15 - Incertezas

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Só porque eu carrego isso bem, não significa que não seja pesado.
desconhecido

— Eu ainda não acredito que eles fizeram isso.

— Está tudo bem.

— Não, está passando dos limites. Eu tenho que falar.

— Leah, se alguém deve resolver alguma coisa é ele e ele não me pareceu disposto a mexer com isso.

Eu estava em casa, deitada na cama com a cabeça pendurada para baixo. Fazia certo tempo desde que chegara, mas estava evitando o que na verdade mais queria fazer.

Tomei um bom banho e requentei a comida que estava no fogão. Tinha ficado na rua até escurecer, sem carona para voltar para casa. Os Clearwater disseram que me levariam, então os esperei terminar o trabalho do dia.

Não foi de todo ruim, embora eu sentisse mais como se meu corpo se movesse sem consciência do que como se eu estivesse lá. Minha mente estava longe, pensando em cabelos loiros e olhos de bronze. A tristeza neles da última vez que os vi ficara gravada nos meus pensamentos.

Seth tentou seu melhor para me animar. Dividiu comigo um sanduíche de frango e tagarelou sobre a escola enquanto eu o ajudava a decorar a estrutura da barraca com fitas. Já Harry me evitava como a praga e Sue constantemente me observava com preocupação e afagava minhas costas ao passar por mim.

“Está tudo bem agora.”, dizia.

Mas estava mesmo? Não era justo. Eu não podia conceber razão para aquela reação com Carlisle e eles claramente estavam tentando evitar o tópico. Até mesmo Seth quando lhe perguntei o que fora tudo aquilo apenas se limitou a me dizer para não dar atenção.

Aquilo ficou martelando em mim, me corroendo até chegar em casa.

Não demorou para Leah me ligar. Com certeza, seus pais haviam chegado em casa e contado do ocorrido para ela, que então me ligou para pedir desculpas e foi apenas quando ela falou sobre seus pais estarem muito preocupadas com certas lendas, foi que as peças se encaixaram.

Fazia quase uma semana que Leah estivera ali, na casa de Charlie, me contando uma lenda sobre lobos e frios que de algum modo envolvia os Cullen. Ela desdenhou da história e a catalogou apenas como uma crendice dos mais velhos da tribo e eu me apeguei em sua explicação. Claro, porque não fazia sentido — não havia como Carlisle estar vivo há setenta anos —, mas também porque eu não queria que fizesse.

Agora, com a reação de Carlisle diante da represália de Harry, tudo se embaralhava na minha mente como peças de um quebra-cabeças complexo demais.

“Ele sabe o que está fazendo.”

E, pelo olhar de Carlisle, sabia mesmo. Ele me parecera culpado assim que o vi, mas culpado de quê?

A teoria de Leah fora que um Cullen — possivelmente parente dele — tivera problemas com os quileutes do passado e isso os levou a guardar rancor por décadas. Mas o que poderia fazer aquela raiva perdurar por tanto tempo? E que culpa era aquela, que teria sido transmitida por gerações?

Eu estava ficando tonta, mas não sabia se por conta da confusão que o dia se tornara ou pela minha posição.

Sentei-me na cama, esfregando a testa, e meus olhos foram de encontro ao número de telefone que Carlisle escrevera no meu gesso.

— Leah, acho que preciso dormir um pouco — disse. Ela estivera tagarelando com furor, mas eu não estava dando ouvidos.

Ela não protestou. Me desejou uma boa noite e concordou com um suspiro quando lhe pedi para ter calma e não brigar com os pais.

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