21 - Tensão

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Você não pode encontrar a paz evitando a vida.
— Virginia Woolf

Minhas horas até sábado foram passadas tentando me convencer a não desistir do que tinha em mente. Se desistisse, aquela ansiedade nunca teria fim. Eu precisava da paz de uma conclusão. Qualquer que ela fosse. Mas estava óbvio que o caminho até lá não seria tão fácil.

Tentei falar com Bella quando cheguei em casa, mas ela estava evasiva. Tinha coisas a fazer e me pedia para postergar o que quer que eu tivesse a dizer e eu não era boba. Ela apenas não queria me ouvir. E eu só podia julgar que era porque qualquer opinião que ela tivesse sobre os Cullen no momento não estava em concordância com o que ela supunha que eu pensava. E, para ser sincera, ela estava certa. Eu demorava a pegar no sono, me perguntando o que exatamente fazer, o que sentir numa situação daquelas… E observava tudo parecer absurdamente fácil para ela.

Para Bella, minha irmã mais nova que dava dois laços no sapato para ter certeza de que não iriam desamarrar e levava um casaco consigo para todo lugar, só para o caso de um frio inesperado surgir. Ela tinha sido a mais cautelosa de nós desde que eu podia me lembrar. Quando que houvera aquela inversão de papéis? Que momento eu havia perdido para estar vendo minha irmã ser tão enlevada pelo perigo?

Eu me preocupava com ela tanto quanto comigo. Talvez mais, já que seu senso parecia ter voado com o vento.

Mas ela seguiu me evitando durante aqueles dias.

Quinta-feira tivemos uma visita estranha.

Abri a porta de casa, sacudindo a chuva do cabelo e das roupas e sentindo os ombros tensos. Eu não falara com Carlisle durante aquele dia e apesar dele parecer muito ocupado em todas as vezes que o vi, ainda esperava que aparecesse de surpresa para arrebatar meu coração e falar comigo. E eu sabia que minha coragem era uma coisinha frágil e insignificante, então estava me agarrando nela com tanta força para evitar desistir do meu plano que só em casa pude sentir os músculos tensionando.

— Ora, olá, Tris — uma voz grave e ressoante falou.

Ergui os olhos, surpresa com a familiaridade.

— Billy?

Ele estava sentado no sofá com Charlie, a cadeira de rodas estacionada por perto. Bella e Jacob estavam cada um empoleirados em uma poltrona e pela postura, estavam conversando antes da minha chegada. Haviam sanduíches de queijo grelhado sobre a mesa de centro e um jogo de basquete passava na TV.

— Viemos assistir o jogo — Jacob explicou, quase girando o pescoço para falar comigo, mas sem se mover da sua posição de total atenção à Bella. — Nossa TV quebrou.

— Ah… — franzi o cenho, tirando a primeira camada de casacos que usava.

Que estranho. Pelo que eu lembrava, Billy e Charlie estavam meio brigados… Sobre algo haver com os Cullen. Claro.

Semicerrei os olhos para aquela cena. Billy acenou para mim, um sorrisinho em seu rosto sábio. Ele sabia. Não tinha dúvidas que ele sabia. E não apenas dos Cullen. Ele sabia de Bella e eu. Estava estampado ali.

— Hm — ergui o queixo. — Tudo bem, então. Eu vou subir, tenho que estudar.

— Não quer um sanduíche? — Bella ofereceu, um olhar de súplica para que eu lhe tirasse daquele ambiente cheio de comentários sobre basquete regados a cerveja.

— Não, orbigada.

Ela tinha Jacob, ia sobreviver. E eu realmente precisava estudar para a prova dos internos.

Subi e me tranquei no quarto, aconchegando-me diante da escrivaninha com roupas secas e muitas anotações acumuladas para passar a limpo. Eu não andava focando muito nos estudos ou no próprio trabalho e descobri que era mais fácil me jogar naquilo do que tentar buscar refúgio em outra coisa.

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