alguns sentimentos
nunca foram embora,
como um eco
que sempre
volta.
— v e n t u mTrês vezes. Por três vezes o sol nasceu e se pôs. Sexta, sábado, domingo.
E eu segui esperando.
No caminho de volta para casa. À noite, quando tentava retardar o sono inevitável com filmes que me levavam madrugada adentro. No hospital, quando olhos castanhos se cruzavam com olhos de cobre. Meu final de semana foi preenchido pela espera, o tique-taque do relógio transformando-se nas batidas do meu coração.
E o celular era uma presença quase que fantasmagórica ao meu lado. Sobre o sofá ou uma mesa, a sensação era que haviam olhos me espreitando quando eu não o estava observando.
Pega, ele sussurrava. Dê uma olhada. Uma olhadinha, só.
E é claro que eu olhei. Mais vezes do que gostaria de admitir. Peguei o aparelho e torci para aquele ser o momento em que ele vibraria com a notificação. Nunca era.
No quarto nascer do sol, eu estava exatamente onde estivera nos últimos. Minhas costas doíam e meu pescoço estava travado. Na televisão, o filme que eu adormecera vendo fora substituído por um jornal matinal com apresentadores alegres demais para a hora indicada.
Sentei, esticando as costas até ouvir pequenos estalidos, e grunhindo com cada movimento. Olhei ao redor porque parte da minha cabeça ainda não apreendera que estava em casa. Essa parte ainda se situava em um sonho estranho com muito verde, no meio da floresta, e toques de ouro e vermelho. E um sorriso belo e cruel.
Carlisle.
Era sempre ele, ultimamente, permeando as bordas da minha visão e ameaçando se instalar ali toda vez que fechava os olhos por um segundo a mais. Eu podia ouvi-lo, embora sua voz na minha cabeça nunca chegasse perto da realidade conhecida. Eu não podia replicá-lo à perfeição. E Deus sabia que minha mente tentava.
Esfreguei o rosto e me forcei a ficar de pé, arrastando-me para a cozinha em busca da amada cafeína.
Em casa. Eu estava em casa. Nada de sonhos psicodélicos e cheios de insinuações sem sentido. Aquela era a realidade.
E uma realidade muito quieta.
Olhei de novo para a hora que a televisão acusava, então espiei pela janela. A viatura de Charlie se fora, mas a picape de Bella ainda estava parada ao lado do meu carro.
Hm.
Fiz o café enquanto mordiscava uma torrada pronta. Estava mais para biscoito que torrada, na verdade, mas era o que dizia a embalagem.
Os dias estavam ficando mais claros e o sol pouco a pouco ganhava força. Parei sob um feixe de luz que invadia a cozinha, sentindo o comichão caloroso se espalhar pela pele ao fazê-lo. Esses dias nunca duravam por muito tempo naquela época do ano e seria preciso esperar o verão para que o sol voltasse de vez, mas era uma boa prévia.
Sempre preferi muito mais a versão de sol e calor de Forks que a de Phoenix. Não me fazia querer morrer toda vez que saía na rua, muito menos dava a sensação que poderia derreter a sola dos sapatos se pisasse no asfalto. Era quente na medida certa, com brisas recorrentes.
Servi duas xícaras de café — além da picape, o casaco de Bella jazia pendurado perto da porta e ela era do tipo que sentia frio até num dia daqueles — e subi as escadas. A tarefa agora era muito mais fácil, uma vez tendo me livrado do maldito gesso dias antes, mas meu pé parecia leve demais.
Bati na porta da minha irmã. Sem resposta. Tentei de novo, mas o silêncio persistiu.
Equilibrando as duas xícaras, consegui abrir a porta e encontrar Bella dormindo profundamente. Ela tinha se enroscado no cobertor de tal forma que era difícil saber onde ela começava e ele terminava, mas havia uma perna para fora e um braço cobrindo seu rosto. O cabelo se espalhava pelo travesseiro como rios de chocolate.
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Sunlight
Fiksi PenggemarHá anos Beatrice Swan mora com seu pai, em Forks, afastada da mãe e da irmã mais nova. Ela não faz ideia dos mistérios e dos segredos que se escondem na cidade e em alguns de seus habitantes, até a chegada de sua irmã trazer consigo algumas reviravo...