17 - Iluminar

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Conte-me algo que eu possa explicar
Eu vou apagar as luzes e você tranca as portas
Conte-me todas as coisas que você não podia antes
Não se afaste, não revire os olhos
Eles dizem que o amor é dor, então, querida, vamos nos machucar essa noite
— Let’s Hurt Tonight; OneRepublic

Eu estava enferrujada. Detestava admitir isso, mas estava. Era meu primeiro dia de trabalho depois de ter tirado o gesso e eu não me lembrava de andar tanto antes. Bom, talvez eu não andasse mesmo… Tinha a leve suspeita de que a Dra. Jenkins estava tentando me colocar em forma de novo ou me punir. Algo do tipo. De qualquer forma, ela me designara no “carteira”. Um apelido bonitinho que apenas queria dizer que eu passei minhas primeiras 16 horas de plantão basicamente andando de um lado para o outro do hospital, pegando e pedindo exames, radiografias e ocasionais cafézinhos para minha residente.

Não haviam pausas, não havia descanso. Toda vez que eu pensava que poderia me escorar numa parede ou sentar numa maca para aliviar meus pés latejantes, meu pager apitava com outro pedido.

O hospital de Forks não era um hospital movimentado. A calma geralmente reinava no local, mas obviamente um surto viral eclodira nas crianças da cidade no dia em que a Jenkins me designara para aquele trabalho. Ao menos eu não estava encarregada do bebê que Patrick estava cuidando. Não sabia qual o problema da pobre criança internada, mas nas três vezes em que cruzei com Patrick pelos corredores, ele estava com uma nova mancha de vômito no uniforme.

É, ser “carteira” tinha suas vantagens.

Sequei o suor da testa e soprei para longe os fios que escapavam do meu coque, apoiando a cabeça na parede e me permitindo escorregar um pouquinho para aliviar o peso nas pernas de ter passado praticamente o dia todo de pé. Fechei os olhos por um momento e…

— Aqui, seus exames — Asher bateu no vidro e deslizou para fora as três folhas que eu lhe pedira.

Abri os olhos, assustada, com a impressão de ter cochilado ao mesmo tempo de ter a sensação que apenas um segundo havia se passado.

Esfreguei o rosto e estiquei a coluna, ouvindo os estalidos que se seguiram e peguei os exames. Tudo no meu corpo pesava. Meus olhos, meus braços, minhas costas, minhas pernas…

— Quem é a sua residente?

Precisei de um segundo a mais para registrar a pergunta de Asher.

— A General.

Ele fez uma careta.

— Ela tá te judiando, cara.

— Nem me fala…

Meu pager apitou. Um recado da Jenkins, pedindo para que a encontrasse na emergência. Olhei a hora no relógio que usava. Passava pouco da meia-noite… Suspirei. Mais oito horas ainda.

— Me deseje sorte — murmurei e saí apressada, os sapatos fazendo um barulhinho irritante no linóleo enquanto ficava no limite entre um caminhar rápido e uma corrida.

A Dra. Jenkins se encontrava no balcão da emergência, assinando um prontuário antes de colocá-lo numa pilha junto dos outros. Ela clicou a caneta com força antes de colocá-la no bolso do jaleco e seu olhar intenso se virar na minha direção. Apressei um pouquinho mais o passo.

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