14 - Clareza

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Eu olho para você e apenas te amo e isso me apavora. Me apavora o que eu faria por você.
Alexandra Bracken

Durante o resto do dia enfiada no meu posto na emergência fiquei ansiosa toda vez que via a porta abrir. Eu esperava que fosse Carlisle e ao mesmo tempo torcia para que não fosse. Como iria encará-lo mais tarde? Como ia entrar no carro dele e fingir que nada tinha acontecido?

O diabinho que amanhecera em meu ombro estava gostando muito do dia. Refestelava-se na minha angústia e ria.

Enquanto isso, eu não podia deixar de pensar na minha própria tolice. Me deixara crer que Carlisle estava mesmo afim de mim. Era óbvio que não era o caso. O que eu tinha de interessante, afinal, para ele? Ele, que era inteligente, rico e lindo… E galante… E misterioso…

Tentei achar Leah durante o almoço para conversar. Sobre aquilo ou qualquer outra coisa. Eu precisava falar. Tagarelar até que a ansiedade passasse. Mas não a encontrei. Mandei mensagem sobre minha carona, para a qual ela respondeu com várias carinhas felizes, mas a falta de mais mensagens me fez supor que ela estava presa com algum paciente.

Ao longo das horas que me restavam, o relógio pareceu trabalhar contra mim o tempo todo. Quando eu o observava, ele se movimentava numa lerdeza enfadonha. Quando me desviava para tratar de algo, os minutos voavam sem que eu me desse conta.

Foi assim que saí para reabastecer a emergência com gazes, linhas de sutura e algumas agulhas e voltei só para descobrir que meu turno acabara.

Senti-me gelada, estática.

Na minha cabeça, o fim do dia ainda estava distante. Mas ali estava ele, acenando diante de mim.

Fui para o vestiário tentando controlar meus passos. Quando me parecia rápida demais, fazia uma pausa e tentava retomar mais lentamente. Inevitavelmente, eu acabava voltando para o ritmo anterior e tinha que refazer o processo. Mas, sem que me desse conta, estava de volta à recepção e Carlisle encarava o estacionamento através da janela.

Em cada passo até ele pensei em só dar meia volta. Sair pelos fundos, chamar meu pai ou Bella ou qualquer um e ir embora. Seria a atitude mais covarde? Seria, claro. Mas quem iria me julgar além de mim mesma? Bom, talvez Leah…

Carlisle se virou quando eu estava prestes a me decidir pela covardia.

— Ah, oi — ele sorriu. — Pode ficar mais calma, hoje não vou ter que te carregar.

Olhei para fora, para o final de tarde mais claro que já vira nos últimos meses. Não havia sol, mas era algo.

— Ah, poxa, e eu que passei o dia todo torcendo por isso…

A piada surpreendeu a mim mesma. Por dentro, eu estava tremendo mas pelo menos minha voz soou confiante e animada.

Carlisle arqueou uma sobrancelha numa expressão cômica.

— Assim eu vou começar a ter esperanças…

Ele riu. Eu ri. Mas uma partezinha minha se questionou o quanto das palavras dele era piada. E o quanto das minhas próprias era.

Seguimos em silêncio então pelo estacionamento e lá ele abriu a porta do carro para mim. Fiquei tentada a dizer que não era necessário, mas ele sempre fazia isso. Tanto que eu não sabia se era por mim ou por hábito. No fim, não o contrariei. Entrei no carro e, depois, baixei o vidro quando Carlisle fez o mesmo.

Não havíamos saído da área do hospital quando ele falou.

— Sabe que nunca fui nessa festa? Nos meus dois anos aqui, nem uma vez.

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