13 - Hesitação

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Muitos de nós não estamos vivendo nossos sonhos
porque estamos vivendo nossos medos.
Les Brown

Quando abri os olhos, não acreditei no que via.

Primeiro, que havia um trechinho de azul no meio das nuvens no céu…

Segundo, que o dia anterior ainda me parecia um sonho… E eu queria ter ficado lá.

Se fechasse os olhos, ainda podia jurar sentir Carlisle bem próximo à mim e seus dedos traçando meu rosto lentamente. Só que, ao abri-los, o que se tornava presente era o peso em meu estômago. Como se houvessem pedras lá dentro e alguém sem empatia alguma as balançava para me deixar mal.

Isso, também, junto do diabinho em meu ombro me perguntando se o dia anterior valera à pena se eu teria que ver Carlisle novamente e lidar com tudo o que não fora feito ou dito.

O anjinho havia se retirado, claro. Ele não queria ver o desastre.

Sentei na cama, esfregando o rosto. Todo esse delírio só podia ser o sono ainda impregnado em mim e eu me recusava a ficar me remoendo e martirizando desse jeito.

Seria o que tivesse que ser. Eu não poderia ter sido mais clara do que fora naquela tarde, muito menos Carlisle. Se eu fosse me agarrar em alguma coisa, seria no fato de que, muito aparentemente, ele me queria também.

Respirei fundo e o sorrisinho que surgiu foi totalmente involuntário. Tentei lutar contra, mas um segundo depois ele estava lá de novo.

— Pare de agir como besta — murmurei para mim mesma ao ficar de pé.

Uma olhada para o relógio ao lado da cama já dizia: eu acordara cedo demais. Ainda havia um bom tempo antes que Leah aparecesse para me buscar e certamente eu era a única acordada em casa.

Dito e feito.

Desci a escada ainda de pijama, apenas para encontrar o silêncio e o ar frio me esperando lá embaixo. Se nem Charlie estava acordado, isso já dizia algo sobre a minha última noite de sono.

Queria poder voltar e dormir mais um pouco, mas uma vez desperta minha mente já estava trabalhando em mil hipóteses para aquele dia e empurrar todas elas para trás demandava certo esforço.

Era melhor, então, que eu me suprisse de café o suficiente para não dormir na emergência. E já que tinha tempo, não havia porque não fazer uma primeira refeição diária digna.

Uma breve olhada na cozinha denunciou que não havia muito a ser feito, mas não desisti. Abri os armários, buscando qualquer coisa, e descobri que tínhamos leite e farinha suficientes para fazer alguns waffles.

Perfeito.

Comecei a gingar pela cozinha, me balançando ao ritmo de uma música que cantarolava enquanto pegava os demais ingredientes e fazia uma nota mental também de ir no mercado em breve.

A música era uma combinação estranha de pequenos pedaços da letra que eu me lembrava e muitos murmúrios para preencher as partes em que eu não fazia ideia das palavras. Há algum tempo eu a escutara no rádio com Leah e agora ela decidira voltar para grudar na minha cabeça como chiclete.

Acabei fazendo mais massa do que pretendia e deu muito mais waffles do que o esperado. Enquanto me preparava para assar mais alguns na nossa pequena maquininha para tal, ouvi uns barulhos no andar de cima e — certo tempo depois— então na escada.

— Você de pé?

— Chefe Swan, acho melhor tirar esse tom de descrença da voz, ou eu vou ficar ofendida.

Charlie desceu já vestido para o trabalho, com uma de suas muitas camisas de flanela xadrez por baixo do colete da polícia. Só lhe faltava o cinto, que ele deixava perto da porta.

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