Capítulo 16

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Eva

Estamos indo para a famosa rua das Pedras no centro. Quem vem em Búzios, tem que passar por lá.

É um lugar cheio de lojas, bares, restaurantes e hotéis, aonde fica a agitação nas noites.

Estou animada para conhecer,  já que pelas fotos é um lugar charmoso. Estacionamos um pouco distante da rua, já que, trânsito de carros não é permitido.

Passamos pela famosa estátua de Brigitte Bardot. Lógico que tirei fotos... É meio obrigatório fazer isso.

- Vou te levar num restaurante de comida italiana que amo. Depois podemos andar por aí.
- Tá bom, é lindo demais e aconchegante!
-Precisa ver em alta temporada, não dá nem pra andar de tão cheio que fica.
- Prefiro assim .. poucas pessoas, parece que o espaço é nosso para usufruir.
- Também sou fã desse lugar vazio, que os comerciantes não nos ouçam.
Eu acabo rindo do tom conspiratório que ele usa.

Chegamos num restaurante de arquitetura antiga, nos encaminhamos para as mesas.

Típica cantina italiana.

Tudo muito rústico, mesas e cadeiras de madeira escura, toalhas da mesa vermelhas, vigas expostas, paredes cheias de quadros e fotos contando a história do lugar. Amei!

Nós sentamos e logo o garçom se aproxima com o cardápio.

Eu escolhi um risoto de camarão e Murilo uma massa com frutos do mar. Para beber, escolhemos um vinho desta vez.

- Gostou do lugar?
- Nunca fui numa típica cantina italiana, mais imagino que seja assim.
- Muito legal né... É como mergulhar em outro mundo paralelo.
- Vc parece gostar muito daqui.
-Gosto muito, assim que perdi minha esposa, vinha pra cá sozinho para pensar. Esse lugar é mágico pra mim.
- Como ela era?

Ele suspira, fica um tempo pensando, quando acho que ele não vai mais me responder, ele fala.

-Ela era contagiante, uma força da natureza. Nunca estava de mau humor, sempre via o lado bom de tudo. Ela me fazia ser um homem melhor.

Eu me emociono com o que ele diz, pq é bom demais quando encontramos pessoas na vida, que funcionam como remedinhos para curar a nossa alma.

-Foi lindo o que vc diz sobre ela. Somos amigos, então sempre que vc quiser falar sobre ela estou aqui.

Pego a mão dele por cima da mesa e aperto.

-Eu me sinto culpado pela morte dela. Hoje em dia eu aprendi a lidar melhor com isso, mais quando aconteceu foi bem complicado. Eu me punir, e ainda acho que não mereço ser feliz de novo. Mais a terapia me ajudou um pouco.
-Pq vc se sente assim?
-Pq ela foi assaltada no meu carro, lá dentro estava minha identificação de policial. Eu não sei se esse foi o motivo de terem atirado nela na hora do assalto, pq o inquérito não mostrou nada sobre isso. Era pra ter sido um simples assalto com dois caras numa moto pegando ela no sinal. Testemunhas disseram que ela não reagiu, enfim, provavelmente viram minha identificação. E a identificação estava ali pq no dia anterior, eu tinha ido numa loja perto de uma favela.  Geralmente quando vou nesses lugares, deixo a identificação dentro do carro, no caso que aconteça algo e eles não achem.
-Sinto muito Murilo.
-O carro dela estava na revisão. Ela me pediu o carro para ir buscar um exame numa clínica, e eu me esqueci completamente que minha identificação estava lá.
-Eu nem sei o que dizer.
Falo enxugando uma lágrima que escorre pelo meu rosto.
-Isso já tem quase quatro anos... O pior já passou. Os dois primeiros anos foram terríveis pra mim, fiquei um tempo de licença da polícia, me isolei de tudo, até da minha família. Depois voltei a trabalhar mais era um suicida em potencial. Nem sei te dizer como eu sobrevivi aquela época. Bebia muito, dirigia bêbado, subia favela, era impulsivo no trabalho. Até que fui obrigado pelo meu superior a fazer terapia ou eu seria exonerado. Aí que as coisas melhoraram. Costumo dizer que o que me salvou foi a terapia e Búzios. Consegui entender, que a culpa não era minha.
-E não é mesmo, as coisas são como devem ser. Não tem como vc fugir do seu destino, vc pode escolher suas provas, mais precisa aceitar a colheita.
-Mais ainda luto com algumas questões na minha cabeça Eva. Eu não consigo ignorar minha culpa, quando me sinto feliz. É como se eu não tivesse o direito de ser feliz. Bia tbm estava grávida, o exame que ela foi buscar era o de gravidez, acho que isso tbm pesou demais na época. Sempre quis ser pai, era um sonho e não poder ter visto meu filho nascer e crescer, foi demais!
-Vc acha? Eu tenho certeza... Mais isso foi uma tragédia que aconteceu em sua vida Murilo, vc de forma alguma teve culpa nisso. Eu queria muito tirar essa dor do seu peito e fazer vc enxergar o quanto vc é especial.

Sempre te amareiOnde histórias criam vida. Descubra agora