20 - Convite

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nada nunca foi fácil
mas talvez essa fosse
a beleza disso
— Bridgett Devoue

Pelo restante do dia, agi como se caminhasse em uma corda bamba. Uma linha fina da qual minha sanidade dependia. Não ajudava que frequentemente minha mente se voltasse para Carlisle. Eu checava o celular, esperando que ele me avisasse que havia voltado para a cidade embora não tivesse prometido que o faria, e lembrava que no dia seguinte ele estaria no hospital e iria querer uma resposta.

E eu não sabia o que dizer.

Na verdade, toda vez que lembrava que cada minuto me aproximava mais da segunda-feira, meu estômago gelava. Em mim, desejo e desespero se misturavam até se tornar uma coisa só, indistinta. E foi por isso que quando acordei no dia seguinte, não pude ver o céu azul e claro como um bom presságio.

Estava até quente e as nuvens eram só fiapos de algodão. Nenhuma promessa de chuva no horizonte.

Eu até estaria feliz se não estivesse apavorada.

Quando cheguei no hospital, o carro preto, lustroso e chique de Carlisle não estava lá. Pensei que isso era bom, que teria algum tempo a mais para pensar em como agir quando o visse, e que tinha chances de só vê-lo durante o almoço.

Peguei minhas coisas e fui para dentro, onde alguém havia deixado o ar condicionado ainda mais frio e as meninas da recepção todas usavam os cabelos presos no alto. Não devia passar dos quinze graus, mas as pessoas estavam realmente animadas com o calor.

Antes que pudesse seguir para o vestiário, vi Leah parada na bancada, lendo alguns papéis.

— Bom dia — cumprimentei, cruzando os braços sobre o balcão e apoiando a cabeça ali.

Ela fez uma careta ao me ver.

— Você está pálida.

Dei-lhe um peteleco.

— Não fomos todos agraciados com a sua melanina — resmunguei.

Leah revirou os olhos e deixou seus papéis de lado.

— Não, eu estou falando que você parece pálida de doente. Juro, está quase verde. Não vai passar mal, né?

— Eu só dormi mal nos últimos dias. Ando… Pensando em muita coisa.

Ela tombou a cabeça, me examinando com aqueles olhos escuros espertos. Ela também estava com o cabelo preso, mas tinha feito duas tranças e as prendido como uma tiara sobre a cabeça.

— O quê? Mais problemas no paraíso com o Dr. Bonitão?

Ela sabia demais.

— É, mais ou menos isso.

Leah bufou e me sacudiu, fazendo-me levantar a cabeça e me agarrando pelos ombros.

— Ah, qual é, Tris? Qual pode ser o problema com aquele homem? Vai me dizer que é casado?

Eu não respondi porque não sabia o que responder. Não podia contar a verdade para Leah e, sendo sincera, talvez ela apenas risse da minha cara se eu contasse. Diria que estava vendo filmes de terror demais ou lendo muitos livros de ficção e que estava ficando maluca. O que… Era bom. Era bom ter Leah e seu ceticismo pra me lembrar que, apesar de tudo, ainda havia o lado normal da vida. Onde coisas como vampiros não existiam e ainda haviam coisas complicadas, mas de jeitos mais simples.

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