26 - O jogo

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Não é engraçado como
dia após dia
nada muda
mas quando você olha para trás
tudo está diferente?
— C. S. Lewis


Eventualmente me lembrei que deveria trocar de roupa também. A blusa que estava provavelmente me faria passar frio à noite, então subi para o quarto, mas mal havia entrado ali e meu celular começou a tocar.

Eu não tinha ideia de quem poderia ser. Charlie raramente ligava e Carlisle estaria ali em breve, então franzi o cenho, mas fiquei mal assim que vi o nome na tela. Era Leah. Eu não falava com ela há dois dias, mas tanta coisa acontecera que mais pareciam anos. “Anos” e eu nem sequer cogitei que poderia ser ela me ligando. Grande amiga.

Atendi depressa.

— Finalmente — ela bufou do outro lado da linha. Provavelmente estava revirando os olhos também. — Eu passei a manhã te ligando.

Fiz uma careta. Amissíssima. Com certeza.

— Desculpa, Lee, mas eu saí essa manhã. Carlisle me levou para… — interrompi-me. Não era muito fácil explicar pra um leigo que um cara te levou para o meio da floresta. — Sair. É, nós saímos.

Ela xingou. Bem baixinho, mas xingou.

— Vocês estão finalmente juntos — não era uma pergunta, mas acho que de todas as pessoas, Leah não precisava mesmo perguntar.

Eu ri.

— É, estamos — abri o armário, inspecionando o que tinha ali. — Mas o que você queria dizer?

— Isso depois, eu não passei um mês assistindo a montanha-russa que foi vocês dois para não ter detalhes.

Ri de novo, mas dessa vez não era tanto de graça e sim nervosismo. Tirei algumas peças do armário.

— Ahn… Bom, nós fomos à Festa da Primavera — o que mais eu poderia dizer para ela? — E dançamos, conversamos… Nós, botamos as cartas na mesa, pra ser sincera. E ele me beijou. Na verdade, eu beijei ele, mas ele retribuiu, o que é bom.

Parecia ser uma boa edição dos fatos. Não era mentira, era só… A versão resumida. Os pontos interessantes. Omitindo, claro, talvez um dos mais cruciais, mas a parte mais importante estava ali: nós estávamos juntos.

— E quando você pretendia me contar uma coisa dessas?

Impedi-me de xingar. Peguei um suéter vinho largo que tinha, só precisava de algo para usar por baixo…

— Ahn… Amanhã. Pessoalmente, no hospital. Mas e você? — desviei o assunto depressa. Lá embaixo, o telefone estava tocando e ouvi quando Bella passou correndo para atender. — O que queria me dizer?

Leah não me ligaria para perguntar da minha vida amorosa — por mais que o assunto surgisse com frequência — e a isso eu lhe era grata.

— Ah. Sim — ela pigarreou, seu tom mudando imediatamente. — Bom, eu liguei para falar de sábado. Você sabe… — Leah baixu a voz para um sussurro. — A Camilla.

Eu não sabia. Eu tinha esquecido completamente. E quis enfiar minha cara em um buraco na terra por isso.

— Sim, sim — falei enquanto tirava a blusa antiga. — E como foi?

Ouvi uma porta fechando, depois o barulho de algo rangendo, então Leah suspirou profundamente.

— Eu não sei. Eu não… Sabia como agir — ela ficou algum tempo em silêncio. — Não é ela, sabe? Ela foi legal. O show foi divertido, mas… Não sei se sou eu, ou se é porque eu não faço isso há dois anos… Ou se é porque… — a voz dela foi morrendo.

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