1 │ 𝔱𝔢𝔪𝔬𝔯𝔢𝔰 𝔭𝔯𝔬𝔣𝔲𝔫𝔡𝔬𝔰

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"In the land of gods and monsters, I was an angel

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"In the land of gods and monsters, I was an angel."

GODS & MONSTERS

Vozes sussurravam do cômodo escuro. Difusas, tenebrosas, mas familiares.

Eram tão recorrentes que ela já reconhecia o timbre – um conjunto grotesco de várias vozes que se afunilavam em apenas uma, murmurando baixinho, contínuo, feito um encantamento...

Ela já estava acostumada, mas isso não tornava a sensação menos insuportável.

Mesmo que esmagasse as orelhas para cessar a audição, conseguia ouvi-los dentro da sua cabeça, rodeando sua sanidade feito abutres famintos, bicando e dilacerando a sua paz até não sobrar nada além de terror e a mais profunda angústia.

Ela se apressou para fora da casa sem se importar em trancar o único lugar que tinha como "um teto sobre sua cabeça." Já vivera das mais terríveis ilusões dentro daquela casa nos últimos meses, que se perguntava se sob a ponte mais próxima não teria um pouco mais de paz.

Olhou brevemente para as ruas abaixo onde se estendia um cenário mais iluminado, ainda que mantivesse a pacatez característica de Saint Darrel. Acima, em direção ao seu destino, só havia breu, a claridade escassa do interior de algumas janelas e o cricrilar dos grilos em meio ao arrastar dos passos de Dahlia.

Saíra de casa sem nem se importar com as peças de roupas maltrapilhas as quais vestia – uma saia plissada velha com uma cor bege desgastada pelo tempo e um moletom branco que carregava o cheiro de Lucian. Todo o amontoado de tecidos fazia-a parecer ainda mais franzina.

Mas não havia motivos para se preocupar com suas vestes ou sua aparência. Ninguém iria notá-la, e o medo insistente que ainda a sufocava a impedia de se importar.

Subiu as ruelas do bairro humilde à passos apressados, quase correndo. Entrou na casa da única pessoa que conhecia naquele lugar, mesmo morando há meses na vizinhança. Logo no pequeno hall, percebeu que a mulher não estava sozinha. Estava acompanhada de uma jovem que aparentemente tinha a sua idade.

Engoliu em seco, agradecendo em silêncio por não ter cuspido seus temores em prantos logo ao entrar sem bater, como sempre fazia.

Ela encarou a garota, que tinha os olhos grandes e cristalinos voltados na sua direção com curiosidade. Os cabelos negros em corte Chanel estavam seguros atrás das orelhas e, mesmo que todas as suas peças de roupas fossem de tons extremamente escuros e de um estilo um tanto quanto ousado, seu rosto de boneca a fazia parecer... inocente.

O olhar afiado, no entanto, dispensava essa cogitação.

Dahlia desviou sua atenção dos olhos da garota, voltando-se para a feição preocupada de sua única confidente na vizinhança. Questionou-lhe o paradeiro de seu namorado – ainda ouvindo no fundo da sua mente os ecos da voz que sussurrara dentro da casa a qual ela sempre achava estar sozinha, mesmo sob a constante sensação de que algo a acompanhava.

FLORESCER PROFANOOnde histórias criam vida. Descubra agora