7 - Crença

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Eu quero que acredite… Acredite em coisas que não pode. 
— Bram Stoker

Eu estava em uma floresta.

Completamente sozinha, eu gritava por alguém. Estava perdida. Chovia muito. Eu tremia de frio.

Vagava sem rumo, desviando de árvores e tentando não tropeçar em pedras ou escorregar na lama. Levava um susto com cada trovão. 

Depois de algum tempo caminhando, alcancei uma campina. Não era grande e eu enxergava bem o outro lado, a delimitação das árvores antes que elas voltassem a se agrupar na mata fechada.

E ali, entre duas delas, cenho franzido, estava Carlisle.

De novo, ele estava glorioso. E mesmo de longe, me estendeu sua mão.

— Pode confiar em mim? — falou, alto e claro.

Era um pedido tão simples… E eu queria alcançá-lo. Dei um passo à frente. E mais outro. No terceiro, porém, tive dificuldade em erguer o pé.

Olhei para baixo. Nada me impedia, meu pé apenas se tornara muito pesado.

Continuei mesmo assim.

Um passo, depois o outro… E o outro pé também se tornou difícil de erguer.

A caminhada era árdua, mas nem por isso desisti.

Consegui mais alguns passos até que minhas pernas também começaram a pesar. E quanto mais eu andava, mais difícil isso se tornava. Estava na metade do caminho, mas não conseguia me mover mais. Meus pés não saíam do chão, sequer podia mover a cintura e tentei esticar a mão para Carlisle. Meus braços pareciam feitos de pedra…

"Me ajude!", quis gritar… Mas nem isso consegui.

. . .

Acordei com alguém me sacudindo.

Eu estava tremendo de frio. A roupa molhada secara no meu corpo e não me cobri ao deitar. Lembrei de que ia tomar banho quando chegasse…

— Tris… Tris… — a voz de Charlie sussurrou.

Gemi, abrindo os olhos só o suficiente pra discernir o rosto preocupado dele e logo depois, fechando.

— Você está queimando de febre, Tris.

Funguei e me encolhi. Meu corpo todo doía e o pé com o gesso pendia, pesado, para fora da cama.

Ouvi passos se afastando. Ligaram a luz do meu quarto. Vozes apressadas. Algo sendo revirado.

— Levanta, toma isso aqui — Charlie falou ao voltar.

Nem abri os olhos.

Sentei com dificuldade na cama e abri a boca. Ele colocou um comprimido ali e senti quando a cerâmica fria de uma caneca foi depositada em minha mão. Bebi a água e engoli o comprimido e estendi a caneca para o ar.

Ela foi tirada da minha mão e ouvi quando pousou na mesa de cabeceira. Logo depois, Charlie estava tentando me levantar da cama, passando meu braço por seu ombro e fazendo algumas tentativas meio toscas de me pôr de pé.

Eu queria ajudar e fazer tudo aquilo, queria mesmo, mas estava mole e tinha ciência de cada junta do meu corpo, latejando e me implorando para ficar quieta.

Resmunguei quando ele tirou minha jaqueta e, por fim, suspirou vencido.

— Pode tirar essa roupa? Ainda está molhada nas costas e você só vai piorar.

Assenti, meio débil, e esperei ouvir a porta fechar para fazer o trabalho.

Tinha certeza de que me movia como um zumbi. Me arrastava pelo quarto, jogando as roupas usadas na cama e vasculhando pela coisa mais quentinha e confortável no armário. 

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