Rafaella

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Algum dia, o sexo com Bianca vai ser uma coisa corriqueira. Tenho certeza disso.
Vamos conhecer tão bem o corpo uma da outra que não vai restar nada mais a ser descoberto, e poderemos olhar para o acordo como um experimento, e tudo vai voltar a como era antes.

Mas esse dia não é hoje.

O beijo é um pouco hesitante a princípio. Testamos uma a outra para ver se está tudo bem mesmo, se temos certeza de que queremos jogar pela janela uma noite de sexo minuciosamente planejado. Então sua língua toca a minha, e logo fica claro que está, sim, tudo bem. Muito mais do que bem.
A mão de Bianca escorrega para debaixo da camiseta horrorosa que ela me fez vestir — aposto que está arrependida dessa decisão —, e sinto seu calor quando me puxa para mais perto. Reproduzo o movimento dela, enfiando as mãos por baixo de sua camisa até encontrar suas costas, sentindo seu calor e a puxando para junto de mim.

E é perfeito.

Por mais que o beijo se estenda, não é o suficiente, longe disso. Quando ela começa a remexer com impaciência na bainha da minha camiseta levanto os braços e permito que a tire com muito mais facilidade do que quando colocou.

Ela solta um grunhido agradecido ao ver meu sutiã, que realmente é bonito. Em algum lugar no fundo da minha mente, me pergunto se o vesti mesmo para Bárbara ou se desejei o tempo todo que fosse Bianca quem fizesse valer a grana investida na peça azul-marinho com lacinhos cor-de-rosa.

A boca de Bianca baixa para meu pescoço, e acho que a ouvi dizer meu nome, mas estou ocupada demais sentindo seus lábios e o delicioso arrepio que produzem. Preciso dela sem roupa.

Quase arranco os botões de sua camisa com meus dedos desajeitados, mas ela não parece se incomodar. Quando termino, descubro um top idiota por baixo, que arranco com um pequeno grunhido de frustração.

Bianca abre um sorriso rápido e me beija antes de arrancar a última camada de tecido entre mim e seu peito nu.

Satisfeita, ponho as mãos em seus ombros e me inclino para a frente, beijando-a de leve por um brevíssimo momento antes de minha boca e meus dedos enlouquecerem, tocando cada pedaço de seu corpo quente que sou capaz de encontrar.

Ela ri da minha urgência quando minhas mãos descem para seu short jeans. “Nossa, Rafs.”

Em resposta, lanço um olhar que espero que seja lido como “tira logo a roupa toda” antes de ir para a cama, dando uma requebrada a mais.

Uma rápida olhada por cima do ombro confirma que ela está de olho em mim. A expressão faminta em seu rosto me encoraja a ser ousada.
Vou me movendo lentamente para o meio da cama, de quatro, e dou mais uma espiadinha por cima do ombro.
Bianca não precisa de mais incentivos. Tira a roupa em questão de segundos e vem atrás de mim, passando lentamente a mão pelos meus quadris e colocando o polegar debaixo do elástico da minha calcinha bem devagar.
“Nossa”, ela murmura. Sua mão passeia pelas minhas costas, depois vem para a frente, e então ela abre sem pressa meu sutiã, deixando as alças escorregarem pelos ombros. Bianca põe a mão em meus seios antes mesmo que deixe o sutiã de lado. Solto um gemido de satisfação, porque seu toque é perfeito. Ela sabe que prefiro ser provocada de leve em vez de pega com força. Sabe exatamente quando fazer movimentos circulares, quando me apertar e quando beliscar de leve.

“Bianca .” Minha voz sai em tom de súplica.
Ela responde passando a mão pela minha barriga e deslizando sem hesitação dentro da minha calcinha para enfiar um dedo em mim. Sua respiração está acelerada como a minha quando ela acrescenta outro dedo, fazendo minhas costas se arquearem em uma tentativa desesperada de mais proximidade.

Bianca continua mexendo os dedos por vários minutos torturantes até nós duas não aguentarmos mais. Ela pega a cinta e uma camisinha na gaveta do criado-mudo e veste em tempo recorde, e nem ao menos tira minha calcinha — simplesmente a puxa de lado e se posiciona.

Estou mais que pronta para ela, que entra em mim com uma única estocada suave. Uma de suas mãos segura meus cabelos, puxando minha cabeça para trás com força suficiente apenas para me fazer respirar fundo, enquanto a outra agarra meu quadril e me mantém na posição enquanto entra e sai sem parar. Meus dedos deslizam pela minha barriga, e o tesão é grande demais para eu ter vergonha de me tocar.

“Isso, Rafaella. Isso .”

Então ela solta um grito agudo, e eu chego lá ao mesmo tempo, me apoiando nos cotovelos ao sentir os tremores me dominarem e me sacudirem inteira.
Sinto suas mãos nas minhas costas, seus dedos sobre minhas costelas, sua respiração pesada e quente contra minha pele úmida.

Instantes depois, ela desaparece (eu a treinei para ir jogar a camisinha no lixo do banheiro e lavar a prótese logo após o ato), e em sua ausência de alguma forma consigo me arrastar na cama e apoiar a cabeça no travesseiro, apesar de não ter energias para puxar as cobertas.

Ela reaparece e me surpreende se deitando ao meu lado. Não que a gente não tenha dormido juntas nenhuma vez nas últimas semanas, mas geralmente é uma situação de quase desmaio depois do sexo. Agora parece… diferente. Uma coisa deliberada.

Ela cobre meu corpo e se encosta em mim. Fico com a estranha sensação de que Bianca quer dormir de conchinha…

E gosto disso.

“Boa noite, Rafs”, ela diz, com a voz sonolenta.

Sorrio, sentindo pela primeira vez no dia como se tudo estivesse bem no mundo. Mas, quando estou prestes a pegar no sono, surge uma preocupação em minha mente.

Escapamos de uma boa hoje. Mas ainda vamos ter que encarar o fato de que uma das duas em algum momento vai dormir com outra pessoa.

Ou não?

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