16 - Decisão tomada

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RAFAELLA

Tomar a decisão de tratar Gizelly como uma pessoa qualquer foi muito difícil. Por isso quem esteve com meu telefone celular todas as vezes para responde-la foi Manu. Havíamos conversado logo após eu ter me chateado quando cheguei em casa. Já na aula, no dia seguinte, foi um esforço enorme para recusar seu convite para o almoço. Esforço "entre aspas", pois eu ainda estava chateada e enciumada pelo que vi através da tela do meu telefone celular na noite anterior.

Os dias naquela semana passou como a velocidade da luz. Não falei mais com Gizelly, no entanto, apenas a vi de longe. Fiz questão de permanecer em minha ala durante todos esses dias. E de onde eu estava, durante os intervalos e almoço, assistia suas movimentações pelo campus. Ela e seus amigos. Marcela, porém, vez ou outra aparecia perto deles. E parece que agora, não desgruda mais. Conversamos através de mensagens, mas nem tanto. Minha intenção é desapegar, pois se caso aconteça algo mais à frente, não vou sofrer tanto. Em algumas noites ela tentou me ligar, mas eu sempre dava desculpas para não atender. E ela acabava entendendo. Porém, quando eu negava algum pedido seu, eu me sentia mal, me sentia triste, e danava a chorar.

Hoje, sexta-feira, é dia de ensaio da peça. Depois que todas as aulas terminaram, segui para o ginásio onde acontecia as montagens de cenários e costuras de figurinos. O tempo estava correndo, e faltava apenas duas semanas para a apresentação.

Assim que o ensaio começou, João e eu que éramos os principais, esperávamos nossa cena para ensaiar. Os demais componentes da peça ensaiavam as cenas paralelas. João estava empolgado, porque na verdade era nosso primeiro ensaio juntos. Eu ensaiava com Manu em casa, e isso era uma coisa a qual ocultei de Gizelly desde quando a própria Manu respondeu suas mensagens na noite de domingo.

- Kalimann e Castro, é a vez de vocês.- A professora e contracenista chamou nossa atenção.

Fomos juntos para o palco e lá já estava impovisado nossa cena. Seriam três: A cena de quando Romeu e Julieta se conheceram, a cena da janela, e a cena em que Julieta bebe o veneno.

Começamos por ordem, passamos tempo demais ensaiando uma cena após outra. E quando o cenografista e os demais roteiristas estiveram satisfeitos com o resultado, passamos para a cena final.

Subi em um totem que simbolizava a janela e começamos a ensaiar. Em todo momento, as falas me lembravam o dia em que ensaiei com Gizelly em sua casa. Todas as vezes era assim, até quando ensaiava com Manu em meu quarto.

- Meu lábio, peregrino solitário, demonstrará com sobra, reverência.- A fala de João interpretando Romeu, imterrompeu meus devaneios. Logo voltei à cena.

- Esse é o beijo mais santo e conveniente.-

- Os santos e os devotos não têm boca?- Ele se aproximava cada vez mais.

- Sim, só para orações.-

Eu sabia que isso tudo fazia parte da cena, mas eu estava tão chata essa semana, que pensava rápido para não chegar na parte em que estava prestes a acontecer.

- Deixai, então, que esta boca mostre o caminho certo aos corações?!- Novamente voltei em si, quando percebi que ele havia subido o último degrau e me alcançado.

- Sem se mexer, peregrino, o santo exalça o voto.- Recitei conforme a cena pedia, com uma de minhas mãos em seu peito.

- Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados...Que passaram, assim, para meus lábios.- E assim acabou com todo o espaço entre nós.

Quando seu rosto chegou perto demais do meu, e seu lábio quase encostou no meu, segurei em seus ombros e o empurrei levemente para lhe afastar. Ele me olhou confuso.

Duas garotas, um encontro. (Girafa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora