Capítulo 39

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Eva

Tem duas horas que Murilo já foi embora, e eu ainda não me recuperei de nosso encontro. Me mantive distante como ele demonstrou querer.

Mais só em ver, derrubou todos os muros que suspendi nesses 5 anos.

Sou feliz com Dan, temos uma família abençoada. Sou mãe, e muitas coisas mudaram depois que me tornei uma, uma delas são minhas prioridades. Eu e Danilo temos uma relação boa, ele é um companheiro muito carinhoso, se preocupa com meus desejos, coisa que a grande maioria dos parceiros que tive, não se preocupavam. Ele se empenha quando percebe que está difícil pra mim. Ele se importa!

Então se eu tenho tudo isso, pq será que ainda continuo apaixonada por um cara que definitivamente, não me quer na vida dele? E dessa vez, ele não me quer nem como amante...

Aonde eu deixei meu amor próprio?

São tantos sentimentos confusos. Sempre foi assim em relação a ele. Quando estou perto, nunca tenho certeza sobre nada, sempre ajo por impulso e necessidade. É como se a minha capacidade de discernir as coisas não existisse mais. Eu sou apenas emoção!

Tiro o jaleco para ir comer algo. Já são duas horas da tarde, e eu não consegui almoçar.

- Bruno, vou no café ali da esquina, pegar um lanche, fique de olho no Dom.
- Pode deixar... Ele está melhor, já levantou a cabeça e já está andando.
- Que bom! Não queria perder ninguém  hoje!
-O dono dele está arrasado!
- Eu imagino, é sempre difícil para os donos.

Me despeço do Bruno, e saio da clínica para respirar um pouco de ar puro. As ruas andam vazias nesses tempos, e com isso pouco carros e menas poluição.

O comércio está funcionando de portas fechadas, pelo menos a grande maioria, tiveram que adaptar uma nova  forma de trabalhar. Como estamos localizado no centro comercial de Ipanema, os restaurantes e cafeterias estão funcionando com delivery ou entrega na calçada. Vc chega, pede o que quer na calçada e um funcionário embala e te entrega. Eles foram obrigados por lei a fechar as portas, apenas funcionando o que é considerado serviço essencial, como consultórios, farmácias e mercados.

Chego a cafeteria e a funcionária logo me vê, e abre um sorriso.

-O de sempre?
-Sim, só inclui uma porção de pão de queijo.
-Ok!

Ela entra, pega meu mate duplo, meu croassant e porção de pão de queijo. Embala tudo numa bolsa de papel e me dá.
-Obrigada querida!
-Obrigada você, bom trabalho!
-Bom trabalho!

Vou para a orla e me sento no murinho que separa o calçadão da areia. Eu amo vir aqui e já virou hábito me sentar, comer meu croassant e depois voltar para a clínica.

Nesses dias em que ninguém sai de casa, se tornou meu passeio preferido, pois a praia está vazia, a não ser um ou dois surfistas se aventurando por lá. Olho de novo para o mar e vejo um surfista, sentado numa prancha como se tivesse meditando.

Logo me vem a mente Murilo.

Quando ele surfava ele fazia muito isso, as vezes não pegava onda nenhuma, mais só em entrar no mar, sentar numa prancha e contemplar tudo isso, já ganhava o dia.

O mar também sempre teve esse domínio sobre mim, claro que nunca precisei de uma prancha para isso, eu era mais modesta, pra mim era só sentar na areia e olhar o horizonte.

Continuo olhando o surfista solitário de costas para mim, quando ele se vira, sai da prancha, e vem nadando até a beira. Ao se levantar vejo que o surfista solitário é o próprio.

E o que eu faço? Me levanto rápidamente e vou embora.

Pq a última coisa que eu quero é que ele pense que eu estou vigiando ele ou seguindo.

Sempre te amareiOnde histórias criam vida. Descubra agora