31 - O fim

578 58 26
                                    

Nada termina poeticamente. Termina e nós transformamos em poesia. Todo aquele sangue nunca foi bonito. Era apenas vermelho.
— Kait Rokowski

 

Deixei Bella no quarto para escrever a carta que queria para Renée. Não sabia se devia fazer o mesmo mas, no final das contas, acho que não tinha muito o que lhe dizer. Não que valhesse a pena colocar em uma carta de despedida. Bella com certeza faria um trabalho melhor.

Assim, voltei para a sala sem ideia de como agir naquelas horas que nos restavam. Quatro horas podia parecer um tempo pequeno para esperar por Carlisle depois do tanto que já ficara trancada naquele quarto, mas saber exatamente quando aquilo teria fim parecia só arrastar essa conclusão. Como se o tempo tivesse decidido passar mais devagar.

Mas assim que cheguei na sala, a surpresa da cena que encontrei abafou um pouco a ansiedade. Alice estava curvada sobre a mesa, agarrando-se na beira com as duas mãos. Seus olhos distantes, vislumbrando o futuro, estavam marcados pelo terror.

— Alice?

Corri para o lado dela. Não sabia se devia tocá-la, sacudi-la… Uma vez tinha ouvido sobre porque não se deveria acordar um sonâmbulo. Será que podia interromper um vidente?

Sua cabeça virou lentamente em minha direção, mas era bem óbvio que ela não estava me vendo de verdade.

Todas as possibilidades para seu horror me perpassaram em questão de segundos. James iria pegar Charlie. Leah. Bella. Carlisle. Eu. Para cada um eu conseguia imaginar diversos finais terríveis. Sangue. Fogo. Tortura.

— Alice!

Em um segundo Jasper não estava ali. No outro, suas mãos estavam segurando as de Alice. A porta da sala fechou-se.

— O que é? — perguntou ele.

Ela desviou os olhos de mim, olhando o peito dele.

— Bella — disse.

— Eu estou aqui.

Minha irmã estava sob o batente da porta do quarto, olhos arregalados para aquela cena toda. Mas Alice não a estava chamando, estava falando com Jasper. Era minha irmã quem ela vira em qualquer que fosse a visão que tivera.

Cruzei o espaço entre nós, passando pelo sofá e agarrando os ombros dela com força.

— O que você decidiu? — sacudi-a. — O que você decidiu?!

Bella franziu o cenho, mas seus olhos estavam vazios. Em branco, sem expressão. Ela os passou sobre mim como se o pânico que fervilhava em mim não fosse nada e os pousou em Alice.

— O que você viu?

Eu esperei a resposta, mas senti como se o mundo desacelerasse enquanto o fazia. Como se estivesse em um passeio de montanha-russa que chegava ao fim. O carro perdia a velocidade e a cabeça ficava leve.

Jasper estudava todas nós com atenção. De Alice para mim, então Bella. Alice. Eu. Bella. Alice de novo…

E ela se aprumou, erguendo o queixo.

— Na verdade, nada — respondeu por fim, sua voz extraordinariamente calma. — Só a mesma sala de sempre.

Virei a cabeça tão rápido para ela que meu pescoço estalou.

Nada.

Como assim nada?

Eu vi. Sabia que tinha visto. Nos olhos dela… Aquele tipo de terror não é nada.

Mas quando seus olhos se fixaram em Bella — que eu ainda segurava pelos ombros —, não havia uma sombra de dúvida. Nenhum futuro sombrio espreitando. Apenas tranquilidade e segurança.

SunlightOnde histórias criam vida. Descubra agora