2 │ 𝔣𝔢𝔫𝔬̂𝔪𝔢𝔫𝔬 𝔢𝔰𝔱𝔯𝔞𝔫𝔥𝔬

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"Everybody told me love was blind, then I saw your face, and you blew my mind

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"Everybody told me love was blind, then I saw your face, and you blew my mind."

LUCKY ONES

Ele adentrou o quintal de uma casa vazia, silencioso e furtivo feito a própria escuridão encarnada.

O local estava organizado demais para ser considerado apenas um terreno baldio, diversas plantas e flores adornavam o entorno. Pela falta de ruídos no interior da residência, ele assumiu que os moradores estavam ausentes, o que tornara aquele quintal o lugar perfeito para se esconder.

Puxou a garota pelo braço e levou-a para o canto, pressionando-a de costas para a parede e ficando de frente para ela, tornando assim possível observar de longe a porta de entrada ao mesmo tempo em que mantinha os olhos nela.

Inquieto, ele ouviu os primeiros ruídos dos homens se aproximando e se deu conta de que estavam mais próximos do que sequer poderia presumir. Conseguia ouvir seus passos, os dedos entorno das armas divinas, mas não a respiração, nem mesmo os ruídos de sua pulsação.

Os desgraçados eram malditamente discretos e tinham suas artimanhas. Esse pelotão em especial parecia bem mais treinado do que os que recorrentemente eram enviados em seu encalço.

Um formigamento sutil subiu pelos seus tornozelos e ali ele soube que seu tempo estava se esgotando. Apertou os lábios, contendo o palavrão na garganta e tentando controlar a energia que se findava. Mas sabia que era em vão. A qualquer momento, iria acontecer...

Ele se perguntou por um ínfimo segundo qual seria a reação dela e imaginou que sua feição assustada o faria rir, mesmo em meio a circunstâncias claramente tensas. Baixou o olhar para observá-la, estranhando seu silêncio absoluto. Ela estava estranhamente inerte. Parecia paralisada... pelo medo.

Essa percepção não o fez rir, pelo contrário. O incomodou... profundamente.

Ele franziu o cenho, estranhando a si mesmo. Certamente não a conhecia, mas não conseguiu ignorar a aflição bizarra que tomou seu âmago diante do breve vislumbre de deixá-la sozinha e a própria sorte.

Ele encarou os olhos castanhos, que miravam o nada, sem nenhum foco. A proximidade entre os dois era significativa. Conseguia sentir a energia que irradiava dela. Crispou os olhos, o gosto doce sutil tomando sua boca. Era ameno, embora lhe dominasse o paladar por inteiro, descendo pela sua garganta e nublando seus pensamentos.

Nesse momento, ele quase conseguiu compreender parcialmente a necessidade estranha de mantê-la por perto. Esse instinto incoercível tinha um motivo.

O gosto dela era viciante. De um jeito terrivelmente bom.

A encarava meio confuso, meio intrigado, se esquecendo completamente dos inimigos próximos e de sua capacidade chegando no limite, quando de repente, o formigamento sutil que subia sua pele alcançou seu rosto no maldito instante em que sua face transmutou para sua forma original.

Ele fechou os olhos com força.

Cedo demais.

Merda.

Seu tempo havia acabado. Seus poderes estavam esgotados por agora.

E a situação piorou quando baixou o olhar e percebeu a expressão completamente em choque da menina, que encarava seu outro rosto, os olhos castanhos arregalados em espanto.

Ela abriu os lábios para dizer algo com dificuldade e, de súbito, ele levou a mão a boca dela, calando-a antes que tivesse a chance de pronunciar sequer a primeira sílaba.

Ele aproximou seus rostos, os olhos na altura dos dela, e franziu o cenho profundamente num alerta silencioso. Se ela emitisse qualquer ruído, os descobririam, e ele não tinha nem como se defender com os seus poderes no limite.

E permaneceram daquele jeito por segundos que pareceram uma eternidade.

Dahlia apertava os olhos, se forçando a despertar do que parecia ser mais um de seus pesadelos, e ofegava contra os dedos fortes que tomavam sua boca, tentando a todo custo conter o ímpeto de olhar o perfil do rosto bonito que antes estava escondido sob outra face – que ela acreditava ter sido a mais bela que já vira, até ele transmutar para essa, de uma forma tão irreal. Não parecia real!

Os cabelos claros ondulados haviam sido substituídos por fios lisos e tão negros quanto o céu daquela noite. Não havia mais um tom de bronze em sua pele, que agora era quase translúcida de tão branca e adornada com as mais diversas tatuagens, todas pretas. As írises gentis de cores distintas eram agora tingidas por tempestuosos tons de um azul ciano vívido.

O branco de sua pele, o negro de suas tatuagens e dos seus cabelos, o azul quase inumano de seus olhos... todo o conjunto, o contraste era magnífico, e ela estaria boquiaberta se não estivesse com os lábios selados pelos dedos longos, impedida de emitir qualquer ruído.

Era o homem mais lindo que ela já vira.

E só podia ser outro pesadelo.

É outro pesadelo.

Dessa vez, um dos mais confusos pesadelos que já tivera em toda a sua vida.

Dahlia sentia o coração tão acelerado, que se os homens que os perseguiam estivessem do outro lado da parede decerto seriam capazes de ouvir.

Mas é apenas um pesadelo. Era a única explicação possível. Ele simplesmente mudou de rosto!

Abriu os olhos a tempo de encarar o subir e descer do pomo-de-adão quando ele engolira em seco. Não parecia real.

Subiu o olhar pela delimitação das mandíbulas fortes, o rosto liso, a pele incrivelmente branca, o desenho dos lábios róseos e bonitos, as tatuagens que lhe desciam o pescoço. Ele não parecia real!

Observou os olhos tão azuis que pareciam brilhar, semicerrados e centrados em outro ponto que não fosse ela, profundos e donos de uma intensidade que jamais vira em nenhum outro olhar.

Tornou a fechar os olhos com força, abismada com toda a magnitude das sensações tão repentinas e arrebatadoras que começaram a preenchê-la. O que está acontecendo comigo? É apenas um pesadelo. Só podia ser.

E ela precisava urgentemente acordar.

Porque tudo naquele rapaz desconhecido surtia em seu interior um magnetismo inumano. Tudo nele a atraía, a puxava, e mesmo a proximidade gritante não parecia suficiente para suprir essa necessidade absurda.

Estava ofegante, agora por outras razões.

Se perguntou se ele sentia o mesmo.

Ao erguer o olhar e perceber os olhos dele já previamente em si, soube que sim.

⋅•☽◯☾•⋅

NOTAS:

"Todos me disseram que o amor era cego, então eu vi seu rosto e você explodiu minha mente."

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FLORESCER PROFANOOnde histórias criam vida. Descubra agora