tá tornando a história e o meu sofrimento ainda mais intenso.

Apenas amigas?Onde histórias criam vida. Descubra agora