Mil milhas em direção ao fundo do mar
Eu achei um lugar para descansar
Nunca me deixe partir
— Never Let Me Go; Florence + The Machine
Havia um anjo. Alto, loiro, mas distante. Não podia ver seu rosto direito. A luz atrás dele escurecia suas feições.Muitas vozes soavam o tempo todo, mas indistintas. Só um vozeiro alarmado, sem sentido. Pelo que estavam ansiosos? O que aquelas pessoas queriam? Onde estavam aquelas pessoas? Eu só via o anjo, mas estava longe de sentir desespero por isso. Era como se estivéssemos num mundo à parte, apenas eu e ele. O que quer que estivesse causando tanto alvoroço lá fora poderia esperar.
Tentei caminhar até ele, mas cada passo em sua direção só parecia me afastar. Ele estava ficando mais longe e não importava o que eu fizesse, não conseguia me aproximar.
O anjo estendeu os braços, mas eu estava fora de alcance.
— Você vai ficar bem — ele prometeu. Sua voz era estranha, como se eu o escutasse debaixo d’água. — Você vai ficar bem. Por favor, não morra, por favor…
Ele pedia com tanta dor, tanta agonia, que eu apenas queria dizer que sim, ficaria bem. Assegurá-lo disso. Não podia deixar meu anjo sozinho.
— Eu te amo — ele falou.
Queria dizer o mesmo, fazê-lo ter certeza disso, mas minhas palavras não saíam. Eu abria a boca, mas o som morria antes de deixar meus lábios.
Ele estava tão longe…
• • •
A luz branca e forte me cegou. Pisquei, tentando me adaptar àquela claridade toda.
Tudo era desconfortável naquele quarto desconhecido. As luzes eram fortes demais, havia um bipe irritante partindo de algum lugar e a cama em que eu estava era dura e irregular. E tinha grades.
Além disso, todo o meu corpo doía. Assim que inspirei, senti uma pontada forte na lateral do corpo e não ousei me mover. Mesmo parada eu sentia as pontadas. No abdômen, na perna… Minha cabeça também doía.
Tinha algo preso em meu rosto. Tubos. Ali, na minha mão… E algo mais. Pesado, frio.
Duas mãos pálidas cobriam a minha. Seguravam não com força, mas firmeza e cuidado. Como uma peça de vidro. Se soltasse, acabaria quebrando.
Segui com os olhos os contornos das mãos, os braços, até chegar nas curvas douradas de cabelos loiros. Um rosto que eu não via por inteiro, estava com a testa encostada na cama. Mas eu não precisava vê-lo por completo para reconhecê-lo. Eu o reconheceria de olhos fechados, no escuro, se não pudesse tocá-lo ou ouvi-lo. Se só o que me tivesse restado fosse a sua presença do meu lado, eu saberia que era ele. Meu anjo.
Carlisle estava ajoelhado no chão ao lado da minha cama, seu rosto baixo, o corpo imóvel. E mais baixo que o zumbido ou os apitos dos aparelhos, eu o ouvia sussurrar. Tive que me esforçar para compreender o que estava falando, porque era rápido e quase inaudível para mim.
— … não permita que ela sofra por minha culpa. Se for seu desejo me punir pelo que sou, por favor, não use-a para tal. Se é tarde demais para a minha alma, não é para a dela. A alma dela é boa e pura e não merece todo esse sofrimento. Eu imploro, deixa-a viver. Não há penitência maior que vê-la sofrer, mas se me castigar é o que deseja, por favor não permita que ela seja o instrumento…
Levei algum tempo para entender o que ele estava fazendo, então meus olhos arderam das lágrimas que se formaram ali.
Ele estava rezando. Por mim.
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Sunlight
FanfictionHá anos Beatrice Swan mora com seu pai, em Forks, afastada da mãe e da irmã mais nova. Ela não faz ideia dos mistérios e dos segredos que se escondem na cidade e em alguns de seus habitantes, até a chegada de sua irmã trazer consigo algumas reviravo...