It's like that, and it always will be- AFTG

Capítulo 62- Izzy

Sozinha no vestiário feminino termino de me vestir, enquanto arrumo meus equipamentos e uniforme para colocá-los no armário ao sair.
Procuro o relógio vermelho pendurado na parede da porta de saída e vejo que já são 00:30h. Me apresso para calçar os tênis e saio do vestiário, logo depois. A quadra está vazia, e não há mais ninguém nos vestiários. Isso me permite respirar um pouco sem ter nenhum Corvo a minha volta.
Vou até a sala que fica os armários e guardo minhas coisas rapidamente. Pego meu caderninho de música que Jean me entregou quando cheguei aqui e tomo caminho para o corredor dos dormitórios.
Conforme mais me aproximo do Corredor Negro e do Corredor Vermelho, meu corpo passa a tremer. Já faz três dias que fui transferida para o dormitório de Riko. Faz três dias que durmo na cama que Kevin dormia e sou obrigada a olhar seus pertences acima da minha cabeça.
Riko não deixou que eu tirasse absolutamente nada dele do lugar. Nem mesmo do armário que pertencia a Kevin. O cheiro de suas roupas me invadem, junto a vontade incessante de senti-lo e abraça-lo, a cada vez que abro aquelas portas para pegar minhas roupas.
Na primeira noite que passei no mesmo dormitório que Riko, eu não fui capaz de dormir. Nem na segunda noite, e provavelmente nem hoje irei conseguir. A cada vez que Riko se mexia na cama de baixo, meu corpo estremecia com o medo.
Contudo, na madrugada passada, me permiti pegar um dos livros de história que estava na prateleira. Vi que tinha uma luminária para leitura logo ao lado dos livros, e a peguei também. A luz não era muito forte, mas o suficiente para ler. Me peguei imaginando se era assim que ele lia quando as luzes de apagavam e todos estavam dormindo. Conforme virava as páginas, via as anotações que Kevin fazia nos rodapés das folhas. Algumas dessas anotações me tiraram sorrisos.
Ele realmente gosta muito disso.
Uma das coisas que eu mais amava era ouvi-lo falar sobre história. Ver o brilho em seus olhos, a animação e o amor com que falava sobre o assunto era capaz de prender minha atenção por horas. É hipnotizante ver uma pessoa falar sobre algo que realmente ama fazer.
Quando chego na porta do dormitório, eu paro com a mão na maçaneta. Como todos os dias, temo que ele já esteja dentro do quarto, mesmo sabendo que está. Respiro fundo e coloco minha mão dentro do bolso do moletom, passando a pressionar as unhas na palma da mão. Giro a maçaneta, deixando que a porta abrisse sozinha e entro evitando olhar na cama de baixo.

— Demorou para chegar, aonde estava?— ouço a voz de Riko questionar enquanto fecho a porta

Ignoro sua pergunta porque ele sabe muito bem aonde eu estava, já que é ele quem me obriga a arrumar a quadra todas as noites por meu desempenho que nunca está a sua altura.
Sigo até o armário e abro as portas, inspirando o cheiro gostoso que sai dali. Fecho meus olhos por um segundo, permitindo que aquele aroma me levasse direto para as vezes que eu estava abraçada a ele enquanto sentia esse mesmo perfume.
É uma das coisas que tem o poder de me acalmar, assim como seus olhos esmeraldas.
Volto a abrir os olhos, interrompendo o que passava em meus pensamentos. Tiro a blusa de moletom que eu usava e penduro em um dos cabides soltos. Substituo o moletom por um casaquinho de lã que uso para dormir.
Não troco o resto por sempre colocar no vestiário a roupa que usarei para dormir.
Eu nunca teria a coragem de trocar de roupa no mesmo lugar que Riko. Nunca conseguiria.
Estou fechando as portas do armário quando Riko diz:

— Não entendo porque insiste em se trocar no vestiário, sinceramente.

Me viro, o encontrando deitado em sua cama enquanto equilibra no dedo indicador uma pequena faca de cabo vermelho vibrante. Meus olhos se fixam nessa faca que me faz lembrar da descrição que Kevin já fez a mim de uma exatamente igual.
E ele sabe muito bem a porra do motivo.

— Vá para o inferno, seu desprezível de merda. Você sabe o porquê.

— Está vendo essa faca?— Riko diz, sem olhar para mim enquanto equilibra a mesma no polegar— Acho melhor você começar a me respeitar e medir suas palavras quando se dirige a mim.