1 - Retorno

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Observe com cuidado,
a magia que ocorre,
quando você dá para alguém,
conforto o suficiente,
para que ela seja ela mesma.
– Atticus

Port Angeles estava nublada, o que era certo progresso pois uma hora antes quando em Forks, as nuvens "choravam" copiosamente.

Puxei o quebra-sol, e ajeitei o cabelo enquanto me olhava no espelhinho.

— Dava tempo de ter passado em casa — resmunguei.

— Não dava, não — meu pai, que dirigia, resmungou de volta.

— Olha esse engarrafamento! — apontei para a fila de carros parada na nossa frente.

Teoricamente, era a fila para entrar no aeroporto, mas era tão grande que eu nem conseguia ver o lugar de onde estávamos.

— Você podia pelo menos ligar a sirene — sugeri para meu pai, considerando que estávamos na viatura de polícia dele.

Ele me olhou feio.

— Essa não é uma emergência.

— Tem razão, a emergência é que tem golfo de bebê no meu cabelo.

— Tem lenços no porta-luvas.

Suspirei, resignada, e peguei os benditos lenços antes de voltar a me examinar no espelhinho.

Acho que normalmente não estaria tão rabugenta. São coisas que acontecem quando se está nervosa. E tem leite regurgitado no cabelo. E acabou um plantão de 48 horas com menos de duas horas de sono.

E era minha irmã que estava chegando.

Normalmente, isso não teria me deixado nervosa assim. Não fazia nem um mês que nos vimos no Natal e passamos uma madrugada fazendo biscoitos de gengibre que se tornaram um fracasso, ou que fingimos que a torta de noz-pecã da mamãe era comestível.

Mas Bella estava vindo para Forks de vez. Iria morar comigo e nosso pai. Terminar o Ensino Médio ali. Então talvez o fato dos meus ombros estarem tensos não tivesse nada haver com meu último plantão.

Por algum milagre, a fila andou. Alguém abriu o ralo e deixou escoar todos os carros que estavam parados ali há uma eternidade. E, numa sequência impressionante de dois milagres consecutivos, Charlie — meu pai — achou uma vaga bem rápido.

— Sabe, eu disse pra gente vir com meu carro. Tem gente olhando pra essa sua viatura — comentei, saindo do carro quase que num salto e reparando nos olhares direcionados para nós.

Charlie emitiu algo entre um riso e uma tosse.

— Acho que não estão olhando pra viatura — ele apontou com o queixo para mim.

Olhei para baixo.

Estava de jaleco. E tinha uma mancha suspeita nele que nem eu sabia do que era.

Bufei, tirei-o e enfiei no carro antes de agarrar meu pai pela mão. 

— Vamos.

Comecei a puxá-lo pelo estacionamento. Ele riu e protestou ao mesmo tempo.

— Ei, ei, gatinha! — ele teve que desviar de um casal que empurrava um carrinho cheio de malas. — Um pouco de calma, eu sou velho...

— Está na flor da idade, Chefe Swan.

— Na flor da meia-idade, você quis dizer...

Abri meu melhor sorrisinho inocente para ele e dei de ombros.

O aeroporto de Port Angeles era uma coisinha minúscula. Nem os aviões que pousavam lá tinham o tamanho normal. Geralmente eram todos pequenos e vinham do aeroporto de Seattle. Essa ponte aérea era a única rota para chegar à Forks ou outras cidadezinhas por perto.

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