Faltava menos de uma hora para o jogo começar e eu sentia todo meu corpo tremer. Não sabia dizer se era nervosismo de saber quem sairia ganhador esta noite ou a ansiedade de interagir com minha equipe depois de quase cinco meses.
Irá completar cinco meses amanhã. É algo que me surpreende às vezes. Faz quase cinco meses que estou nos Corvos mas ainda sinto que sou uma completa intrusa dentro desse lugar. Nem parece que um dia já vivi aqui durante três anos.— Vamos— Riko diz enquanto abria a porta do dormitório
Ele não sai da minha cola desde a semana retrasada. Se recusa a me deixar sozinha depois de ter me flagrado com um pedaço de vidro quebrado do meu pequeno espelho que ele quebrou em um dos nossos confrontos. Ele não é idiota e sabia o que eu iria fazer com aquele vidro em um banheiro vazio no meio da noite.
Eu posso ter o odiado ainda mais naquela noite, mas me odiei mais por ter cogitado essa ideia pela segunda vez na minha vida. Mesmo depois de ter prometido a mim mesma que nunca mais pensaria nessa hipótese. Por meu irmão e meus primos. Por Kevin. Mas pensei.
Mas, sendo sincera, eu sabia que nunca conseguiria reparar todo o estrago que Riko viera fazendo dentro e fora de mim durante esses meses. Eu entrei em um lugar que é totalmente escuro e todas as portas e janelas estão trancadas e barradas por grades de ferro, me impossibilitando de fugir. Por mais que eu gritasse por socorro, ninguém me ouviria. Parecia como se eu estivesse presa em um lugar em que era a prova de som. Ninguém conseguiria ouvir meus gritos e choros.
Ninguém ouviria e nem viria me socorrer.
Novamente.
Pego minha mochila e coloco um pedaço da folha do meu caderno dentro, junto com a troca de roupa que eu usaria após o jogo desta noite. Saio do dormitório fechando a porta e sigo Riko pelo corredor, passando pelos quartos de outros jogadores da equipe. A maioria estava já vazia, indicando que muitos já estavam se preparando para a partida que decidirá se eles sairiam desta temporada vencedores ou não.
E eu farei de tudo para que a resposta seja não.
Abro a porta do vestiário feminino e entro, ignorando seja lá o que Riko começou a dizer a mim. Até a voz dele me irritava a essa altura do campeonato. Jenkins e Jasmim, as únicas jogadoras mulheres da equipe, já estavam colocando o uniforme do time. Não iríamos colocar os equipamentos ainda por faltar uma hora para a partida iniciar, mas sempre colocamos os uniformes para se caso fossemos parados por entrevistadores.
Vou até o armário que guardamos nossos itens de higiene no canto do vestiário para pegar o uniforme que usamos nas competições. Havia deixado aqui para facilitar. Mas ainda tinha que ir até a sala que os armários ficavam para pegar os meus equipamentos.
Tiro minha calça jeans e troco pelo shorts preto com detalhe vermelho nas bordas. Depois troco a camiseta que usava pela camisa da equipe. Na frente o nome da universidade estava estampado, com o número "04" logo embaixo. Pego a meia preta dentro do armário depois de ter guardado minhas roupas e vou para o banco calçar os tênis.
Logo após de calçar os sapatos volto para o armário. Coloco o tênis que eu estava na última prateleira e pego em minha mochila o papel. Deixo o elástico de cabelo em meu pulso para prender mais tarde.— Espero que você não se esqueça em que equipe está quando estiver jogando— Jeckins diz, prendendo o cabelo preto em um coque alto— Você é não mais daquela equipezinha inútil. Faz parte da melhor, agora.
Da melhor, penso rindo. É claro.
— Espero que você não se esqueça de olhar para trás enquanto estiver jogando— respondo enquanto saio do vestiário— Nunca se sabe quando vai dar de cara no chão.
Quando cheguei no pátio interno, vi alguns rostos familiares, o que tirou um breve sorriso de mim. Sabia que não poderia chegar perto de nenhum deles estando na visão de Riko e dos Corvos. Por isso, apenas fiquei olhando de longe. Era o suficiente para mim.
Olho para as arquibancadas e não parecia ter ninguém do lado das Raposas, porém percebo que estavam divididas em grupos de estudantes e fãs em diversos tons de laranja. As Raposas acenaram para todos os rostos amigáveis que conseguiram enxergar, ganhando aplausos animados e punhos para o alto. A torcida dos Corvos foi rápida em retaliar, levantando e rugindo vaias do fundo de seus pulmões.
No meio de cada sessão havia um torcedor vestido com listras vermelhas e pretas e, um após o outro, estenderam as mãos no ar. Cinco minutos depois, quando a sessão inteira, do chão as vigas do teto, pularam como um só. Quando sentaram novamente, a próxima sessão saltou e uma onda estrondosa cercou o estádio.
Ignorei os fãs dos Corvos e voltei a atenção para minha equipe quando ouvi a voz de Nicky gritar animado.
