8 - Lendas

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Eu duvido; eu temo; eu penso coisas estranhas, as quais não ouso admitir para minha própria alma.
— Bram Stoker

Dava para sentir a tensão no ar nos dias que se seguiram.

Passei a semana enfiada na emergência, atendendo aqui e ali, mas principalmente desejando quebrar aquele gesso e fazer algo realmente importante.

Quando Carlisle passava, primeiro tive o instinto de me esconder no balcão. Não sei do que tinha vergonha, mas minha barriga gelava ao vê-lo e meu rosto esquentava e minha primeira reação era afundar na cadeira.

Depois, me convenci de que isso não fazia sentido. Eu tinha certeza do que vi. Se ele não queria dizer nada, fosse qual fosse o motivo, não era minha culpa. Então quando ele aparecia pela emergência ou nos víamos pelo hospital, mantinha a cabeça erguida e evitava ao máximo encará-lo.

Não ia deixá-lo distorcer minha convicção, por mais que sempre me surgisse a urgência de falar com ele e conversar — sobre tudo ou nada — quando o via.

Ocasionalmente, Leah aparecia. Ela me contava do que andava fazendo, fofocas do hospital, fofocas da reserva e me trazia café. Ela também continuou me levando para o hospital e de volta para casa, e na sexta, dormiu lá.

— Se tiver algum problema, posso ir pra casa, Sr. Swan — ela disse para Charlie enquanto tirava o casaco e o pendurava junto dos nossos.

— Sabe que pode me chamar de Charlie — ele abriu seu melhor sorriso gentil, mesmo surpreso com a visita não planejada. — O que tem aí?

Nós já tínhamos planejado aquilo de antemão um dia antes e Leah trouxera uma oferta de paz e um pedido de abrigo naquela noite de sexta: peixe frito do Harry Clearwater. Não parecia haver alguém em Forks que não conhecesse e Charlie amava. Deu para ver os olhos dele se iluminando quando ela lhe entregou o pacote.

Depois disso, foi fácil conseguir que ele deixasse Leah passar a noite.

Bella também gostou já que era o dia dela de fazer o jantar e não teve que ir para a cozinha. 

Quando todos já haviam comido, Leah e eu resolvemos lavar a louça juntas para mostrar serviço. Eu lavava, ela secava.

— O que houve com o Cullen? — Leah perguntou, abrindo o armário para guardar uns copos.

— Como? — não tirei os olhos do prato que estava ensaboando.

— Você estava claramente ficando amiga dele, então de um dia para o outro parece que os dois estão se evitando como o diabo evita a cruz — Leah deu de ombros. — Eu não sei, é que você não me fala dele, o que é mais estranho ainda.

Ela tinha razão.

Eu não tinha falado muito do Carlisle com ninguém, apenas com Bella, e nem fora grande coisa. Talvez fosse a parte do meu cérebro que estava se recusando a me apaixonar por ele, mas Leah sabia até dos meus beijos sórdidos na faculdade e dos romances sem significado.

Não sei porque não chegara a falar sobre isso direito com ela... Mas ao ouvi-la fazer menção, senti uma pontada. Como se aquilo fosse algo precioso e frágil, que eu guardava só para mim, e contar quebraria o encanto.

Então dei de ombros.

— Nos desentendemos — disse apenas.

Pelo canto de olho, vi Leah me encarar da mesma forma. Ela então respirou fundo, baixou o pano de prato e se virou para mim de braços cruzados.

— Beatrice — começou e eu sabia que se estava usando meu nome inteiro, era porque falava sério. —, desembucha.

Leah tinha um jeito tocante com as palavras... E eu a adorava assim.

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