Bianca

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Rafaella está totalmente no clima de karaokê. Duas taças de espumante e bum. Ela está no palco.

Não é nem a vez dela, mas acho que essa é uma das vantagens de ser linda e ter uma amiga igual. Bastaram oito segundos e dois sorrisos bonitos de Marcela e Rafaella (com uma ajuda do decote de Marcela, acho) para convencer os caras que eram os próximos da fila a deixar que as duas passassem na frente.

"Sua garota é boa nisso", Luiza me diz, sentando ao meu lado com um copo de uísque.

Fico tensa por uma fração de segundo ao ouvir ela se referir a Rafaella como minha garota, mas sei que ela já disse isso um milhão de vezes, quando ainda não tínhamos transado, e ela só quer dizer que ela é... bom, minha garota. Mas não nesse sentido.

Enfim.

Rafaella canta bem. Muito. Ela e Marcela escolheram uma música antiga do Destiny's Child - o tipo de música que eu não saberia nomear ou dizer de quem é nem se minha vida dependesse disso, mesmo conhecendo a letra inteira.

O bar está adorando as duas. É raro aparecer alguém num karaokê com uma voz e um visual arrasadores, mas é o caso de Rafaella.

A voz de Marcela não é tão boa, e ela se limita ao acompanhamento, mas está longe de ser desafinada. Além disso, está mais do que compensando a falta de talento vocal com dança.

Ao terminar, elas são aplaudidas de pé, e voltam para a mesa aos risos. Rafaella pega minha bebida e dá um gole enorme.

"Delícia!"

"A cerveja ou o palco?", pergunto.

"As duas coisas." Ela se recosta no assento com um sorriso. "Acho que a gente precisa de mais champanhe."

"Você sempre acha que a gente precisa de mais champanhe", Marcela diz. "Mas dessa vez eu concordo."

Luiza chama um garçom com cara de tédio e pedimos outra rodada enquanto Marcela e Rafaella se preparam para a próxima música.

"Vamos colocar nosso nome na lista", diz Marcela. "Apesar de que com certeza vão deixar a gente furar a fila depois da nossa apresentação."

"Tá. Só preciso de uma bebida primeiro", Rafaella avisa. "Uma dose de coragem."

"Hum-hum", Marcela responde. Em seguida seus olhos se voltam para mim. "Faz um dueto comigo, Andrade."

Paro de beber a cerveja e noto que Rafaella lança um olhar de surpresa antes de se virar para mim.

Faço que não com a cabeça. "Sem chance. Chama a Luiza."

"De jeito nenhum", ela retruca. "Eu não canto."

"Pensei que o karaokê tivesse sido ideia sua", Rafaella comenta, inclinando a cabeça.

"Gosto de ver outras pessoas passar vergonha", ela diz, apontando para o palco, onde um grupo de mulheres embriagadas atropela a letra de "Girls Just Wanna Have Fun".

"Qual é?", Marcela insiste, me dando um chute de leve por baixo da mesa. "Vai ser divertido."

Olho para Rafaella, que dá de ombros. "Vai lá. Sua voz é melhor que a da maioria das pessoas que está cantando."

O que Rafaella não diz é que em geral eu canto com ela. A gente ia ao karaokê quase todo fim de semana na época da faculdade, escolhendo desde baladas country até hits. É divertido. Ou pelo menos costumava ser. Mas ela não parece nem um pouco incomodada com o fato de que minha primeira música da noite vai ser com Marcela. E por que ficaria?

Rafaella me dá uma piscadinha. Encolho os ombros, olhando para Marcela.

"Certo. Beleza. Vamos nessa."

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