Meu irmão passou por Neil e correu para as arquibancadas. A primeira fileira estava vazia, com um segurança em cada extremidade. Deduzi que seria onde os convidados das Raposas sentariam. Só entendi o motivo de meu irmão estar correndo quando vi Erik Klose mostrando sua credencial ao segurança. Como ele ouviu Nicky, eu não fazia a mínima ideia, mas ele ouvira. Erik se afastou imediatamente do guarda e se inclinou sobre a grade de segurança para dar um abraço feroz em meu irmão. Nicky se agarrou a ele como se tivesse passado anos sem vê-lo. Isso arrancou um sorriso de mim. Meu irmão pegou o rosto de Erik e beijou seus lábios ferozmente com um sorriso enorme.
O restante dos convidados das Raposas apareceu segundos depois. Quatro das irmãs de Dan vieram e três usavam vestidos brancos customizados com "RA-PO-SAS". A quarta tinha a pata de uma raposa onde as outras tinham as letras. Stephanie Walker, mãe adotiva de Renee, abraçou minha amiga como se fosse para sempre. Os pais de Matt tinham os lugares ao lado de Stephanie e abraçavam meu amigo orgulhosos de onde chegou. Betsy foi a última a chegar ali. Ela sorriu para meus amigos e foi para perto de Abby.
Finalmente, meus olhos encontraram Neil, Kevin e Andrew. Os três somente olhavam os outros cumprimentarem as pessoas que convidaram. Eu queria que eles me vissem aqui, como queria, mas não aconteceu. Nem perceberam minha presença do outro lado da quadra.
Uma vontade de chorar invade meu ser ao vê-los do outro lado. Ao me perceber sozinha mais uma vez. Olho ao meu redor e não vejo ninguém dos Corvos, o que me alivia. Odiaria que me vissem chorando.
Seco a lágrima que escorreu e engulo o choro, tomando caminho para fora da área que estou.
Volto para a sala de descanso dos Corvos e me sento na poltrona. O lugar está vazio, o que eu agradeço. Olho para a televisão ligada e fecho os olhos.
Eu odeio tanto essa sensação. A sensação de que algo ruim vai acontecer mas que não sei o que. Sempre convivi com ela desde que voltei para cá, mas hoje ela está me sufocando.
Respiro fundo, empurrando tudo que sinto por debaixo de um tapete e abro os olhos. Afundo a mão no bolso esquerdo do meu shorts e pego o papel. Olho minha letra e as palavras escritas ali.
Guardo rapidamente a folha quando dois Corvos entram na sala. William e Jeckins olham para mim e eu me levanto da poltrona, não suportando ficar no mesmo ambiente que os dois.
Saio da sala e sigo até o fim do corredor. Passo as mãos pelo rosto e saio da área dos Corvos em silêncio. Quando tenho a certeza que ninguém me viu entrando a lateral interna das arquibancadas, onde ficava algumas tranqueiras dos jogos e a passagem pouco usada para a área onde as equipes adversárias ficavam, eu entro. Ando aceleradamente por odiar a escuridão desse lugar e abro a porta de metal do final do longo corredor de onde minha equipe estava.
Pego o papel novamente e passo de sala em sala, procurando por algum deles. A maioria das portas estavam fechadas, as que estavam abertas e com luzes acesas eram somente as mais próximas dos vestiários.
Quando começo a ouvir a voz de Neil, Andrew, Wymack e Kevin sei que estava perto. Havia uma terceira voz, mas não identifiquei e deduzi ser algum convidado. Conforme mais me aproximava da quinta sala do lado esquerdo do corredor, sinto algo dentro de mim ameaçar me fazer congelar ao ouvir as vozes aumentarem. Paro ao lado da porta e abro o papel dobrado. Eu sabia que se Riko descobrisse o que eu estou fazendo, ele provavelmente me mataria. Mas sinceramente, estou um pouco de fodendo para isso.
Dou um passo meio hesitante e fico em frente a porta aberta. Ninguém estava na visão da porta para que me visse ali. Todos estavam de costas, olhando para duas pessoas em específico na sala. Mas eu pude ver tudo o que estava acontecendo ali.
Ou o que quer que porra estivesse acontecendo ali.
Kevin estava sentado no sofá de couro que ficava encostado na parede de frente para a porta. Em seu colo, uma mulher estava em cima. Meu cenho se franziu e as coisas que assumiram minha mente foram capazes de fazer a raiva assumir o lugar dos sentimentos ruins que eu sentia segundos antes de entrar nessa sala. É impressionante a forma que a raiva tomou conta de mim.
A mulher estava de costas para a porta, então tudo que eu pude ver foi seu cabelo preto e grosso. Os fios crespos estavam trançados para trás em duas tranças embutidas com fios amarelos. O vestido curto que ela usava não cobria suas longas pernas torneadas e os braços esculpidos.
E porra, ela era bonita pra cacete. Eu não o julgava por isso, ela era realmente muito linda.
Kevin estava com suas mãos na cintura dela enquanto seus olhos estavam inteiramente nela. As mãos dela estavam nas laterais de seu rosto, tocando sua pele de forma delicada.
Meu sangue ferveu diante daquilo.
Eu quis sumir daqui diante do que eu via. Me recusava a ficar no mesmo ambiente que os dois. Mas por mais que eu quisesse deixar esse lugar, minhas pernas não me obedeciam.
Eu estava congelada.
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It's like that, and it always will be- AFTG
FanficIzzy Hemmick é conhecida como uma das melhores atacantes no mundo do Exy que joga ao lado dos maiores jogadores do esporte: Kevin Day e Riko Moriyama. Porém Izzy sai do time após seu contrato de três anos ter terminado com o time. Neste mesmo dia, h...