24 - Aurora

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Certa vez tive milhares de desejos,
Mas em meu único desejo de te conhecer,
Todo o resto se desfez.
— Jalal al-Din Rumi

Nos sentamos juntos na relva à beira do rio. Era uma descida meio íngreme até a sua margem, então ficamos à certa distância com a grama fazendo cócegas na minha pele.

Carlisle meio deitado, apoiado sobre um cotovelo, deslizava a mão sob a manga de minha blusa e os dedos sobre meu braço, traçando padrões de modo inebriante. Minha cabeça descansava sobre a terra mesmo e eu fechara os olhos, deixando que sua voz fosse o foco dos meus pensamentos, que fosse o que me prendia à realidade naquele cenário tão idílico. Carlisle sussurrava uma música desconhecida, tão baixo que eu não reconhecia suas palavras; parecia estar apenas suspirando, mas soava como um sino dos ventos soprando suavemente.

— O que quer saber primeiro? — perguntou.

Tinham muitas coisas, muitas mesmo. Nem sabia escolher o que mais me intrigava, então falei a primeira coisa que me veio à mente.

— Quantos anos você tem?

Tudo ficou bem quieto. Eu ainda ouvia o rio fluindo próximo dali, sentia a grama se mexendo, mas os dedos de Carlisle ficaram bem parados. Um peso frio em meu braço. Seus sussurros cessaram. Abri os olhos, encontrando-o muito sério.

— Isso pode te alarmar.

Estendi o braço, levando os dedos até o rosto de Carlisle. Ele fechou os olhos e sua cabeça pendeu para o meu toque, descansando sobre a minha mão. Eu entendia, claro, que tipo de choque ele estava esperando. Mas faria alguma diferença naquele momento quantos anos de uma eternidade ele tivesse? Talvez eu tivesse surtado um pouco antes, no momento errado uma coisa daquelas podia mesmo me alarmar, mas no presente?

— Eu quero saber — sussurrei, percorrendo os dedos pelas ondas loiras dele. — Prometo que vou ficar bem aqui.

O riso de Carlisle foi um tanto sarcástico.

— Não sei se esse é o tipo de promessa que você deveria fazer.

Franzi o cenho.

— Não quer que eu fique?

Ele balançou a cabeça, então a tombou para trás. Minha mão caiu, inerte, sobre a grama.

— É mais complicado que isso.

Bufei.

— Achei que já tivéssemos passado pelas coisas complicadas.

Carlisle pegou minha mão e a observou como se ali tivesse um segredo que eu não enxergava. Pouco depois, seus olhos subiram para os meus. Profundos, quase doloridos.

— Sempre vai ser complicado entre nós dois.

Eu entendia parte disso. Não havia “felizes para sempre” naquele caso. Não havia o “para sempre” para mim. Algum dia, em sessenta ou setenta anos, seria meu último dia. E em algum dia antes disso, eu seria velha o suficiente para que, ao nos verem na rua, não considerassem que podíamos ser um casal. E antes mesmo disso, Forks iria notar que o tempo não passava para aquela família de olhos dourados. E eles teriam que ir embora. Eu não sabia quanto tempo tinha antes disso. Para onde eles iriam? Eu poderia ir junto? Carlisle iria me querer quando me confundissem com a sua mãe?

Uma lágrima idiota escapou dos meus olhos, mas ele a secou antes que terminasse de rolar por meu rosto.

— Shhh — murmurou. — Por favor, não chore…

Mas aquela primeira lágrima foi apenas o prenúncio das outras, que chegavam lentamente, uma após a outra, molhando minhas bochechas. Carlisle me puxou para junto de si e de alguma forma parecia que encaixávamos perfeitamente. Como que moldados um para o outro, exatamente para aquilo. Seus braços em volta de mim, minha cabeça em seu ombro, seu queixo repousando em meu cabelo.

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