2 - O início

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Apenas lembre que no silêncio eu ainda estou com você. Estou bem aqui.
Como um sussurro cujo som já desapareceu, mas cuja verdade permanece.
JmStorm

Não foi surpresa nenhuma que tenha chovido a noite inteira. Na verdade, eu tinha me acostumado com isso. Gostava do barulho, de me enterrar sob três camadas de cobertor e ouvir a leitura de algum mistério no CD player.

A parte ruim era quando tinham trovões. E claro que, considerando meu estado de cansaço, a noite foi repleta deles… E eu acordei mais vezes do que podia lembrar.

Quando desci para o café da manhã, estava à beira de me atrasar para o trabalho, Charlie já tinha saído e Bella estava na cozinha, se armando com botas e uma capa de chuva.

— Já vai? — perguntei, vasculhando os armários pela opção mais rápida de café da manhã.

— Ainda tenho que passar na secretaria e pegar meus horários — ela fez um esforço para colocar a bota que seria facilmenre resolvido só… Abrindo-a propriamente. — Não quero chegar atrasada.

— E sabe chegar na escola direitinho? — decidi que café solúvel seria a mais viável e comecei a esquentar água.

Bella deu uma trégua em sua batalha contra a bota e me encarou como se, de repente, eu tivesse crescido chifres.

— Só tem uma escola de Ensino Médio na cidade inteira… Eu confio que posso achar.

Ri.

— Tem razão. Quebre a perna, então!

Ela, que finalmente conseguiu calçar a bota, ergueu os braços, exasperada.

Meu riso foi meio engasgado dessa vez.

— É, ok, desculpa. Só boa sorte já está de bom tamanho.

— Muito bom tamanho.

Ela se colocou de pé depressa — e vacilou um pouco no equilíbrio por conta disso — e fez uma careta ao olhar para a sala. Segui seu olhar, parando nas nossas fotos acima da lareira. Fotos nossas nas fases mais embaraçosas da pré-adolescência.

Bella só balançou a cabeça pra tudo aquilo, se despediu de mim e saiu com uma cautela apressada que era um tanto cômica.

Sua picape rugiu ao ser ligada e continuei a ouvir o barulho até pouco depois dela já ter desaparecido. Imaginei que os vizinhos agora teriam um novo despertador… E logo depois me perguntei quanto tempo levaria para recebermos uma reclamação por perturbação da paz.

Tomei o café as pressas e ele desceu queimando minha garganta, mas não tinha tempo de me ater àquilo no momento. Joguei a bolsa sobre o ombro, agarrei o jaleco e calcei os sapatos e saí para o chuvisco naquela manhã sabendo muito bem que não estava levando uma capa ou um guarda-chuva, mas torcendo para não precisar porque o que antes era um "quase atraso", se tornara um atraso de verdade.

Como a maioria dos prédios importantes de Forks, o hospital ficava perto da rodovia principal da cidade. Não era muito longe de casa e, na verdade, parecia uma casa.

Não era como aqueles hospitais de cidades grandes que eram grandes blocos brancos, cheios de vidro e frios. Não, o hospital de Forks parecia uma casa suburbana de um só andar que fora esticada demais. Tinha telhas e o telhado triangular típico da maioria das casas da cidade e as paredes externas eram de madeira clara.

Infelizmente, todas as boas vagas haviam sido ocupadas, me deixando para estacionar bem longe da entrada. Suspirei e saí correndo depressa para não pegar muito do chuvisco e evitar mais atraso.

Dentro do prédio não era exatamente quente. Ainda havia o ar-condicionado típico dos hospitais, mas não estava tão frio quanto lá fora.

Enfiei o jaleco pelos braços e "caminhei-corri" pelos corredores, procurando a minha residente responsável, Dra. Jenkins, e os outros internos da equipe.

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