Rafaella

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Bruna e eu nos conhecemos no segundo ano da faculdade. Para ser bem sincera, não foi amor à primeira vista. Não houve faíscas, não senti um frio na barriga quando me tocou pela primeira vez..
Foi mais um reconhecimento de que éramos as pessoas certas uma para a outra.

Tudo começou quando caímos no mesmo grupo de estudos de economia, que estava acabando comigo. Apesar de prestar muita atenção na aula e de estudar bastante, as tarefas dessa matéria eram mais difíceis para mim que qualquer outra coisa. Eu ainda estava tentando entender a pergunta enquanto os outros membros do grupo já elaboravam a resposta. Depois de um tempo, cansei de atrasar os demais, e passei a me matar para entender a matéria sozinha no quarto.

Então, numa noite em que estava me sentindo especialmente frustrada, à beira das lágrimas porque era a única que não entendia nada, Bruna fez exatamente a pergunta que eu tinha vergonha de fazer.

A mesma coisa aconteceu na pergunta seguinte. E na seguinte.

Foi só na quinta vez que Bruna se fez de desentendida que percebi que ela não tinha anotado uma única palavra daquilo que o grupo explicava com toda a paciência. Ela não estava nem com a tarefa nas mãos, porque já havia terminado horas antes.

Estava olhando para mim . Quando acenei com a cabeça em um questionamento silencioso, ela deu uma piscadinha.

E é assim, senhoras e senhores, que se conquista Rafaella Kalimann. Ajudando com a tarefa e dando uma piscadinha sutil e fofa.
Eu me apaixonei. De verdade.

E é bom lembrar que, no terceiro ano, quando Bruna estava se descabelando para entender o simbolismo na literatura britânica, fui eu quem forneci a ajuda, e de bom grado.

Sei que não é uma história das mais quentes, mas, como eu falei… parecia certo . Pelo menos até um tempo atrás.

Está na hora de confessar. Tenho vinte e quatro anos, estou no auge da minha saúde e forma física, tenho um relacionamento sério com uma garota maravilhosa… E minha vida sexual é uma merda.

Nem sempre foi assim. Perdi a virgindade no primeiro ano de faculdade com uma menina gata que morava no mesmo corredor que o meu no alojamento da universidade. Namoramos alguns meses antes de aprender a velha lição de que se dar bem na cama não basta para construir uma relação. Depois de vários jantares marcados por silêncios constrangedores, terminamos, sem ressentimentos.

Fiquei com uma amiga de Bianca uma vez naquele primeiro ano, mas foi numa noite de muita bebedeira e pouco juízo, então não deu em nada.

E então… veio Bruna.

O aspecto físico do relacionamento avançou de forma bem lenta. Nenhuma de nós duas queria estragar uma coisa tão legal apressando as coisas. Quando rolou sexo, foi muito bom. Ou bom. Na verdade, foi o.k.
Mas pelo menos rolava com frequência.

E então, uns dois meses atrás, a coisa simplesmente… parou de acontecer. Acho que até sei mais ou menos o motivo. Estou trabalhando feito uma louca, e ela ainda tem os estudos.

Mas já faz dois meses.

A seca em si não é tão ruim… Se a pessoa for solteira  Mas em um relacionamento sério, em que de vez em quando surgem até conversas hipotéticas sobre casamento, dois meses é tempo demais.

E não é que não tenha pintado nenhuma oportunidade. Tenho um quarto só para mim e Bruna mora sozinha.

Então por que estamos transando menos agora do que quando morávamos em alojamentos e precisávamos amarrar fio dental na maçaneta para que ninguém entrasse?

Enfim. Hoje isso vai mudar.

Caprichei na maquiagem e sou obrigada a admitir que estou linda. A regata preta e a calça jeans que estou usando não têm nada de mais, mas nem preciso disso.

Apenas amigas?Onde histórias criam vida. Descubra agora