Rafaella

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Na quinta-feira seguinte à nossa aventura no karaokê, descubro que vou precisar trabalhar até tarde. Muito tarde.

É um daqueles dias com reuniões uma depois da outra e quase nenhum tempo na minha mesa, o que significa que não respondi os e-mails “urgentes” nem escrevi meu relatório semanal para a reunião de amanhã com minha chefe.

Definitivamente, minha jornada vai se estender.

Consigo fazer um intervalo de cinco minutos entre uma reunião e outra, o que me dá tempo de fazer xixi, beber uma coca zero e avisar minha carona, que por acaso também é a garota com quem tre… hã, a garota com quem estou transando, que por acaso também é minha melhor amiga.

Balanço a cabeça enquanto pego o celular, mais uma vez impressionada com quantas coisas na minha vida estão relacionadas a Bianca Andrade.

Principalmente nos últimos tempos.

Em teoria, sei que não deve parecer muito saudável passarmos tanto tempo juntas, especialmente agora que acrescentamos as noites — e as madrugadas.

Mas a questão é que parece, sim , bastante saudável.

Porque quem leva uma vida saudável está feliz o tempo todo, né? E eu estou.

Feliz.

Será por causa dos orgasmos frequentes? Escrevo uma mensagem:

Ei, tudo bem se eu trabalhar até tarde? Você pode ir de carona com a Luiza?

A resposta vem antes que eu consiga guardar o celular. Ela também deve estar entre uma reunião e outra.

Eu espero. Tenho umas coisas pra fazer também. Legal. No carro às 7?

Blz.

Já estou a caminho da sala de reuniões quando o aparelho vibra de novo.

Quer jantar depois? Em algum lugar caro? Eu pago. Tenho boas notícias.

Levanto as sobrancelhas. 

É um encontro, Andrade?

A resposta é instantânea.

Opa. Espero que goste das flores que comprei. E deixei bilhetinhos românticos no seu para- brisa.

Sorrio antes de escrever.

É por isso que você não tem namorada.

Por que eu ia querer uma namorada se trepo o tempo todo com a safada da minha melhor amiga?

“Que alegria toda é essa?” Levo um susto quando vejo Marcela e Flay caminhando na minha direção.

Marcela diminui o passo e olha de maneira significativa para a outra.

Flay, a sem-noção, tenta espiar meu telefone, mas apago a tela antes disso. A última coisa de que preciso é que o pessoal do escritório fique sabendo sobre mim e Bianca.

Ou Marcela.

“Ah, eu conheço esse olhar”, Flay diz com uma vozinha irritante. “Você estava trocando mensagens quentes com sua namorada.”

“Na verdade, Bruna me deu um pé na bunda”, digo com um sorriso largo. “Obrigada por me fazer lembrar disso, aliás.”

Ela tem a decência de parecer envergonhada com a gafe. Nem me dou ao trabalho de esclarecer que não penso em Bruna há dias.

Flay entra na sala de reuniões, mas Marcela e eu não. É a reunião semanal da equipe, e nossa chefe sempre atrasa.

Dou um gole na coca zero. Marcela chega mais perto. “Não me obriga a perguntar de novo.” Franzo a testa, confusa. “O quê?”

Apenas amigas?Onde histórias criam vida. Descubra agora