Capítulo 72- Kevin

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Era madrugada quando acordo com o som insistente e alto do celular de Andrew. A ligação seguia tocando e eu não sabia se ele estava apenas ignorando, ou se apenas não havia acordado com a música irritante e incessante.

— Andrew— Nicky diz do outro quarto com a voz arrastada— Desliga essa merda.

Alguns segundos se passam e o som cessa. Vejo o celular sendo colocado com a tela para baixo, de forma bruta e irritadiça.
Contudo, o silêncio não dura mais que um minuto e o celular volta a tocar novamente. Andrew não deixa que a ligação passe do segundo toque e desliga.
Ouço a cama de baixo ranger e Andrew sentar no colchão quando o celular volta a tocar segundos depois, respirando alto com a nítida irritação de estar sendo importunado de madrugada.
No terceiro toque e na segunda vez que Nicky manda impacientemente que Andrew desligasse o celular, a ligação é atendida.

— Alô— Andrew diz, irritado e impaciente

Ele fica em silêncio, assim como a linha. Nada além de uma respiração ofegante era escutada.
Parecia ser a respiração de uma mulher pelo o que pude ouvir.

— Alô— ele tenta de novo, ficando mais irritado

— Andrew…— ouço uma voz feminina falar do outro lado da ligação

Sua voz estava fraca e parecia estar chorando. Ou algo similar. O tom de sua voz era quase desesperado, mas havia algo como alívio ali.
O silêncio recai entre Andrew e a pessoa do outro lado da linha. Todo o nervosismo e raiva de Andrew se dissipou em questão de meros segundos.
Levo um momento para me dar conta que eu não ouvia mais a respiração impaciente de Andrew. Seu tom de voz é baixo, tão baixo que quase não escuto quando sussurra o nome da pessoa que eu mais temia de estar ligando de madrugada.

— Izzy?— ele levanta da cama com os ombros tensos como nunca vi em minha vida

Me sento na cama quase de imediato.
Eu sabia o motivo da ligação mesmo antes dela dizer, mas, ainda temia estar certo. Eu esperava que não estivesse. Esperava de verdade.
Estou para descer da beliche quando ele acende a luz do quarto.
A voz de Izzy estava trêmula enquanto repetia o nome de Andrew, estava trêmula por causa do choro e desespero. Seu tom exalava desespero e pânico.
A mão de Andrew tremia enquanto segurava o celular. Andrew tremia.
Eu nunca o vi tremer dessa forma. De uma forma tão… Explícita. Ele não escondia o desespero e aflição que estava sentindo. Pela primeira vez, ele não escondia porque não conseguia.

— Andrew… Socorro…— salto da cama ao escutá-la novamente. Voz de choro, pavor, terror. Ela estava aterrorizada— Abra essa porta, porra!

E não era sua voz que gritava. Não era a voz de Iz. Era a de Riko.
Andrew ainda está paralisado em frente ao interruptor. Me aproximo o suficiente para conseguir vê-lo olhando fixamente para a parede branca do quarto. Seus olhos estavam arregalados e ele respirava pouco. A mão ainda estava no interruptor e tremia tanto que seria capaz de apagar a luz novamente.

— Izzy?— sua voz é alarmada

— Andrew…— ela chorava do outro lado da linha, sua voz estava trêmula e falha— Ele me machuc… Andrew, socorro— ela para de falar quando Riko começa a socar a porta enquanto gritava:— Abre essa porra! Eu estou mandando!

— Aonde você está?— Andrew pergunta

— Eu não sei… Eu estou com medo, eu não sei o que fazer…— desespero que havia em sua voz me quebrou— Andrew… Kengo morreu. O pai de Riko está morto.

Andrew olha para mim imediatamente.
Balanço a cabeça sem conseguir parar. Kengo morreu…
Não pode ser.
Meu desespero começa a me tomar ao ouvir Riko gritar cada vez mais do outro lado da linha. Ele estava totalmente sem nenhum controle. Sua raiva estava em um nível maior do que jamais esteve. A dor que ele sentia o faria matar Izzy se chegasse até ela.
Andrew me estende o telefone e eu pego imediatamente. Ele me deixa falando com Izzy enquanto ia até o armário para se trocar e ir buscá-la, provavelmente.

It's like that, and it always will be- AFTGOnde histórias criam vida. Descubra agora